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Perspectivas para a luta árabe-palestina a partir da América Latina em 2022

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"Podemos afirmar que a política brasileira precisa superar a 'teoria do empate' no que diz respeito aos temas da entidade sionista e o Apartheid perpetrado sobre o povo palestino
"Podemos afirmar que a política brasileira precisa superar a 'teoria do empate' no que diz respeito aos temas da entidade sionista e o Apartheid perpetrado sobre o povo palestino - Nelson Almeida
Qualquer governo que venha a assumir será pressionado evitar posições explícitas contra o Apartheid

Em geral, o momento de virada do ano no calendário gregoriano é de retrospectiva e mirada para os próximos doze meses. A produção jornalística já consagrou este subgênero e realmente há relevância em antecipar caminhos e possibilidades. No caso específico das relações latino-americanas com a libertação da Palestina e o conjunto dos territórios e países árabes e vizinhos sob o ataque sionista e cruzado, é preciso entender quais temas são os fundamentais. Neste artigo tomamos o exemplo do acionar do inimigo dentro das instituições brasileiras e generalizamos essa perspectiva em termos continentais.

A disputa pelo Poder Executivo no Brasil

2022 é o ano das eleições gerais no Brasil, o mais importante país da América Latina e o único com condições de gerar excedentes de poder e projetá-lo para outros continentes e em todo o Sistema Internacional. Neste sentido, podemos afirmar que a política brasileira, tal como a chilena, precisa superar a “teoria do empate” no que diz respeito aos temas da entidade sionista e o Apartheid perpetrado sobre o povo palestino. Diante das pré-candidaturas anunciadas, o atual presidente Jair Messias Bolsonaro (recentemente filiado ao PL), é o mais sionista dos candidatos. O ex-juiz Sergio Fernando Moro (recém-filiado ao Podemos), pelos seus vínculos explícitos com o Departamento de Justiça dos EUA se torna, de facto, apoiador incondicional do Estado Colonial.

É evidente que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além de ser o favorito da corrida presidencial (podendo ganhar até em primeiro turno), demonstrou por sua política externa quando fora presidente (2003-2010) e também com sua sucessora (Dilma Rousseff, de 2011 a 2016), uma inclinação pelo conceito clássico de Política Externa Independente (PEI) e relações Sul-Sul. Neste sentido, as relações com a Palestina e demais países árabes, além da relação com Irã e Turquia (potências regionais no Oeste da Ásia e Mundo Islâmico), eram muito frutíferas. O Brasil entrou como pilar de negociação das rodadas iniciais do acordo nuclear iraniano e ajudou em missões solidárias para a Palestina Ocupada. Com estas ações pregressas podemos tirar dois indicadores.

O primeiro indicador é a evidência que, em maior ou menor medida, dada a polarização e a aberrante “guerra cultural” promovida pela extrema direita, com a vitória de qualquer um dos três candidatos, a balança penderá mais para o invasor sionista (Bolsonaro e Moro) ou para o povo palestino (Lula). Levando em consideração a eleição de Lula, a segunda indicação é que o inimigo fará de tudo para hipotecar essa provável vitória nas urnas. Tal “hipoteca” seria afirmar o ditado popular: “ganhou, mas não levou”.

A provável vitória “hipotecada”

O Ministério das Relações Exteriores (MRE) é tão fundamental para o inimigo como o superministério da Economia é para os especuladores da Faria Lima e arredores. Um país soberano necessita tanto de uma política externa altiva como de fundamentos econômicos sólidos e produtivos. Infelizmente, a área econômica (antes do desgoverno de Bolsonaro dividida entre Planejamento, Fazenda e Indústria e Comércio) no Brasil vem sendo colonizada pelos parasitas financeiros, Banco Central incluído, desde a redemocratização. No período pós-golpe de 2016, a situação ficou ainda mais explícita e com Paulo Guedes como “pilar econômico” de Bolsonaro, não há mais meio termo.

No MRE, na tradicional pasta do Itamaraty também cavalgamos para essa situação explícita. O limite, além do ex-chanceler pária assumido, foi a tentativa de emplacar o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), apelidado de Bananinha pelo vice-presidente, que quase foi embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Entre a chancelaria brasileira e o gabinete da Presidência, tem outro posto-chave, o de assessor especial de assuntos internacionais. Tal posição, a mesma que já fora de intelectuais da envergadura de Marco Aurélio Garcia (1941-2017), é ocupada por um seguidor de Olavo de Carvalho e sujeito acusado de gesto supremacista no Congresso.

Quebrada a barreira da vergonha ou mesmo do pudor, tudo o que vier depois desse espetáculo de horrores será visto como “razoável”. A vitória da centro-esquerda poderá ser hipotecada em áreas-chave e em especial onde é possível conseguir muito apoio de instituições duvidosas – como as redes neopentecostais, sempre assustadas com a Receita Federal ou o comportamento duvidoso de seus pregadores. A relação direta entre a demagogia fantasiosa baseada em estranhas interpretações do Velho Testamento, a adesão à Teologia da Prosperidade e a defesa incondicional da entidade sionista e suas violações ao direito internacional consegue “popularizar” uma narrativa pró-Apartheid.

Logo, qualquer governo que venha a assumir, será pressionado pelo menos a manter a “teoria do empate” ou evitar posições explícitas contra o Apartheid na Palestina Ocupada de modo a não receber ataques que venham a diminuir o apoio presidencial, especialmente em seu primeiro ano de administração. Uma “sinalização” pelo “empate” pode ser na colocação de elementos de tipo “liberal-progressista”, mas leais ao sionismo e capazes de criar um proselitismo normalizador da ocupação.

A pressão política e a estrutura do Estado profundo

O sionismo terceirizou sua ação política através das bancadas neopentecostais e se alinha na extrema direita através das obscenas interpretações da “guerra cultural”. No Estado profundo, especialmente nos aparelhos policiais e repressivos, acordos como o que está em andamento no Congresso Nacional brasileiro revelam o poder do Apartheid ao oferecer sua “tecnologia de segurança” amplamente testada a partir de uma economia de guerra.

Portanto, a vitória eleitoral de qualquer tipo de “progressismo” latino-americano, além das posições neocoloniais e reacionárias da maior parte destas carreiras de Estado, estará sentada sobre uma estrutura pouco confiável e com lealdades paralelas muito perigosas. É preciso atuar de imediato e ampliar este raio em duas frentes.

Uma, na ação política, criando frentes parlamentares árabes ou árabe-palestinas em todos os níveis legislativos. Outra, correndo em paralelo, vigiando e combatendo tanto esses acordos como as missões e agendas de “intercâmbio” de forças de segurança locais, estaduais e nacionais junto do aparato repressivo e de espionagem da entidade sionista. Está mais do que provado dos perigos destas estruturas quando aqui presentes e que, apesar de ficarmos mais atentos com a vasta rede do Ministério de Assuntos Estratégicos e Diplomacia Pública do inimigo, no submundo da espionagem e áreas conexas é onde se movem melhor.

As perspectivas de luta imediata em 2022

Como o sionismo tem a capacidade de se internacionalizar e internalizar em países soberanos, pela lógica o combate a esta vertente imperialista deve ocorrer simultaneamente. Com maior ou menor intensidade, o padrão das lutas mais imediatas para 2022, tomando o Brasil como exemplo, pode ser reproduzido em toda a América Latina, incluindo a urgente necessidade de diminuir a inércia das colônias e diásporas árabe latino-americanas.

A melhor perspectiva é contarmos com as próprias forças através de parcelas confiáveis de nossa diáspora nos países do continente, traçarmos alianças concretas que incidam na opinião pública para além dos importantes círculos das esquerdas e que fiquemos muito vigilantes contra o sionismo, seus aliados do protofascismo e dos EUA operando na região. Não basta denunciar e expor as mazelas do colonialismo nas terras árabes é preciso atuar politicamente relacionando as lutas, causas e consequências.

* Este artigo foi originalmente publicado no portal Monitor do Oriente Médio

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** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Marcelo Ferreira