Sem alma nem coração não se vai a lugar nenhum. Nem no futebol, nem na vida, nem na política
Sou gremista desde sempre, anos 1950/1960, quando o Grêmio ´mandava´ no futebol do Rio Grande do Sul. Mas, devo registrar, o Grêmio fica atrás do São Luiz de Santa Emília, minha comunidade de origem em Venâncio Aires, Rio Grande do Sul, onde, no potreiro da família e no potreiro do primeiro campo do São Luiz, aprendi a jogar e gostar de futebol. Lá em casa, nove filhos/as, irmãos/ãs, os/as gremistas ganham de 5 a 4. Os primeiros 5, lá atrás, Grêmio multicampeão, são todas-os gremistas. Os últimos 4, anos 1970, tempos de auge do Inter, todas-os colorados.
Comecei a escrever este artigo há algumas semanas, à espera das definições do Brasileirão/2021, Grêmio definitivamente rebaixado ou não. E ia adiando a publicação, porque o rebaixamento só foi definido na última rodada. Vai que o Imortal Tricolor, como ele é conhecido por aqui, finalmente reaparece, como passava pela cabeça de muitos! O que, de alguma maneira aconteceu, embora tarde demais, nas últimas partidas.
Os rojões de foguetes ao redor de onde moro acordaram-me na noite do dia 9 de dezembro, perto da meia noite, última rodada do Brasileirão. Não precisei nem conferir. ´Cabô`! O Grêmio foi rebaixado para a série B do Brasileirão pela terceira vez, mesmo o Inter jogando mal, perdendo, e sequer indo para a Libertadores! É a velha e eterna gangorra gaúcha.
Sem alma nem coração não se vai a lugar nenhum. Nem no futebol, nem na vida, nem na política. Muito menos na militância.
Quando você torce por um time, ou torcia, sem alma nem coração, cabô! O outrora Imortal Tricolor jogou sem alma nem coração o Campeonato Brasileiro. Sumiu do seu estádio, a Arena, e dos campos de futebol de todo Brasil. Jogadores, treinadores, que ganham rios de dinheiro, jogaram e atuaram como se estivessem em campo só para ganhar o rico dinheirinho, ou dinheirão, no final do mês. Como se a vida estivesse resolvida, como se não houvesse uma torcida ansiosa e não houvesse um passado a ser lembrado e celebrado e, principalmente, um futuro a ser construído.
Cadê o time do Grêmio entrar em campo para jogar a vida? Cadê suar em campo, dar o sangue como se cada jogo fosse o último, como se cada partida decidisse tudo, inclusive a esperança? Não se via nada disso semana a semana, rodada a rodada. Estava se caminhando para o abismo e todo mundo parecia nem estar aí. Nem para a torcida, nem mesmo para os projetos individuais de cada profissional envolvido no Brasileirão!
Passando para a política e a militância, para a luta pela democracia e pela justiça neste país que, nestes tempos tristes e confusos, muitas vezes também parece sem alma nem coração. Quando se fala de ter alma e coração no Brasil atual, não se está falando de fanatismo fundamentalista, de não enxergar o cotidiano e de seus eternos problemas. Muito pelo contrário. Os tempos que o Brasil vive e atravessa, infelizmente, são de ódio e intolerância, em vez de tempos de luz, horizonte, alma e coração. Os tempos são de angústia, tristeza e morte. Os tempos são de fome, miséria e exclusão social. Os tempos são de neofascismo.
´Cabô´, pois?
Não ´cabô´ para o Grêmio, que, em 2022, na segunda divisão, pode/deve recuperar-se como Imortal Tricolor, jogando cada jogo como se fosse o último de sua vida e história, com alma e coração.
Não ´cabô´ para o Brasil e seu povo, que, em 2022, podem-devem recuperar a soberania, a democracia, a justiça, os direitos de trabalhadoras e trabalhadores, a vida para os mais pobres entre os pobres, com alma e coração pulsando, conscientes de sua missão.
Alma e coração exigem entrega, compromisso, diálogo, fraternidade, profecia, coragem, fé. E abertura para a outra, o outro, para as irmãs e os irmãos, companheiras e companheiros, compreensão dos problemas que todas-os vivem, unidade e solidariedade.
Com alma e coração pulsando, ´ninguém solta a mão de ninguém´.
Em 2022, com alma e coração, hora de cantar com Gonzaguinha: “NUNCA PARE DE SONHAR. Não se desespere e nem pare de sonhar./ Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs./ Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar./ Fé na vida, fé no homem, fé na mulher, fé no que virá./ VAMOS LÁ FAZER O QUE SERÁ!”
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko