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2021 precisa terminar ontem!

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"Claro que 2021 também teve coisas boas como as grandes mobilizações de rua" - Roberto Parizotti/Fotos Públicas
Que venha, pois, urgentemente, 2022, logo, logo, amanhã, com mais luzes, mais horizonte

Mil problemas, dificuldades, acontecimentos insólitos, angústias, sofrimento, mortes, tristeza, momentos de desânimo e desesperança como nunca antes, tanto no lado pessoal, quanto, e ainda mais, no campo político, social, econômico, ambiental. E quase tudo acontecendo ao mesmo tempo agora, de roldão, turbilhão em turbilhão. Que ano este 2021!

Não sei se é sentimento só meu. Tenho impressão, quase certeza, que não. É sentimento geral. Ainda bem que, feliz e finalmente, estamos na metade de dezembro. Não vejo a hora deste nefasto, terrível, inacreditável 2021 terminar. Não ‘aguento’ mais, ninguém ´aguenta´ mais mortes ao redor, usar máscara, ficar em casa quase o tempo todo, quase confinado, participar de trocentas lives, muitas vezes duas ou três ao mesmo tempo, da manhã à noite, não poder abraçar, não poder olhar no olho, não poder estar leve, livre e solto!

No plano pessoal, 2021 foi-está sendo tri difícil. Mamãe partiu definitivamente em março, deixando mil saudades. Tive batidas de carro, quase morri na estrada. Internet com problemas repetidos e fora do ar, o notebook teve que ser trocado, celular sempre cheíssimo de mensagens e no limite do armazenamento. Um terreno em Passo de Torres, SC, comprado lá atrás e que não consigo regularizar. Mil problemas no apê e por arrumar portas e janela, baratas aparecendo. Houve troca de armação óculos, que quebrei. Afta na boca estes dias, seguida de gripe. Agora, nesta semana, mensagens dizendo que fiz compras que não fiz. Cansaço mais que dobrado, porque tudo acontece todos os dias, não dá tempo pra respirar, a vida em turbilhão.

Não lembro de outro ano pior que 2021, nem nos tempos muito difíceis da ditatura. Então, havia mais esperança e horizonte, por incrível que pareça. Noutras épocas, a solidão era menor, a dor era menor, o sofrimento era menor, tudo era menor em intensidade.

E, escritos vários parágrafos, ainda não falei da fome, presente em todos os espaços, ruas, vilas e periferias, junto com o desemprego, com a miséria, a pandemia, a volta da inflação, tudo visível, palpável, como nunca foi antes. E olha que eu já tenho quase 71! Nem falei do ódio e da intolerância, que vemos, como nunca vimos, até nas nossas famílias e pessoas próximas e de convivência. Nem falei que, em plena pandemia do coronavírus, os ricos brasileiros estão ficando muito mais ricos, e os pobres, especialmente os mais pobres entre os pobres, mais pobres. Também não falei da violência cotidiana, da democracia ameaçada, da soberania sendo surrupiada, vendida, nem do neofascismo reinante, e dos governos sem compromisso com o povo e com a vida.

Onde vamos parar? Como sair desse tempo de tragédia, desse atoleiro?

Claro que 2021 também teve coisas boas. Grandes mobilizações de rua, muitos bons debates e reflexões, o centenário de Paulo Freire celebrado em tudo que é lugar, Conferências Populares, Sexta Semana Social Brasileira e mil outras coisas. Teve, na resistência ativa, os Comitês Populares contra a Fome, as Cozinhas Solidárias e Comunitárias, o início da construção de uma Frente Nacional contra a Fome, está acontecendo o Natal Sem Fome: gestos comoventes, muitas vezes heroicos, de solidariedade de movimentos sociais, Pastorais e sociedade civil, já que os governos estão ausentes e acabando com todas as políticas públicas com participação popular. E muita luta por democracia, justiça social, direitos para jovens, povo negro, mulheres, povo LGBTQIA+ e contra o neofascismo. 

É um desabafo, vindo de alguém costumeiramente otimista, freireanamente esperançoso. E que, como tantas lutadoras e tantos lutadores, nunca desiste.

Que venha, pois, urgentemente, 2022, logo, logo, amanhã, com mais luzes, mais horizonte. 2022 com o Fórum Social das Resistências e o Fórum Social Mundial Justiça e Democracia, de 26 a 30 de janeiro em Porto Alegre, com a Campanha da Fraternidade/2022 e o tema Educação e Fraternidade, com o Fórum Social Mundial em maio no México, ´um outro mundo possível´, com o Fórum Pan-Amazônico em julho em Belém. E, principalmente, com as eleições quase gerais em outubro: debate de projeto de país, de nação, de futuro. E ver se o povo brasileiro, sempre valente e sábio, que não se entrega nunca, coloca o Brasil nos eixos na consciência e pelo voto.

Antes, ou durante tudo disso, preciso achar um tempinho, em algum momento do início de 2022, para dar meu pulo anual e tradicional na praia da Armação e do Matadeiro, Sul da Ilha de Florianópolis: espairecer, caminhar, ver e curtir o sol, olhar os ares encantados da noite, tomar umas no Bar do Arante no Pântano do Sul, também Floripa. E, principalmente, descansar, descansar, descansar, relaxar a cabeça, o corpo, o espírito, tudo. Reanimar o sonho, a profecia, a utopia, freireanamente.

É pedir demais, sonhar fora da realidade? Ou é esquentar as turbinas para um 2022 que não será nada fácil, muito pelo contrário?

Em 2022, ninguém solta a mão de ninguém. No resto de 2021 e, especialmente em 2022, na boa luta, com muita fé, ESPERANÇAR.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko