As ações de solidariedade do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) têm se multiplicado em todo o país durante a pandemia da covid-19, amenizando a fome que voltou com força no Brasil. No Rio Grande do Sul, o movimento já doou mais de 600 toneladas de alimentos, provenientes de cooperativas e assentamentos. Agora, uma nova iniciativa de plantio coletivo promete somar forças para levar ainda mais alimentos a quem precisa em 2022.
O pontapé inicial foi dado na quinta-feira (2) no Assentamento Belo Monte, no município de Eldorado do Sul (RS), quando foram plantadas 3.500 ramas de aipim e 120 mudas de moranga e abóbora. Participaram da atividade entidades parceiras do MST no processo de doação de alimentos, como CUT-RS, Comitê de Combate à Fome, Ação da Cidadania e Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (Consea-RS).
Jeronimo Pereira da Silva, membro da coordenação estadual do MST, conhecido como Xirú, explica que a ideia surgiu de uma reorganização estratégica do MST, que definiu que agora cada assentado vai destinar um espaço fixo para plantar alimentos para doação. “Aqui na regional metropolitana, além de fazer esses plantios para doar mensalmente, tivemos essa ideia de fazer uma roça coletiva e chamar o povo que está recebendo, o povo urbano, para eles irem plantar”, conta.
Aliança concreta entre campo e cidade
“O processo começou desde cortar a rama da mandioca, preparar a terra e fazer o plantio”, explica. Segundo ele, na próxima semana a roça vai ficar ainda maior, quando serão plantados melancia e feijão. E todo esse alimento, ano que vem, vai parar em cestas básicas doadas a famílias em vulnerabilidade social ou cozinhas comunitárias que distribuem refeições a quem precisa.
Xirú celebra o que considera não apenas uma articulação, mas “uma aliança concreta de trabalhadores do campo e da cidade”. Afirma que envolver os parceiros que recebem as doações é pedagógico. “É um processo de preparação desde a terra, depois tem o plantio, tem o processo de limpar para garantir o desenvolvimento da planta, depois o processo de colocar adubo e assim por diante”, ressalta.
Integrante da Ação da Cidadania RS, Neusa Matos, conta que foi junto buscar as ramas de mandioca em um assentamento de Viamão (RS). “A nossa previsão é que a gente possa colher em torno de 10 a 11 toneladas de aipim para repassar nas nossas doações, mas antes disso temos a limpeza para fazer”, projeta, já pensando no trabalho voluntário que o grupo tem pela frente.
Neusa lembra que a Ação da Cidadania já vem há muitos anos fazendo um trabalho de distribuição de cesta básica e outras ações de incentivo ao aproveitamento de alimentos e celebra a parceira. “Essa fusão com o MST vem para mostrar que os grupos podem trabalhar juntos, um de um jeito, outro de outro. A Ação da Cidadania é mais urbana, o MST é mais rural, mas o ensinamento deles é impecável e mostra que unidos dá para fazer”, ressalta.
Ela destaca que a parceria surgiu através do Consea-RS. “É uma união de trabalho e de luta, na atual conjuntura em que nós voltamos ao mapa da fome, é só se unindo para tentar amenizar”, afirma.
A aposentada Zailde Silva da Silva, moradora da Lomba do Pinheiro, na periferia de Porto Alegre, também participou desta primeira ação do plantio coletivo. Ela é voluntária em ações solidárias na sua comunidade desde o início da pandemia, tanto na cozinha comunitária como na distribuição de cestas de alimentos, como integrante do Comitê Gaúcho contra a Fome da Lomba do Pinheiro.
“Foi muito gratificante poder contribuir com quem tem ajudado tanto as nossas cozinhas comunitárias em um momento de muita falta de auxílio por parte das políticas públicas que abandonam o pobre quando ele mais precisa”, afirma. “Fui e vou sempre que me for possível, é um ajudando o outro e ‘ninguem larga a mão de ninguém”, completa Zailde.
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Edição: Katia Marko