Rio Grande do Sul

Violência Política

Ameaças contra Bancada Negra de Porto Alegre seguem um padrão de outros ataques virtuais

Método para intimidar vem sendo repetidamente utilizado no Brasil para realizar ameaças de morte

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Ameaças de morte seguem padrão de outros ataques à personalidades políticas - Foto: Bruno Mendes

Na manhã desta terça-feira (7), vereadores integrantes da Bancada Negra da Câmara de Vereadores de Porto Alegre foram até a Delegacia de Crimes Cibernéticos para denunciar ameaças de morte recebidas por e-mail. 

As ameaças de morte são direcionadas à todos os integrantes da bancada, porém, recebem especial ódio e são citadas primeiramente as vereadoras Karen Santos (PSOL) e Daiana Santos (PCdoB). Uma análise rápida do e-mail contendo as ameaças evidencia um certo padrão.

O texto das ameaças contêm narrativas semelhantes com outros e-mails ameaçadores enviados à outras figuras políticas femininas recentemente. Especificamente, duas afirmações coincidem: o autor afirma ter raiva por estar desempregado e por sua esposa estar com câncer de mama, estando os dois sobrevivendo do auxílio emergencial.

Além disso, outra coincidência é a afirmação de que o autor irá comprar uma arma em um Morro do Rio de Janeiro para matar as vereadoras e depois matar a si próprio:


Print do e-mail direcionado à vereadora Laura Sito (PT) com ameaças direcionadas à Bancada Negra da Câmara de Porto Alegre / Reprodução

"Enquanto vocês KAREN e DAIANA SANTOS se elegeram vereadoras e ganham uma fortuna para ficar propagando ideologia de gênero e o racismo contra brancos apenas por ser macacas, eu estou desempregado, minha esposa está com câncer de mama e vivendo do auxílio emergencial. Eu juro, mas eu juro que vou comprar uma pistola 9 mm no Morro do Engenho aqui no Rio de Janeiro e uma passagem só de ida para Porto Alegre e vou matar vocês duas. Eu já tenho todos os seus dados e vou aparecer ai na Câmara [...]", afirma o e-mail.

Além deste caso, também receberam ameaças com teor parecido a primeira vereadora negra eleita em Curitiba, Carol Dartora (PT) e a vereadora mais votada da história de Belo Horizonte, Duda Salabert (PDT).

Grupos de ódio têm utilizado a identidade de uma outra pessoa

Os e-mails enviados para os integrantes da Bancada Negra têm como remetente o endereço "[email protected]", sendo assinado pelo nome Ricardo Wagner Arouxa. Além deste caso, muitos outros e-mails contendo ameaças semelhantes vêm sendo assinados com este nome.

Porém, conforme apurou a repórter Marie Declercq, do TAB/Uol, Ricardo Wagner Arouxa não é um nome falso, é uma pessoa que realmente existe e que vem afirmando nos últimos anos sua inocência com relação à esses muitos casos de ameaças racistas e misóginas.

Segundo afirma a reportagem, Arouxa é um alvo permanente de um grupo de ódio, que utiliza seu nome para praticar as ameaças. O motivo de seu nome ser utilizado se deve, segundo o próprio Ricardo, a uma desavença virtual com um dos líderes do grupo.

"A cada ameaça, ele faz o mesmo procedimento: entra em contato com a vítima para explicar a situação e aconselhar que ela faça queixa na delegacia. 'Já me acostumei', resume Arouxa sobre o trabalho de provar que não é o autor de ameaças e mensagens preconceituosas", relata a matéria.

Além da utilização do próprio nome de Ricardo, as informações contidas nas ameaças têm o intuito de incriminá-lo: segundo relata ele mesmo, o referido Morro do Engenho, onde supostamente poderia comprar uma pistola, fica perto de sua casa no Rio de Janeiro. Além disso, conforme relatou a professora Lola Aronovitch, a esposa de Ricardo realmente teve câncer de mama.

Porém, a utilização dessas informações e do nome de Ricardo não provam que é o mesmo grupo ou indivíduo que está por trás das ameaças aos integrantes da Bancada Negra de Porto Alegre. É possível que a estratégia possa estar sendo utilizada para os mesmos objetivos.

Os praticantes desse tipo de violência fazem uso do anonimato oferecido por ferramentas com conexões privadas ("Virtual Private Network" - VPN) ou como navegadores específicos para a camuflagem de rastros na internet. Conforme relataram os parlamentares porto-alegrenses, não é a primeira vez que este tipo de ameaça é feita. Além disso, afirmam que este ataque está inserido em um contexto nacional, onde personalidades que defendem direitos de minorias políticas vêm sendo sistematicamente ameaçados.

“É o aprofundamento da escalada da violência política, sobretudo contra parlamentares negras, que é praticada por grupos organizados da extrema-direita, que tentam se esconder através da internet e que são articulados pra intimidar quem denuncia e busca uma saída para os problemas do país. Os responsáveis devem ser identificados imediatamente”, afirmou a vereadora Karen Santos.


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Edição: Katia Marko