Inspirada na campanha #EleNão, que realizou massivos atos feministas contra Bolsonaro no período eleitoral em 2018, as mulheres puxam as manifestações deste sábado (4), por todo o Brasil, para gritar “Bolsonaro Nunca Mais”. No Rio Grande do Sul, movimentos populares, centrais sindicais, coletivos feministas, partidos políticos, mulheres e homens tomaram as ruas na Capital e cidades do interior para denunciar a violência, o desemprego, a fome, a miséria e o genocídio resultante das políticas do governo federal.
As manifestações integram os 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres. A campanha, anual e internacional, começou em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, passando pelo 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, e vai até 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos. Neste período, indivíduos e organizações mobilizam-se em atividades contra a desigualdade e violência de gênero.
Em três anos sob o governo de Jair Bolsonaro, a vida das mulheres padeceu de uma maneira estarrecedora. Uma análise exclusiva da revista AzMina aponta que entre 2019 e o primeiro semestre de 2021, o governo federal deixou de aplicar quase R$ 400 milhões no combate à violência e incentivo à autonomia e saúde feminina. Ou seja, não usou sequer um terço dos recursos aprovados para as políticas de mulheres.
Em Porto Alegre, a concentração para o ato iniciou às 16h, na Praça do Tambor, próximo à Usina do Gasômetro. Com cartazes, faixas e bandeiras, entre apresentações musicais, manifestantes denunciaram suas pautas no microfone. Falaram lideranças partidárias e de movimentos e organizações feministas. O Brasil de Fato e a Rede Soberania transmitiram a manifestação ao vivo, em rede com outros veículos de comunicação independentes do estado. Clique aqui para assistir.
“É impossível nós continuarmos num regime misógino, que odeia as mulheres, que não defende a igualdade da mulher, da mulher emancipada”, afirmou Télia Negrão, da coordenação do Levante Feminista Contra o Feminicídio. Para ela, é preciso “dar um basta nesse regime da fome, da miséria, do empobrecimento das mulheres, da carestia, retirando as condições mínimas de sobrevivência das famílias chefiadas por mulheres”.
Télia lembrou que o Brasil continua sendo um dos campeões mundiais que mais matam as mulheres e disse que estar na rua significa “demonstrar disposição dessa metade da população que tem sido excluída dos espaços de poder e decisão para que possamos avançar efetivamente para uma sociedade que volte a ser mais democrática, justa, mais igual”.
Integrante do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente (Cedica), Ivonete Carvalho, saudou a presença de militantes do movimento de mulheres negras e de mulheres não negras, todas unidas pelo “fora Bolsonaro”. Ela destacou que todos os instrumentos construídos nos últimos 20 anos estão sendo retirados. “Precisamos fazer essa transformação social e tirar esse genocida”, defendeu.
Ivonete explicou o significado do tambor localizado na praça. “O tambor para a visão de matriz africana significa a comunicação do que está na terra e o que está no mundo espiritual. Significa resistência, convergência e fortalecimento da nossa união em nome da nossa ancestralidade.”
A ex-deputada estadual pelo PT, Stela Farias, destacou a presença de mulheres da Região Metropolitana. “É muito importante, necessário, estamos aqui esquentando as baterias para um ano importante que teremos, que definirá mais uma vez o futuro do país”, avaliou. Para ela, mais do que nunca, as mulheres têm que se unir para irem às ruas com a sua força, a exemplo de 2018, quando gritaram “ele não“.
Para Silvana Conti, vice-presidenta estadual da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB-RS), o ato de hoje é estratégico porque marca a luta das mulheres nas ruas. Ela lembrou que antes de Bolsonaro assumir o poder, as mulheres já estavam nas ruas. “Bolsonaro nunca mais significa que as mulheres estão esgotadas, não aguentamos mais a falta de comida na mesa, o preço do gás, da gasolina, a privatização da Petrobras, Eletrobras, essa política ultraliberal e conservadora que acaba com a vida das mulheres”, disse.
Jocelaine Santos da Silva, moradora do Morro das Antenas, e Helena Fagundes, moradora do bairro Bom Jesus, integram o Coletivo Feminista Outras Amélias - Mulheres de Resistência e Luta. Elas não puderam ir presencialmente nos atos no centro de Porto Alegre, mas fizeram colagens de lambes nas suas comunidades.
“É muito importante para nós mulheres da periferia, principalmente as mulheres negras, nos manifestarmos pelo ‘Bolsonaro Nunca Mais’”, afirmou Jocelaine. Ela lembrou que as mulheres, muitas chefes de família, estão enfrentando condições precárias. “Não temos alimentos, o preço dos alimentos está muito caro. Muitas mulheres estão desempregadas, não tendo nem como sair para procurar o sustento da família.”
Helena destacou que nunca na democracia brasileira um governante atuou tanto pelo retrocesso do povo como Bolsonaro. “Se aproveita da mídia para espalhar o medo, oprimindo e intimidando, colocando principalmente as mulheres, o povo pobre, o povo preto nas trincheiras, sem arma alguma, e que sobreviva quem tiver sorte, ou mais imunidade", criticou.
Atos no Interior
Na Serra gaúcha, em Caxias do Sul, manifestantes se reuniram na Praça Dante Alighieri, no centro da cidade, com cartazes e bandeiras. Em um microfone, lideranças pontuaram os diversos ataques do governo Bolsonaro.
A presidenta do Sindicato dos Servidores Municipais de Caxias do Sul (Sindiserv), Silvana Piroli, destaca os ataques do atual governo. “Ele não, fora Bolsonaro que acabou com a aposentadoria das mulheres trabalhadoras, que tratou a pandemia de forma irresponsável, que tem uma política econômica que conseguiu ter recorde no desemprego, em que as principais prejudicadas foram as mulheres, as mulheres negras e pobres foram as maiores prejudicadas.”
Ela afirma que o ato na praça serve para mostrar para a cidade, para o estado e para o país “que queremos o fim da violência, que muitas vezes não aparece com marcas no corpo, mas aparece com marcas na alma, com a fome, com o desemprego, com a falta de direitos. É pelo trabalho, pela vida das mulheres, pelo futuro do país que estamos na rua”.
Também foram registrados atos “Bolsonaro Nunca Mais” nos municípios de Bagé, Cachoeirinha, Encruzilhada do Sul, Pelotas, Osório e Santa Maria.
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Edição: Katia Marko