Como sair desta armadilha? Acordando da letargia. E fazendo por ajudar a que acordem outros
Nesta semana temos 3 de dezembro, Dia Mundial da Luta contra os Agrotóxicos. Este é o tema de todos ambientalistas, e eu pretendia escrever a respeito.
Mas o belo texto da Karen Friedrich deve ser lido e reproduzido de baciada, de modo que vou por ele. Não percam, é de ler e repassar.
Aliás, também vale a pena acompanhar, entre tantas atividades relacionadas à destruição que o agronegócio promove, com o uso absurdo de agrotóxicos, programação organizada pelo Fórum Catarinense de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e Transgênicos que se estenderá por todo o dia e que envolve também os Fóruns do RS e do Paraná além de representações de movimentos sociais e pesquisadores de renome nacional e internacional. No mesmo dia, à noite, haverá reunião do Fórum Nacional de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos. Muitas outras organizações estão com atividades correlatas, o que garante ampla cobertura do tema.
No fundo, podemos considerar que se trata de uma sindemia imoral, envolvendo ecocídios, genocídidos, inseticídios e outros crimes de larga escala, em favor da ganância de poucos e sob a cobertura da ignorância e apatia de muitos.
E esta ideia de desolação, que nos lembra o apocalipse, vai servir de guia para o comentário a seguir. Vejam que com a peste da covid e suas variantes se somando à fome, à guerra diária contra multidões de excluídos, e ao horror que nos ronda com todo tipo de ameaças de morte, resta crer que o Jean Marc Von de Weid tem toda razão: os quatro cavaleiros do apocalipse estão de volta e à solta, entre nós.
E o pior deles, a morte, aquele que vem por último, é bem representado pelo ex capitão, o monstro de quem não se fala o nome. O mito, dos ingênuos, dos tolos e dos golpistas. Aquele, que patrocina o armamento dos estúpidos, a destruição ambiental e a ruptura de laços de solidariedade familiar e intergeracional que constituíam, até há pouco, a característica mais marcante de nossos povos e país.
Sabemos, como escreveu Gonzaguinha, o que isso significa. Estamos deixando de ser gente. Sabemos do drama das crianças, e de que também entre elas, não há quem com fome aprenda. Sabemos dos desmaios em provas, em filas de vacina, no escuro da solidão. Sabemos da disputa por ossos e dos pais e mães que sofrem, sem trabalho, neste mundo onde sem trabalho, não há honra. Neste mundo onde sem honra, se surta, se morre, se mata. Sabemos dos mortos e de que são maioria entre os excluídos de uma sociedade de consumo montada no interesse de poucos.
E sabemos que são milhões de brasileiros, neste calvário. E que, mantido o ritmo, em breve chegará a vez dos omissos, a nossa vez. De viver como não gente, como animal urbano sem acesso a palavras de carinho e sem perspectivas de vida, aguardando o momento de explodir e, até lá, rezando por soluções mágicas que não virão.
No caminho para minha casa, alguns moradores de rua, plantaram espadas de São Jorge em torno de sua barraca de lona. O que significa isso? Sinal de esperança ou de resignação com o que lhes parece ser o destino, o purgatório criado por golpistas?
Como sair desta armadilha?
Acordando da letargia. E fazendo por ajudar a que acordem outros, que dormem ao lado, e tantos outros quantos for possível fazer despertar. Expurgar os golpistas do paraíso e, juntos, realimentar os sentimentos de amor e poder que existem em todos nós. E assim, como o musgo na pedra, avançar, tecendo redes em direção à uma vida que foi e pode voltar a ser dadivosa, digna e bonita, para todos que se respeitam e se assumem na condição humana.
Se trata de recusar mentiras e buscar elementos de lucidez junto a todos aqueles que, em grande frente farão avançar, com responsabilidade e orgulho, a vida, na contramão do apocalipse.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko