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Paulo Freire está vivo! Esperançar

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"Com unidade e solidariedade, com denúncia, anúncio, profecia, utopia e sonho, freireanamente, constrói-se a democracia e a sociedade do Bem Viver" - Foto: Stela Pastore
Em tempos de neofascismo, é preciso aumentar a luta e a mobilização social

2021 foi/está sendo um ano freireano, mesmo com todas as agruras da pandemia do coronavírus. A celebração dos 100 anos do educador popular Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira, foi/está sendo intensa: Debates, Seminários, atividades as mais variadas no mundo inteiro, especialmente no Brasil, na América Latina, Caribe e África.

O CEAAL, antigo Conselho de Alfabetização da América Latina, hoje Conselho/Movimento de Educação Popular da América Latina e Caribe, cujo primeiro presidente foi Paulo Freire, fez sua Assembleia Geral há alguns dias, elegeu nova direção/coordenação. E construiu os elementos centrais de sua estratégia e ação para o próximo período, sempre em nome de Paulo Freire e de sua pedagogia libertadora.

Quais são, segundo o CEAAL, os desafios, linhas programáticas, orientações e ações neste momento da história, em tempos de volta da fome, de neofascismo, ameaças à democracia e à soberania, aos direitos dos pobres e oprimidas-os?

1. Construir a educação popular desde a centralidade da vida, da defesa da natureza e dos territórios, caminhando em direção do Bem Viver.

2. Construir processos e fortalecer teórica e metodologicamente a educação popular anti-racista, feminista, que respeite as diversidades, construindo novas masculinidades, trabalhando o intergeracional, promovendo relações e práticas solidárias, aprofundando a participação horizontal e a democracia.

3. Aprofundar e recriar a estratégia de Formação Política para a construção de consciência crítica, de maneira permanente e processual, desde o CEAAL, apostando no aprofundamento da democracia e na construção de outro mundo possível.

4. Produção e democratização do conhecimento desde e com a educação popular.

5. Construir um projeto político de comunicação popular próprio, que acompanhe os processos de educação popular para a emancipação política e que contribua para a construção de soberania digital e segurança de nossos dados.

No contexto destes desafios não pequenos, está começando a terceira fase da Campanha Latino-americana e Caribenha em Defesa do Legado de Paulo Freire, lançada em 2019, quando Paulo Freire mais uma vez estava sendo preso e exilado, como foi pela ditadura militar brasileira de 1964. A Campanha continuou numa segunda fase com o centenário de Paulo Freire. Agora entra numa terceira fase, a partir do final de 2021 e 2022.

A Campanha da Fraternidade/2022, promovida pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), tem como tema Fraternidade e Educação: ´Fala com sabedoria, ensina com amor´.

Diz o Texto-Base da CF/2022: “A educação popular, social e comunitária tem contribuído, em consonância com as instituições de ensino, ao longo da história, para a potencialização das pessoas e comunidades, como sujeitos de direitos e deveres. Ela se dá em uma sociedade democrática, que diariamente luta por políticas públicas estruturais e de Nação que acabam, pela sua inexistência ou ineficácia, em várias situações, ampliando a desigualdade e a violência contra as infâncias, adolescências e juventudes” (Texto-Base, n° 128). “Seja na educação formal, como também na não formal, a educação precisa ter marcas de testemunho profético, sendo ousada e aberta à utopia. Dessa forma, afeta, potencializa e transforma os indivíduos como atores-sujeitos sociais; uma educação que relaciona unidade e pluralidade. Portanto, uma educação para o cuidado com a Casa Comum, que valoriza a dimensão lúdica, o diálogo e o respeito, que acompanha e ensina o verdadeiro, o belo e o bom, em todos os contextos sociais” (Texto-Base, n° 136). “Para educar para o Humanismo Solidário e construir a Civilização do Amor é necessário: promover a cultura do diálogo, globalizar a esperança, buscar uma verdadeira inclusão, criar redes de cooperação” (Texto-Base, n° 240). “Um modo de iniciar um novo tempo na educação é assumirmos as propostas do Papa Francisco, que nos convoca a unir forças em vista de um Pacto Educativo Global: uma educação humanizada que contribua na formação de pessoas abertas, integradas e interligadas, que também sejam capazes de cuidar da Casa Comum, já que a ´educação será ineficaz e os seus esforços estéreis se não se preocupar também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza ‘(Encíclica Laudato Sì e Texto-Base, n°s 7 e 236).    

Juntar a Pedagogia da-o Oprimida-o, conscientizadora e libertadora, com a Pedagogia da Indignação, a justa raiva, com a Pedagogia da Esperança, esperançar, é o desafio político-pedagógico nesta quadra da História, unindo e organizando educadoras e educadores populares, militantes sociais, lutadoras e lutadores pelas causas da justiça social, da liberdade, da democracia e da soberania.

Em tempos de fome aguda, com Comitês Populares contra a Fome e Cozinhas Solidárias nas periferias, é preciso reforçar a solidariedade e fazer formação na ação. Em tempos de neofascismo, é preciso aumentar a luta e a mobilização social. Em tempos de destruição da natureza e do meio ambiente, especialmente no Brasil, é preciso cada vez mais cuidado com a Casa Comum.

O CEAAL convida todas e todos, assim como a Campanha da Fraternidade/2022, e o Papa Francisco com o Pacto Educativo Global, a unir corações e mentes. ´Ninguém solta a mão de ninguém.` Com unidade e solidariedade, com denúncia, anúncio, profecia, utopia e sonho, freireanamente, constrói-se a democracia e a sociedade do Bem Viver.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko