Jair e sua prole não são exceção e sim a regra da nova extrema direita em sua versão mais caricata
A família Bolsonaro governa – ou “desgoverna” – o país aliada com o de menos relevante nossa sociedade já produziu e, ao mesmo tempo, alinhada com os desígnios da direita ocidental de uma forma como jamais vimos antes. A massificação de suas ideias, ou melhor, de sua desinformação sistemática das realidades na forma de identidades coletivas manipuladas opera através da soma de formas nacionais (domésticas) de reacionarismo, com versão atual do pacto neoconservador dos Estados Unidos. Apesar da sua condição patética e muitas vezes repugnante, já a partir da linguagem, Jair Messias e sua prole não são exceção e sim a regra da nova extrema direita em sua versão mais caricata. Como já foi comprovado na política externa e nas afirmações de preferências internas, sua ação é danosa para a Causa Palestina, assim como para o Mundo Árabe e Islâmico.
Definitivamente, o Brasil vive, desde 2014, uma enorme pressão externa e uma internalização de interesses vindos da direita e da extrema direita do Ocidente. Tivemos uma mudança cabal no léxico político, na confusão permanente de termos e conceitos, em que se confunde social-democracia com socialismo, bem como estar à esquerda no espectro político dos EUA com ser de esquerda no mapa das identidades políticas latino-americanas. Falando em identidades e identitarismos trata-se, literalmente, de um novo paradigma. As políticas de reconhecimento dos governos social-democratas na América Latina atiçaram a sanha do outro lado, do alinhamento com a política externa e doméstica dos Estados Unidos, onde o pacto neoconservador implica uma defesa implacável do colonialismo promovido pelo assim chamado “Estado de Israel”, a entidade promovida pelo Mandato Britânico na Palestina Ocupada a partir de 1920.
A transfusão ocorreu também de forma neocolonial. A extrema direita do período da bipolaridade se realinha com a extrema direita do Partido Republicano estadunidense e, no plano econômico, com o neoliberalismo mais selvagem, copiando a chamada “linha chilena”- a que combina desindustrialização, entreguismo, repressão e empobrecimento. Ao contrário dos anos ’60 e ’70, o “inimigo do Ocidente” agora é outro, e abunda na islamofobia como versão mais recente da invasão do Mundo Árabe. Para tanto é fundamental que as redes econômicas e de inteligência que dão suporte para a entidade sionista ocupante da Palestina tenham como aliadas as empresas de manipulação da fé alheia. Blasfemando o legado vivo do profeta Issa, esses manipuladores se denominam “cristãos sionistas”, embora o conceito mais apropriado seja o de “neopentecostais sionistas”. Uma de suas formas mais avançadas está na maior articulação recolonizadora promovida pelo demagogo que atende pela alcunha de “filho 03” ou “Bananinha”.
A versão brasileira do mais incisivo evento político conservador dos Estados Unidos, não por acaso, é organizada pelo político profissional que se posiciona como maior aliado do Estado de Israel em nosso país. Trata-se do servidor concursado da Polícia Federal, bacharel em direito e deputado federal pelo PSL/SP, Eduardo Bolsonaro. A pessoa jurídica organizadora do CPAC aqui, a Conferência de Ação Política Conservadora (Conservative Political Action Conference), é o Instituto Conservador Liberal .
Segundo o próprio site do evento: “O primeiro CPAC ocorrido no Brasil foi realizado nos dias 11 e 12 de outubro em São Paulo, originado da relação entre o Deputado Federal Eduardo Bolsonaro e Matt Schlapp, presidente da ACU.”
A União Americana Conservadora (ACU) tem dois lobistas-base. São eles Matt Schlapp assim como seu parceiro e sócio Dan Schneider. A ponta de lança da ACU é o Conservative Political Action Coalition (CPAC). No glossário da política profissional dos EUA, “comitê de ação política” (PAC da sigla em inglês) é o mesmo que lobby. Na Superpotência que financia o apartheid, lobbies são legalizados e, muitas vezes, os interesses se cruzam. A base das identidades “conservadoras” na potência anglo-saxã passam pelo apoio irredutível à colonização do Oriente Médio, mas também por uma postura de flerte com a extrema direita e com os supremacistas.
Isso gera controvérsia – tanto aqui como lá – no jogo cínico do lobby sionista. Como que a extrema direita quer ser, de fato, antissemita (pois odeia os povos árabes como um todo, independente da fé professada) e apoiadora dos invasores europeus? Para aliviar a polêmica, uma parcela da elite política pró-Israel dentro dos EUA faz a seguinte apreciação. Segundo Josh Mandel, candidato ao senado federal estadunidense por Ohio:
“Como neto de sobreviventes do Holocausto e como orgulhoso americano, fuzileiro naval e judeu, considero esses ataques ao CPAC ultrajantes e grotescos. Agradeço a Matt Schlapp, Mercedes Schlapp e Dan Schneider por serem cristãos sionistas orgulhosos e tão grandes amigos do povo judeu”.
Ainda de acordo com o blog conservador Liberty One, “Mandel fez parte de um painel organizado pelo grupo Young Jewish Conservative. Ele falou sobre seu serviço como fuzileiro naval dos EUA, suas políticas do America First, seu apoio ao presidente Donald J. Trump e sua admiração pelos cristãos que são voluntários em Israel. Destacando seu profundo respeito pela irmandade que pode ser compartilhada entre diferentes grupos.”.
Pelo visto, a lealdade é recíproca. Quando a entidade colonial ocupante da Palestina quase dizimou Gaza ao confrontar a resistência do povo palestino contra a limpeza étnica em Jerusalém (Al Quds ocupada), a União Conservadora Americana se manifestou imediatamente. Na ocasião, em 12 de maio de 2021, a ACU organizadora do evento CPAC afirmou que:
“A União Conservadora Americana está lado a lado com nosso aliado Israel e condena veementemente os mais de 900 ataques com foguetes e outros atos de terrorismo contra Israel nos últimos dias. Os Estados Unidos e a comunidade internacional devem permanecer clara e resolutamente com Israel e responsabilizar os grupos terroristas palestinos, incluindo o Hamas e a Autoridade Palestina, por suas atividades terroristas. Israel tem todo o direito de agir em autodefesa e proteger sua soberania nacional. Nossos pensamentos e orações estão com o povo de Israel.”
Não é nenhuma coincidência o fato de que o deputado Eduardo Bolsonaro tenha se pronunciado, um dia antes desse comunicado, criticando uma investigação da ONU sobre violação de direitos humanos em Israel. O ‘03’ disse: “É como se bandidos condenassem uma operação da polícia”. Considerando o alinhamento de discursos, de repressão interna e de subordinação da política externa do Brasil para os interesses dos EUA e do apartheid colonial, é urgente não normalizar esse tipo de evento.
A nova conformação da extrema direita usa os supremacistas – mas prefere promover a necropolítica através de blasfêmias contra as palavras do palestino Eescho (Issa, Yeshua), gerar sustentação ideológica para a máquina de guerra anglo-sionista e aprofundar um modelo de capitalismo em que a maioria quiçá sobrevive, pois não tem nem renda, nem consumo. O CPAC Brasil é mais um braço colonial dos EUA e de seus aliados irredutíveis – o Sistema Cinco Olhos e Israel – e, como tal, deve ser denunciado e politicamente combatido.
* Este artigo foi originalmente publicado no portal Monitor do Oriente Médio
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** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Marcelo Ferreira