Rio Grande do Sul

Carestia

Fome e pobreza estão aumentando no RS, aponta estudo do DEE

Em janeiro de 2021, 947.112 gaúchos estavam vivendo na definição nacional da extrema pobreza

Brasil de Fato | Porto Alegre |
A meta de redução da pobreza fica ainda mais distante entre pretos e pardos, já que cerca de 11% deles constam no CadÚnico vivendo com menos de R$89,00 de renda domiciliar média - Miguel Schincariol/AFP

A realidade da pobreza no Rio Grande do Sul pode ser bem mais severa do que as estimativas da PNAD, destaca o estudo do Departamento de Economia e Estatística (DEE), antiga FEE e atualmente vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) do RS. Divulgado na última sexta-feira (15), o estudo aponta que em janeiro de 2021, 947.112 mil gaúchos viviam com até R$ 89,00 por mês, segundo dados do Cadastro Único (CadÚnico), o que representa cerca de 8% da população vivendo em condição de extrema pobreza. Quando considerada a linha da pobreza, de ganhos mensais de até R$ 178,00, o número de pessoas chega a 1.291.678, cerca de 11% da população gaúcha.

Conforme destaca o estudo, o aumento da pobreza e da fome no estado e no Brasil ocorre mesmo antes da pandemia de covid-19. Para analisar os desempenhos do Rio Grande do Sul para erradicação da pobreza e para a garantia da segurança alimentar dos gaúchos, foram levadas em conta as metas fixadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) dentro dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) para cada temática, a maior parte delas com prazo até 2030.

Segundo o material divulgado, desde 2015 o patamar consagrado como a "linha de extrema pobreza" correspondia ao ganho diário de US$ 1,90 por pessoa, considerado o mínimo necessário para sobrevivência nos 15 países mais pobres do mundo. Para adequar a outras realidades, foram criados outros dois patamares: para países de renda média-baixa (US$ 3,20) e países de renda média-alta (US$ 5,50).


Proporção da população vivendo na extrema pobreza, por sexo e raça/cor, no Rio Grande do Sul – junho de 2021 / Fonte: Brasil (2021) e Rio Grande do Sul (2021)

Erradicação da pobreza 

O estudo aponta que, em 2019, em um momento pré-pandemia e considerando o patamar de US$ 1,90 por pessoa, dados do IBGE indicam que o Rio Grande do Sul tinha 2,2% da população vivendo nessa faixa de renda (em 2015, 1,4% dos gaúchos estavam abaixo da linha da pobreza extrema). Na faixa de US$ 3,20 o estado contava com 4,2% do total e na linha de US$ 5,50 diários o percentual chegava a 11,1%.

"Na comparação com o primeiro ano avaliado pelo DEE/SPGG, 2015, houve um acréscimo no percentual de pessoas vivendo abaixo desses patamares. Naquele ano, os percentuais eram 1,4%, 3,5% e 10,8% respectivamente”, expõe o estudo, pontuando ainda que no ano de 2019, o Brasil tinha 6,5% da população com ganhos de menos de US$ 1,90 por dia, 12,2% vivendo com menos de US$ 3,20 e 24,7% com até US$ 5,50 diários.

De acordo com o estudo, o RS obteve, em 2019, o terceiro melhor resultado do Brasil nos dois patamares inferiores de renda, atrás de Santa Catarina e Distrito Federal, respectivamente, que lideravam com as menores taxas de pobreza. Quando considerado o nível mais elevado, de US$5,50, os gaúchos ficam atrás apenas de Santa Catarina.

O levantamento ainda traz indicativos de raça, gênero e faixa etária. Quando considerados apenas os pretos e pardos abaixo da linha de US$1,90, desde 2016 o Rio Grande do Sul apresenta indicadores acima do nível de erradicação, quase duas vezes maiores do que a média geral do país. Em 2019, o percentual ficou em 4,1%. 

“No ano de 2021, 58% das pessoas extremamente pobres do CadÚnico eram mulheres. A pobreza extrema também está mais presente entre os pretos e pardos do RS: enquanto este grupo representava cerca de 20% da população gaúcha em 2019, eles são cerca de 26% das pessoas cadastradas, em junho de 2021. Como resultado, a meta de redução da pobreza fica ainda mais distante entre pretos e pardos, já que cerca de 11% deles constam no CadÚnico vivendo com menos de R$89,00 de renda domiciliar média – contra uma média geral de 8%”, diz trecho do estudo.

Insegurança Alimentar 

De acordo com o Departamento, em 2013, 84,1% dos domicílios gaúchos apresentavam condições consideradas como de segurança alimentar (com acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais). Já 1,9% estavam com insegurança alimentar grave, patamar em que os habitantes de um domicílio estão em situação de fome. 

Em 2018, o percentual das pessoas com segurança alimentar caiu para 76,5% dos 4,156 milhões de domicílios em situação de segurança alimentar, com aumento da insegurança alimentar, registrando 2,4%.  No país, no último levantamento, 4,6% dos domicílios estavam em condição de insegurança alimentar grave.

No Rio Grande do Sul, 5% das crianças com menos de cinco anos tinham altura muito baixa para a idade, acima dos 3,3% registrados em 2009, sinal de nutrição inadequada. O estado registrava, ainda em 2021, 1% das crianças de até cinco anos com magreza acentuada, enquanto 6,6% tinham obesidade. No Brasil, o percentual era de 2,2% com magreza acentuada e 7,7% com obesidade. A melhor situação do RS comparada a do país em termos de segurança alimentar não se traduz em um percentual significativamente menor de crianças obesas, o que pode estar ligado com a qualidade da alimentação.

Veja aqui o estudo completo sobre a pobreza e aqui o da segurança alimentar.

*Com informações da Assessoria de Comunicação da  Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG)


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Edição: Marcelo Ferreira