A volta da fome e comida cara para a população de um país agrícola, que já tinha superado essas duas situações, são desgraças da sociedade brasileira. Várias causas imediatas mais conjunturais ajudam a entender o que se passa. Desemprego, redução da renda da população levam à fome, pois falta dinheiro para comprar comida.
No entanto, esse cenário não explica a inflação dos alimentos. A baixa procura pela crise social deveria fazer o preço baixar. Mesmo assim, os valores nos supermercados subiram muito nos últimos meses. E isto já vinha acontecendo antes da pandemia.
O que está acontecendo é que tem pouca comida em oferta no mercado. Quando a oferta é baixa, os preços sobem. É o que se chama de “inflação de escassez”. Como o povo de um país que se vangloria como um dos maiores produtores de alimentos do mundo enfrenta essa situação? A produção que bate recordes e aparece nos meios de comunicação é, sobretudo, para a exportação e se concentra em poucos produtos, como soja, milho, carnes e açúcar. Esta é a característica do agronegócio brasileiro.
A economia brasileira vai mal com Paulo Guedes e Jair Bolsonaro. O dólar está valorizado e “puxa” os preços internos para cima. Além disso, o cultivo da commodity soja ocupa cada vez mais o espaço da produção que, de fato, vai para a mesa do povo, como feijão, arroz, batata, mandioca e hortigranjeiros. Com isso, o governo importa esses produtos, mas como o real está desvalorizado, o preço é alto.
O governo culpa a seca. Em parte, é verdade. Tanto que a seca prejudicou a produção de feijão, mas não a da soja, plantadas no mesmo período. Desde o governo Michel Temer, a produção de alimentos do abastecimento popular não tem apoio governamental. Tudo foi entregue às “forças do mercado”. O mercado planta o que dá dinheiro imediato, como soja, milho e carne.
Entre as políticas públicas desmontadas com impactos desastrosos no preço dos alimentos está a desestruturação dos estoques públicos da Conab (Companhia de Abastecimento), que regulavam os preços para os agricultores e consumidores. Só políticas públicas de governo poderiam equilibrar essa situação, aumentar a produção e a oferta de alimentos e diminuir a inflação e combater a fome.
Só que isso não está na pauta deste governo, que não quis sequer comprar as vacinas de coronavírus para salvar a vida dos brasileiros. Agora, fica de costas para o problema do encarecimento do preço dos alimentos. No entanto, a dor da fome e da inflação vai continuar batendo no estômago e no bolso. O povo brasileiro não vai esquecer e dará o troco.
Na semana do Dia da Alimentação, que se celebra no 16 de outubro, é necessário plantar alimentos, esperança e luta, que são os fertilizantes vivos para colher um Brasil sem fome e sem miséria.
*Frei Sérgio Antônio Görgen, 65 anos, é franciscano, militante do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) e autor de “O Plano Camponês” (Editora Instituto Cultural Padre Josimo).
** Publicado originalmente no site Poder 360
*** Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Marcelo Ferreira