Mesmo com chuva, trabalhadores da educação pública estadual realizaram um ato em frente ao Palácio Piratini, manhã desta sexta-feira (15), Dia do Professor, exigindo reposição salarial para a categoria. A mobilização contou com a participação da comunidade artística, parlamentares e entidades sindicais e estudantis. Durante o ato, os manifestantes realizaram uma marcha fúnebre, acompanhada de tambores, e lançaram balões em homenagem aos trabalhadores da categoria.
Um dos pontos criticados foi o pacote de investimentos para a educação estadual, denominado Avançar na Educação, anunciado nesta quinta-feira (14) pelo governador do estado, Eduardo Leite (PSDB), no valor de cerca R$ 1,2 bilhão para obras e qualificação do ensino no RS. De acordo com o Executivo estadual, o projeto visa melhorar a infraestrutura física e tecnológica, assegurar a recuperação da aprendizagem pós-pandemia, qualificar o ensino público gaúcho de forma mais inclusiva e equitativa e capacitar os profissionais envolvidos.
“É um investimento histórico para a educação do RS. Mais do que isso, é um investimento que será aplicado de forma planejada, organizada e direcionada, a partir de diretrizes claras e transparentes determinadas pela Secretaria da Educação, que orienta a aplicação dos recursos. Ou seja, sabemos onde queremos ir e agora tem vento para nos levar”, afirmou o governador.
Pacote eleitoreiro
Para a presidente do Centro dos Professores do Estado do RS (CPERS Sindicato), Helenir Aguiar Schürer, o programa apresentado pelo governador nada mais é do que fazer campanha política. “Nós queremos que professoras, professores, trabalhadores da educação sejam valorizados por esse estado, coisa que não temos”, afirmou a dirigente à Rede Soberania.
Durante o ato, os trabalhadores gritavam "fora Leite", afirmando que o governador quer acabar com a educação.
A categoria reivindica a recomposição salarial de 47,82% para os servidores ativos, inativos e pensionistas vinculados à rede estadual. Segundo o CPERS, as perdas salariais da categoria estão nesta porcentagem devido aos sete anos sem aumento. O último reajuste ocorreu em novembro de 2014.
“Nunca a educação precisou de tanto apoio. Estamos nessa luta por reajuste, para os professores e funcionários de escola, porque se não a nossa pauta não será contemplada”, completou Helenir.
Um grupo de artistas fez uma intervenção artísticas simbolizando uma marcha fúnebre, onde retrataram o "pacote de maldades" do governo estadual. “Esse pacote simboliza a morte da educação pública do estado do RS. A pergunta é: nós vamos permitir a morte da educação pública no RS?”, questionou a entidade.
Luta pela educação
Ainda durante a manifestação, foi destacado os prejuízos que a reforma administrativa, através da PEC 32, pode trazer não somente aos servidores como também para a sociedade.
“Nós estudantes estamos juntos, caminhando lado a lado para combater esse projeto. Darcy Ribeiro já dizia que a crise na educação é um projeto. Por isso nós estamos nas ruas denunciando, combatendo o governo de Eduardo Leite que retira direitos e não tem preocupação alguma com a escola. Onde está a política desse governo para colocar a juventude novamente dentro da sala de aula, cadê o reajuste dos nossos professores, cadê a estrutura?”, questionou Airton Silva, da União Estadual dos Estudantes do Rio Grande do Sul (UEE RS).
Para a deputada estadual Luciana Genro (PSOL), a luta das educadoras e educadores é a verdadeira luta em defesa da educação. “Eduardo Leite mente, dinheiro tem, maior prova disso são os recursos que ele está anunciando agora para investir na educação. Ele esquece de um detalhe, não existe educação de qualidade com professores e professoras precarizados, com salário de miséria, há sete anos sem reajuste”, afirmou.
“Não há como celebrar o Dia dos trabalhadores e trabalhadoras da educação, do professor, da professora, sem estar na luta pela educação”, defendeu a deputada estadual Sofia Cavedon (PT). A parlamentar destacou que a comunidade escolar é a maioria. Ainda de acordo com ela, Eduardo Leite representa o projeto Bolsonaro no estado, e o programa apresentado por ele é “eleitoreiro” e “oportunista”.
Conforme pontuou o secretário de Organização da Central Única dos Trabalhadores do RS (CUT-RS), Claudir Nespolo, as entidades estão na luta para que o povo tenha consciência e entenda que o voto tem consequência, lembrando que o governador é um dos cotados para disputar a presidência da República. “Como ousa o governador que paga o pior salário dos professores do Brasil, ousar querer apresentar uma proposta de esperança para o povo? Ele não tem proposta de esperança. Ele tem proposta para os grandes empresários”, frisou o sindicalista, destacando o processo movido pelo governador em relação às privatizações. Ele também lembrou do Plebiscito Popular em andamento.
Ao fim do ato, Helenir disse ter orgulho dos professores e trabalhadores da educação que mesmo com chuva estavam na praça fazendo a luta pelo reconhecimento da profissão. “Quase 50% dos funcionários das escolas recebe um completivo para atingir o salário mínimo regional. O básico de um funcionário da escola é R$ 620,00. É uma vergonha, se o governo nos desse 47,82% que estamos pedindo, muitos funcionários não receberiam um centavo de reajuste”, alertou a dirigente.
Ao relembrar que outros governadores que atacaram a categoria acabaram caindo, citando Pedro Simon, Antônio Brito e Sartori, Helenir disse que também cairá o governo Leite. “Não adianta vir com plano megalomaníaco de escola de excelência se a gente sabe que no ano que vem, ele quer ser presidente, vai usar para fazer política. A melhor campanha que ele poderia fazer é respeitar os professores e dar nosso reajuste”, enfatizou.
A dirigente encerrou sua fala citando Paulo Freire, patrono da educação brasileira, ao afirmar que educar é um ato de amor, apesar de todas dificuldades. "Isso a gente faz mesmo tendo escola sem luz. Isso a gente faz mesmo com muros podendo cair. E quando chove, (a escola) vira uma cascata. Mesmo diante de todos os ataques à educação, vamos sair da praça dizendo que acreditamos e lutamos pela educação."
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Edição: Marcelo Ferreira