O 31° Seminário Estadual de Alternativas à Cultura do Fumo foi realizado nesta terça-feira (5), em formato virtual. Além de mostrar alternativas para agricultores não dependerem do plantio do fumo, esta edição focou também em mostrar como o plantio contribui para o aumento do problema da fome. Este seminário acontece há mais de 30 anos e é organizado pelas Dioceses de Santa Cruz do Sul, Santo Ângelo, Cachoeira do Sul, Cruz Alta e Santa Maria. Também participa da organização a Cáritas RS e a Comissão Pastoral da Terra.
A temática do conflito existente entre a cultura do fumo e a produção de alimentos sempre foi uma pauta destes seminários. Porém em um período de pandemia, onde o problema da fome ressurge com muita força, o tema ganha especial atenção. Desta forma, o deste ano ficou definido como "Mutirão pela Vida: Terra, Alimentação e Produção Orgânica", e o lema "Erradicando a fome, com alimentação saudável, em busca do bem viver".
Ambas as ideias estão relacionadas com o tema debatido e com o principal objetivo da realização destes seminários, já com três décadas de caminhada: a preocupação com a saúde dos agricultores que cultivam o fumo e os impactos ao meio ambiente da produção dos fumos e com as doenças ocasionados pelo próprio consumo dos cigarros, chamadas de doenças "tabaco relacionadas".
Seminário integra a Feicoop 2021
Por isso os seminários provocam os debates voltados para as alternativas ao cultivo do fumo. O seminário integra a programação da Feira Internacional do Cooperativismo (Feicoop). Inicialmente, foi apresentado um momento de espiritualidade, procedido por uma fala dos bispos das dioceses que organizam o evento.
Após, foi apresentada uma fala do Juliano Ferreira De Sá, atual presidente do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do Rio Grande do Sul (Consea/RS). Logo abaixo, compartilhamos a live na íntegra. Após, um resumo da fala do Juliano, focado na relação do problema da fome e como a cultura do tabaco e do fumo influenciam neste cenário.
Direito humano à alimentação saudável
Segundo Juliano, em tempos de fome, não basta ser solidário, mas se faz necessário entender os motivos que levam tantas pessoas passarem pelo problema da falta do alimento. Ele começou fazendo um resgate sobre o tema da segurança alimentar, afirmando que o tema não é uma novidade e que o mundo já vivenciou outras épocas em que o problema da fome se fez presente.
"O importante de ressaltar é que o tema da fome sempre foi tratado por alguns como a vontade de Deus e para outros como um fenômeno da própria natureza, ou até mesmo um tabu, algo que não se possa falar", afirmou.
Segundo Juliano, devido à esse histórico, ainda hoje é comum as pessoas naturalizarem esse problema, ou ainda fingirem que ele não existe.
Alimentação X Fumo
"Quando falamos em alternativas ao fumo, estamos falando do direito dos agricultores familiares terem sua soberania e não serem escravos de uma empresa fumageira ou qualquer outra grande indústria", relacionou Juliano.
Ele prosseguiu afirmando que hoje há uma grande ofensiva contra os pequenos e agricultores familiares. Lembrou que existem instrumentos que orientam a população sobre o consumo e a produção de alimentos, como o "Guia Alimentar Para a População Brasileira", que sugere que as populações possam optar pelos alimentos naturais (in natura) ou minimamente processados, vindos da pequena agricultura.
Juliano recordou ainda que políticas como as que constituíram o Guia Alimentar e o Programa Fome Zero encaminharam o país para ser reconhecido pela ONU como tendo mais de 98% da sua população vivendo em segurança alimentar, ou seja, saindo do conhecido Mapa da Fome.
Essas políticas relacionadas à soberania alimentar se relacionam com a questão do fumo pois, afirmou. Segundo ele, no momento em que há políticas públicas relacionadas ao incentivo e proteção da produção de alimentos saudáveis e acessíveis ao público, é possível perceber que há uma menor pretensão dos agricultores se dedicarem às culturas que não são alimentos. Ou seja, o cultivo do fumo como forma de sobrevivência está diretamente ligado à perda dos índices de segurança alimentar.
O presidente do Consea RS recordou que, com a perda dos recursos do Programa de Alimentação Escolar, muitos agricultores precisaram retornar ao cultivo do fumo, situação que deixa esses trabalhadores rurais totalmente sujeitos às vontades das empresas fumageiras. Uma das soluções, indicou, seriam políticas públicas que incentivem a produção de alimentos saudáveis (sem agrotóxicos e que não agridam o meio ambiente) e acessíveis (com preço competitivo).
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Edição: Marcelo Ferreira