“SE SOBRAR A GENTE COME”.
A frase do entrevistado desta edição do Brasil de Fato é uma síntese do país desesperançado que se impôs aos brasileiros após o golpe parlamentar-jurídico-midiático de 2016. Desde então, o Brasil desceu a ladeira de modo impressionante. A velocidade desse mergulho no abismo só aumentou após a posse de Jair Bolsonaro, o falso Messias convertido em jagunço do latifúndio, das federações empresariais, dos bancos, da Bovespa e dos picaretas de todos os naipes.
“SE SOBRAR A GENTE COME”.
É disso que se trata: de sobras. Viramos um país de sobras. Não é mais aquele das três refeições por dia. É o país da fila do osso, da disputa por carcaças, da gastronomia de pés de frango. É um país em que homens e mulheres comem a comida que antes iria para os bichos.
“SE SOBRAR A GENTE COME”.
Mil dias de destruição bolsonarista não resultaram só em menos comida. Também em menos emprego, menos salário, menos direitos, menos meio ambiente, menos cultura, menos saúde, menos educação, menos empatia, menos respeito. Um respeito, aliás, que o mundo perdeu pelo Brasil como atesta a troça que os jornais de todo o planeta fazem do governo perverso e mambembe que nos avilta e humilha dia sim outro também.
“SE SOBRAR A GENTE COME”.
Para peitar este estado de coisas que esbofeteia a nação é bom que nos sobre, na falta de tudo, muita indignação. E que essa indignação se transforme em mar revolto para se erguer, encrespar e varrer do mapa quem nos impôs a fome, a miséria, o desemprego, a ruína, a doença e a morte como maldições renovadas a cada dia.
Edição: Ayrton Centeno