Rio Grande do Sul

Direitos do Trabalho

Motoristas da Uber protestam em Porto Alegre contra cancelamento de contas e cobram reajuste

Sindicato expressou repúdio a bloqueio massivo de motoristas; empresa justifica medida por excesso de cancelamentos

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Carreata partiu do Largo Zumbi dos Palmares e foi até representação da Uber - Foto: Carolina Lima / CUT-RS

Dezenas de motoristas que trabalham para a Uber e tiveram suas contas bloqueadas estão mobilizados contra a medida em Porto Alegre. Na manhã desta quinta-feira (23), se reuniram no Largo Zumbi dos Palmares e foram em carreata até a representação da Uber, se dirigindo em seguida para a sede do Ministério Público. Os motoristas haviam protestado também na quarta-feira (22), em frente a sede da empresa na capital gaúcha.

O Sindicato dos Motoristas em Transportes Privados por Aplicativos do Rio Grande do Sul (Simtrapli-RS) divulgou uma nota expressando repúdio ao bloqueio massivo de motoristas praticado pela Uber nas últimas horas em todo o estado. “As condições de trabalho dos motoristas na Uber vêm se deteriorando já há bom tempo, mas particularmente nestes últimos meses de constantes e expressivos aumentos dos combustíveis”, destaca o sindicato.

Segundo a Uber, só estão sendo excluídos os motoristas que têm números excessivos de cancelamentos. A empresa alega que os motoristas bloqueados abusaram do recurso do cancelamento e “configuraram mau uso da plataforma prejudicando o seu funcionamento e prejudicando intencionalmente a experiência dos demais usuários e motoristas”.

O Simtrapli-RS contesta a justificativa. Assinala que “como a Uber não reajusta o valor que paga a seus motoristas desde 2016 é evidente que com a gasolina a 7 reais a situação está se tornando insustentável para muitos”. Afirma ainda que aqueles que, por falta de opções, com o aumento do desemprego em meio à pandemia, permanecem trabalhando como motoristas do aplicativo “são obrigados a se tornar mais seletivos na aceitação das viagens”.

Combustível reajusta, valor do motorista não

“Com o preço dos combustíveis e com que a empresa paga é muito comum a viagem se tornar deficitária e o motorista ter prejuízo para a que a Uber assegure seu lucro”, denuncia o Simtrapli-RS. “No lugar de reajustar o ganho dos motoristas (que no Rio Grande do Sul já estão defasados em mais de 50%), a Uber decidiu bloquear todos aqueles que considera que estejam cancelando demasiadas viagens. Centenas de motoristas que estavam apenas buscando uma forma de sobreviver numa conjuntura adversa foram definitivamente jogados pela Uber na rua da amargura”, protesta o sindicato.

Para o Simtrapli-RS, recusar viagens perigosas e deficitárias é um direito dos motoristas e as empresas não podem puni-los por causa disso. “A Uber deveria reajustar os ganhos dos motoristas, como fez em São Paulo, Florianópolis, Brasília e outras cidades, no lugar de puni-los por tentarem sobreviver”, salienta a entidade.


Simtrapli-RS luta por reajuste para motoristas no estado / Foto: Carolina Lima / CUT-RS

Motoristas estão pagando para trabalhar

A presidente eleita do Sintrapli-RS, Carina Trindade, avalia que o maior problema para os trabalhadores do setor não é mais a pandemia, pois a procura aumentou significativamente nos últimos meses. “O maior problema é o valor da corrida que está muito baixo”, esclarece. “Temos que calcular a distância e a trajetória até o cliente para saber se vale a pena fazer a corrida”, completa.

O presidente da Associação Liga dos Motoristas de Aplicativos do Rio Grande do Sul (Alma), Joe Moraes, fez uma comparação para apontar as perdas. “Em 2017, o quilômetro percorrido valia R$ 1,21, hoje é de no máximo R$ 0,90”, ilustra. “Em uma corrida de 5 km, o motorista paga para trabalhar”, diz.

A situação, acrescenta Moraes, é pior para quem trabalha com carro alugado. Ele revela que, com o valor elevado dos insumos e a falta de reajuste de preços, muitos estão deixando de trabalhar em transporte por aplicativo.

Em busca de nova mediação no TRT-4

O sindicato anunciou que tomará as medidas jurídicas cabíveis para assegurar os direitos dos motoristas de aplicativos e buscará imediatamente uma nova mediação junto ao Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT-4) para encontrar soluções para essa crise.

“Não podemos trabalhar no prejuízo e vamos mobilizar a categoria para aumentar o valor do quilômetro rodado, que está muito defasado no RS, agravado pela disparada dos preços dos combustíveis por causa da política da atual direção da Petrobras de indexação ao dólar”, aponta Carina.

O que diz a Uber

Confira nota da assessoria da Uber com o posicionamento da empresa sobre o caso:

“Motoristas parceiros são profissionais independentes e, assim como os usuários, podem cancelar viagens quando julgarem necessário. Cancelamentos excessivos ou para fins de fraude, porém, representam abuso do recurso e configuram mau uso da plataforma, pois atrapalham o seu funcionamento e prejudicam intencionalmente a experiência dos demais usuários e motoristas. A Uber tem equipes e tecnologias próprias que revisam constantemente as viagens e os cancelamentos para identificar suspeitas de violação ao Código da Comunidade e, caso sejam comprovadas, banir as contas envolvidas.

Comportamentos como a prática de cancelar diversas viagens em sequência e logo após terem sido aceitas prejudicam negativamente todos que usam a plataforma porque, de um lado, impedem que outros motoristas parceiros gerem renda atendendo as mesmas solicitações de viagens canceladas, e, por outro, deixam os usuários esperando mais tempo ou até desistindo da solicitação.

O abuso no cancelamento de viagens não tem nada a ver com a liberdade do motorista parceiro de recusar solicitações. Na Uber, o motorista é totalmente livre para decidir quais solicitações de viagem aceitar e quais recusar. A conexão entre parceiro e usuário – quando nome, modelo e placa do carro são compartilhados e o usuário recebe a confirmação de que o motorista está a caminho – só ocorre depois do motorista ter conferido as informações da solicitação (tempo, distância, destino etc.) e decidido aceitar a realização da viagem.”

* Com informações da CUT-RS


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Edição: Marcelo Ferreira