Um grupo de empresários do agronegócio de Passo Fundo, cidade de 204 mil habitantes da Região Norte do Rio Grande do Sul, resolveu homenagear o presidente Jair Bolsonaro com uma estátua de seis metros de altura. A iniciativa mobilizou a comunidade, cuja maioria é contrária ao projeto.
Prefeitura e Câmara Municipal não autorizaram a colocação do monumento de seis metros e construído com ferro-velho oriundo de máquinas agrícolas utilizadas na região. Pela falta de autorização, os organizadores estão escolhendo um terreno particular na Avenida Brasil, a principal da cidade.
As informações são do advogado e membro do Comitê pela Vida e Liberdade, Jabs Paim Bandeira. Segundo ele informou ao Jornal O Nacional, a ideia de construir uma estátua do presidente partiu do produtor rural José Volnei Dal’Maso. O passo seguinte foi procurar o artista plástico Jorge Luiz Grigolo. O trabalho iniciou há 60 dias. As despesas do projeto estão sendo custeadas pelo Comitê.
O Sindicato Rural também é um dos apoiadores. Conforme Bandeira, ainda não há um levantamento dos valores já investidos por estar em fase desenvolvimento. “Nossa intenção era fazer uma surpresa para o presidente quando ele viesse a Passo Fundo. O comitê já entregou um convite à assessoria de Bolsonaro para que ele visite Passo Fundo no dia 20 de setembro, feriado no Rio Grande do Sul alusivo à Revolução Farroupilha. Ainda não tivemos uma resposta confirmando a sua vinda, mas há uma grande possibilidade de acontecer”, disse.
No Facebook, Jabs fez a seguinte postagem: “Essa estátua que o mecânico Jorge (artista plástico) está montando com a imagem do presidente Bolsonaro, será inaugurada por ocasião que o presidente vier a Passo Fundo, para a motociata, cavalgada e tratorasso que está sendo organizado pelo Sindicato Rural e Pelo Comitê Pela Vida e Liberdade”.
Maioria teme pela imagem
Polo econômico e educacional da região, Passo Fundo já teve a fama de “Chicago dos Pampas”, graças a letra da música “Gaúcho de Passo Fundo” imortalizada por Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha. Um trecho da música ameaça: “Se alguém me pisar no pala meu revólver fala”. Quem lembra disso é o professor e filósofo Paulo César Carbonari.
Ele conta que desde os anos 1980 a comunidade da cidade vem lutando contra esta imagem, organizando atividades culturais como festivais de folclore, a Jornada de Literatura, e já haviam superado a visão negativa. “Trata-se de uma obra narcísica, no sentido de pessoas que gostam de se ver no espelho. Não é por nenhum feito especial”, afirma.
“Todos os monumentos são sempre controversos. Há uma espécie de desespero para ressaltar a memória do pior presidente da República pós-redemocratização", considera Carbonari, ao mencionar os escândalos governistas citados na CPI da Pandemia. Ele ressalta que Passo Fundo "se habilita para produzir uma imagem que já não é uma das melhores".
O ex-deputado estadual Juliano Roso, que também é historiador e presidente estadual do PCdoB, engrossa o coro contra o monumento. “Num momento em que a cidade ainda chora 663 mortos pela covid-19, por falta de atendimento e atraso na vacinação, é um absurdo homenagear a este genocida, um presidente que está fazendo com que o povo sofra na pandemia, na qual já morreram cerca de 600 mil pessoas.“
Lembrou ainda que Bolsonaro transformou o Brasil num país onde o preço de um botijão de gás passa de cem reais, o preço de um litro de combustível passa dos seis reais, com uma população gigantesca desempregada, onde a fome voltou a frequentar os lares. “Querer homenagear um presidente desta natureza, só se for uma homenagem à imbecilidade, à burrice, ao negacionismo, porque o presidente é contra a educação, contra a ciência, contra a vida”, justifica.
Segundo Roso, a cidade tem a estátua do Teixeirinha, que é um ícone da cidade, tem a estátua da mãe, que representa a força da mulher passo-fundense, o monumento em homenagem aos ferroviários e outros monumentos históricos. Ele salienta que "é importante que fique claro que essas pessoas são as mesmas que apoiaram o golpe contra a presidenta Dilma, as mesmas que apoiaram o golpe de 64. São os mesmos que impediram o presidente Lula de visitar a cidade, portanto, não é uma homenagem da população, é uma homenagem de uma minoria".
Roso disse que está estudando uma forma de proibir a colocação da estátua através de ação na Justiça. "Eles falam em colocar em um terreno particular, porém para qualquer construção que possa causar impacto urbanístico é necessária a autorização das autoridades competentes."
Idolatria
O professor Carbonari acrescentou que a utilização de imagens de pessoas é uma forma de idolatria praticada na política em regimes totalitários. "Todos os regimes deste tipo criaram um culto à personalidades com a produção de fotos e imagens", afirma.
No Rio Grande do Sul, o culto a imagem do 'mito' não é uma novidade. Desde a eleição de Bolsonaro produziram e colocaram a venda bustos em tamanho pequeno do presidente (12 cm). Uma empresa de Santa Cruz do Sul oferece via internet um busto do presidente produzido em impressora 3D.
:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato RS no seu Whatsapp ::
SEJA UM AMIGO DO BRASIL DE FATO RS
Você já percebeu que o Brasil de Fato RS disponibiliza todas as notícias gratuitamente? Não cobramos nenhum tipo de assinatura de nossos leitores, pois compreendemos que a democratização dos meios de comunicação é fundamental para uma sociedade mais justa.
Precisamos do seu apoio para seguir adiante com o debate de ideias, clique aqui e contribua.
Edição: Marcelo Ferreira