O Grito dos Excluídos e das Excluídas, tradicional manifestação popular que toma as ruas do Brasil no dia 7 de setembro com o lema "Vida em primeiro lugar", se uniu neste ano à campanha pelo Fora Bolsonaro. Em sua 27ª edição, em meio a retrocessos e movimentos antidemocráticos, afirma-se "na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda já!”. O dia chuvoso no Rio Grande do Sul não impediu que diversas cidades registrassem manifestações, que iniciaram pela manhã e se estenderam durante o dia.
A mobilização é organizada pelo Fórum RS do Grito, composto por várias entidades, movimentos sociais, centrais sindicais, partidos políticos e pastorais de diferentes religiões. Em Porto Alegre, o ato iniciou às 11h, sob o viaduto da Avenida João Pessoa. Abriu com um ato ecumênico, com representantes de variadas matrizes religiosas se manifestando em defesa da vida e contra as políticas de morte do presidente Jair Bolsonaro.
Durante o dia, um drive-thru solidário arrecadou alimentos não perecíveis para distribuição a famílias carentes da periferia. Houve ainda entrega da edição impressa do Brasil de Fato RS sobre a “Primavera da Democracia”, que divulga a realização do Plebiscito Popular sobre as privatizações no RS, marcado para o período de 16 a 23 de outubro.
Cruzes no chão lembraram as quase 585 mil vidas perdidas na pandemia do novo coronavírus. Como destacam as entidades, grande parte dessas mortes poderiam ter sido evitadas, não fosse o negacionismo do governo federal no combate à covid-19, o atraso na compra de vacinas e as denúncias de corrupção relevadas pela CPI da Pandemia.
"Independência, mas para quem? Nós mulheres sempre fomos excluídas dos espaços de poder e decisão e hoje precisamos estar lutando em defesa da vida porque nunca tivemos a independência das nossas vidas", afirma Fabiane Dutra da União Brasileira de Mulheres. "Nós podemos contribuir com toda nossa força e luta. Durante essa pandemia o que aumentou para nós? O trabalho doméstico não remunerado. Temos que ocupar os espaços de poder e decisão para mudar isso", complementa.
Dirigente da Tenda de Umbanda Caboclo do Sol, de São Leopoldo, Tatiane Gil destaca que não é possível que o povo fique calado e acabe vítima da pandemia e clamou pelo olhar solidário. "“Dentro das nossas vivências, das nossas rezas, a gente prega muito o amor, o olhar para o próximo, a gente prega solidariedade, a gente prega todos os sentimentos de amor ao próximo."
Com a mão esquerda estendida, Alex Cardoso, do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), salienta os motivos da luta. “Nós lutamos por causa do amor. Com essa mão esquerda nós juntamos indígenas, negras e negros, sem terra, sem teto, catadoras e catadores e fechamos nosso punho e é assim que a gente vai para a luta. Com chuva, com vento, não para o movimento, com sol, calor, não para o catador.”
Em nome da Via Campesina, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Jeronimo Pereira da Silva, conhecido como Xirú, saudou quem saiu de casa mesmo com chuva para fazer a luta. "A luta é dos trabalhadores e nós vamos sim seguir sempre na luta contra as privatizações e contra esse governo Bolsonaro." Ele destacou o desmonte do Estado brasileiro onde trabalhadores estão pagando o preço. "São mais de 67 milhões de desempregados, mais de 20 milhões não têm um prato de comida para comer."
“Somos mais de 20 milhões de brasileiras e brasileiros que não tem o que comer. A situação ainda é pior entre as mulheres, as famílias negras de baixa renda”, recorda o presidente do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do Rio Grande do Sul (Consea-RS), Juliano Sá. “Aqui no RS somos mais de 1,2 milhão de gaúchas e gaúchos que estão em situação de extrema pobreza, ou seja, que vivem com até R$ 89,00 por mês. Por esses e por essas que nós do Consea do RS nos somamos aos movimentos de igualdades. Só vamos superar essa fome, essa pandemia com união.”
Representando o Comitê do Plebiscito Popular, Ronaldo Schaeffer destacou a grande batalha frente ao governo que está “passando a boiada”. Segundo ele, com o Plebiscito Popular, a esquerda gaúcha está montando uma grande arma de pedagogia popular. “Precisamos acessar o povo e transformar essas bandeiras que para nós são políticas em bandeiras sociais. O plebiscito é uma ferramenta fantástica de exercício da democracia. Precisamos aproveitar essa primavera e fazer dela a Primavera da Democracia”, frisa.
A diretora da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), Gabriela Frison, ressalta que os estudantes estão desde 2018 nas ruas resistindo ao governo Bolsonaro. “Tenho orgulho da minha gurizada que luta contra os cortes, contra esse governo fascista, neoliberal que deixa o povo na miséria, na fome, morrendo sem educação, sem acesso à universidade.” Ao criticar o desmonte do ENEM, afirma que a força do movimento estudantil e dos trabalhadores vai “derrubar esse genocida do poder”.
“Não dá para celebrar a nossa soberania e independência quando vendem as nossas estatais, quando querem entregar os direitos e serviços públicos, enquanto acabam com a Seguridade, com a saúde e com o direito ao trabalho”, critica o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci. “Por isso a gente denuncia e luta. Denuncia as mortes, mas anuncia a esperança porque nós não sairemos das ruas, porque as ruas são nosso lugar de luta e só vamos sair quando derrotarmos esse governo genocida.”
Por volta das 14h30, parte dos manifestantes decidiu seguir sob o viaduto, enquanto outra parte saiu em caminhada, mesmo sob chuva, pelas ruas da capital gaúcha. Após percorrerem a Cidade Baixa, o grupo encerrou a manifestação no Largo Zumbi dos Palmares.
Transmissão dos atos no RS
O Brasil de Fato RS transmitiu as manifestações do Rio Grande do Sul em uma cobertura coletiva de veículos independentes. Foram mais de seis horas de transmissão, que acompanhou o ato em Porto Alegre e outras cidades do interior. Assista:
Mais fotos de Porto Alegre
Interior do RS
Devido às fortes chuvas que caíram em todo o estado, diversas manifestações do Grito dos Excluídos e das Excluídas previstas para ocorrer durante o dia foram canceladas. O município de Pelotas contou com uma intensa programação. Durante a manhã foram realizadas atividades em diferentes localidades da periferia da cidade. À tarde, ocorreu o ato pelo Fora Bolsonaro, no Largo Mercado Central.
Leandro Cebati, do Sindicato dos Bancários de Pelotas, destacou a importância de não recuar na luta. “Estarmos unidos é muito importante, temos que combater os fascistas”, afirma.
Professora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Celeste Pereira, considera fundamental estar nas ruas dizendo que não dá para continuar aceitando as coisas como estão. “A vida numa carestia absoluta, as pessoas desempregadas, sem perspectiva e esse presidente genocida dizendo atrocidades durante o tempo. Temos que dizer chega.”
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Edição: Katia Marko