A postura da Federação de Agricultura/RS (Farsul) lançando nota onde ataca o Supremo Tribunal Federal e o Senado Federal, além de manifestar apoio às manifestações bolsonaristas do 7 de Setembro, está rendendo críticas à iniciativa. “Não se pode confundir ameaça e incitação à violência contra as instituições e seus integrantes com a garantia constitucional da liberdade de expressão”, reage a advogada Maritânia Dallagnol, coordenadora da Associação de Juristas pela Democracia (AJURD).
“A nota da entidade é ambígua: defende o Estado Democrático de Direito e as manifestações de confronto e conflito do presidente”, questiona o ex-presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais/RS, Heitor Schuch, hoje deputado federal pelo PSB. Para Maritânia, porém, não há ambiguidade: “A nota explicita sua adesão às manifestações antidemocráticas, de ameaça à estabilidade constitucional e que atenta contra as instituições da República”.
Mesmos argumentos de Bolsonaro
O texto da Farsul, assinado pelo seu presidente Gedeão Pereira, declara “repúdio ao viés político adotado pela mais alta corte do Poder Judiciário brasileiro, assim como a omissão de posição do Senado Federal diante de seu papel institucional”. Na interpretação da entidade são atitudes “que nos levam a significativo grau de desarmonia entre os poderes da União”.
Desta maneira, vocaliza as mesmas críticas ao Supremo e ao Senado provenientes do presidente Jair Bolsonaro e de seus apoiadores, atribuindo-lhes a responsabilidade pelos problemas enfrentados pelo governo.
No comunicado, “sempre respeitando as leis”, segundo enfatiza, o conselho de representantes da Farsul expressa “apoio ao movimento cívico, pacífico, ordeiro e democrático de 7 de Setembro”.
Adesão ao golpismo
Para a coordenadora da AJURD, ao atacar o STF sob acusação de ter adotado “viés político” e decidido contra as liberdades individuais, a Farsul “faz coro a estas manifestações criminosas”. Ao atacar o Senado, acusando-o de “omissão de posição frente ao seu papel institucional”, a entidade “adere e reforça as manifestações de cunho golpista convocadas para o 7 de Setembro”.
A atitude da Farsul contrasta até com a da também conservadora Federação das Indústrias/RS (Fiergs). No dia 3 deste mês, a Fiergs soltou uma nota curta e cautelosa – sem citar personagens ou instituições – sobre os eventos, reparando que “o 7 de Setembro é uma data de celebração, não de tumulto”. Exaltou a necessidade de “união dos Poderes da República”. No comunicado, argumenta-se que “nenhum Poder pode exorbitar dos seus limites para se colocar acima dos demais”. E, por fim, adverte que "o radicalismo divide o país e inibe as atitudes e decisões que a sociedade requer".
Combate frontal a Brizola
Integrada por 138 sindicatos rurais, distribuídos por 13 regionais, a Farsul é uma das forças que aglutina grande parte do campo conservador no Rio Grande do Sul, sobretudo pecuaristas e produtores de soja e arroz. Nos últimos 60 anos, fez oposição cerrada a todos os governos de perfil reformista ou democrático-popular.
Foi assim contra o mandato de Leonel Brizola como governador (1959-1963). Quando Brizola criou o Instituto Gaúcho de Reforma Agrária (IGRA) em 1961, a federação dos fazendeiros combateu frontalmente a ideia desde o começo, combate que cresceu depois que o governador passou à ação apoiando os agricultores sem terra que acamparam nos arredores da fazenda Sarandi, no Norte Gaúcho. A inconformidade dos grandes proprietários aumentou ainda mais quando 1,5 mil camponeses ocuparam terras da União e do estado em Camaquã, na região Sul do RS, e foram respaldados pelo governador.
Pelos golpes contra Jango e contra Dilma
No advento do golpe de 1964, a Farsul preparou o terreno no Sul fomentando a mobilização contra o governo João Goulart. Na época, valendo-se de sua capilaridade que lhe garantia presença em todo o território gaúcho através de seus sindicatos filiados, cumpriu papel decisivo na criação do ambiente de oposição ao governo Goulart.
Na redemocratização, os ruralistas locais bateram-se constantemente contra os mandatos dos petistas Olívio Dutra e Tarso Genro no Palácio Piratini. E foram oponentes dos governos Lula e Dilma. Em 2016, a Farsul defendeu o impeachment de Dilma, alegando preocupação com “o cenário de instabilidade político-institucional que, sem solução, agrava-se dia-a-dia e coloca em risco as Instituições do Estado Democrático de Direito do Brasil (...)”.
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Edição: Marcelo Ferreira