Estamos a um dia do 7 de Setembro de 2021. Bolsonaro está há duas semanas convocando os seus asseclas para o que ele chama de uma mega-manifestação de seus apoiadores com o objetivo de respaldar o seu esforço de quebrar a resistência do STF contra os seus atropelos aos ditames da Constituição. As redes sociais bolsonaristas estão furiosamente mobilizando para as manifestações, em particular para as de São Paulo e Brasília.
Há muita fumaça e provavelmente pouco fogo nestes arreganhos. Começou com a convocação dos caminhoneiros para uma paralisação nacional “até que o STF dobre” os dois ministros que incomodam mais o candidato a ditador. Também foi mobilizada a base ruralista para trazer tratores e paralisar Brasília. Policiais militares se manifestam pelas redes em apoio às manifestações, sendo que vários se propõem a delas participar (fardados? armados?). Há uma apreensão em relação ao comportamento destas polícias, notoriamente aditas ao bolsonarismo. Que podem fazer? Apoiar as manifestações mais radicais como a invasão do STF e/ou do Congresso, abertamente defendida nas redes sociais? Ou simplesmente deixar rolar estes atos extremos?
A paralisação dos caminhoneiros já deu um xabú retumbante com várias lideranças importantes da paralisação de 2018 se dissociando do extremismo. A mobilização dos tratores defendida pelo presidente da Aprosoja encontrou uma forte reação de figuras de proa da categoria, como o ex-ministro da Agricultura e ex-governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, desautorizando a iniciativa como sendo algo individual e não da Associação. Os tratores chegarão à Esplanada? Quantos? Vão desfilar ou bloquear a Praça dos Três Poderes? Tudo isso parece estar em processo de redução das proporções desejadas por Bolsonaro e proclamadas por seus seguidores.
Mas a possibilidade de Bolsonaro mobilizar milhares de seguidores fanáticos é bem real. Toda a máquina bolsonarista está mobilizada e muito dinheiro está sendo gasto para transportar e pagar três refeições para quem for lá urrar pelo mito. Dois milhões na Avenida Paulista? Nem sonhando. Mas cem mil já seria um grande sucesso.
Provocar conflitos com manifestantes do Grito dos Excluídos, convocados pela CNBB, ou com os da frente de esquerda Fora Bolsonaro, juntos ou separados, é também uma possibilidade real, assim como a ação das polícias de São Paulo e Brasília para ajudar os provocadores e semear a violência e o terror. Mas a possibilidade do golpe ser dado neste momento é remota, remotíssima. A questão política chave, no imediato, vai ser a comparação entre as manifestações pró-Bolsonaro e anti-Bolsonaro. Provavelmente o balanço vai ser a favor deles pois a oposição se dividiu em relação a fazer ou não as manifestações no dia 7 e ainda fazê-las unificadas ou não. Os bolsominions vão cantar vitória e o mito vai dizer que o povo está com ele, porém o mais importante não vão ser os números do dia 7 mas o que vai acontecer depois.
Não vai ser exatamente um “day after”, mas o “weeks after”, o que vai ocorrer nas duas a três semanas depois do dia 7. A oposição pode e deve convocar a sua mega-manifestação para afundar de vez as pretensões de Bolsonaro. A esquerda já mostrou que pode colocar 700 mil manifestantes em todo o país e, simbolicamente, no exterior. Mas isto é pouco para dar um basta no candidato a ditador. Precisamos de milhões.
Minha proposta é que a mega manifestação seja convocada por uma ampla frente encabeçada por entidades não marcadas partidária nem ideologicamente, tipo CNBB, OAB, ABI e SBPC, como nas Diretas Já. Todas as outras entidades sindicais, associativas e partidárias deveriam entrar na convocação apoiando a iniciativa das primeiras. É a nossa possibilidade de romper com a bolha em que se encontra a esquerda.
Amigos militantes têm-me dito que estas entidades “desmarcadas” não têm base organizada e não têm capacidade de mobilização. É um enorme erro de avaliação. Lembra-me a pergunta feita por Napoleão: “quantas divisões tem o papa?”. Não importa quem foi o autor da frase, o erro ficou provado. O poder intangível, moral, é uma arma imensa. A possibilidade destas entidades sensibilizarem os opositores que querem desalojar Bolsonaro, mas não se sentem à vontade em manifestações dominadas abertamente pela esquerda, é bem real. Aliás, é melhor que assim seja porque sem isso estaremos limitados às nossas bases orgânicas e, se elas são importantes e aguerridas, elas também são minoritárias.
Esta manifestação tem que ser marcada pela centralidade da palavra de ordem Fora Bolsonaro Já! As denúncias dos impactos da desastrada política de controle da pandemia da covid, do desemprego, da fome, da destruição ambiental, das agressões a mulheres, indígenas, negros, LGBT+, do desmonte dos direitos dos trabalhadores, do fim da reforma agrária, do descalabro na educação, na ciência e na cultura, da crise econômica e da corrupção, devem estar presentes para mostrar porque queremos Bolsonaro fora do Planalto. Mas mais do que tudo, devemos manifestar a defesa do STF e da democracia, denunciando as ameaças do uso das forças armadas e das polícias e milícias contra o Estado de Direito.
Não é a hora de disputarmos quem tem mais bandeiras e mais gente “encamisetada”, quem tem o controle dos microfones ou quem tem a palavra de ordem mais gritada. É hora de buscar gritos uníssonos e cores comuns. Fora Bolsonaro Já e verde e amarelo.
* Jean Marc von der Weid é ex-presidente da UNE 69/71, agroecólogo e militante do movimento Geração 68 Sempre na Luta
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
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Edição: Marcelo Ferreira