De forma uníssona, por todo o Brasil e também em diversas cidades ao redor do mundo, centenas de milhares de pessoas voltaram às ruas para gritar Fora Bolsonaro, neste sábado (24). Reivindicaram vacina no braço, comida no prato e expressaram indignação com as denúncias de corrupção na compra dos imunizantes. No Rio Grande do Sul, o dia ensolarado de inverno fez com que cerca de 100 mil gaúchos fossem às ruas demonstrar seu descontentamento com o governo federal em mais de 60 cidades.
Os manifestantes também lembraram a ameaça do governo Bolsonaro às eleições de 2022, pontuando o desejo do presidente e de alguns dos seus ministros pela volta do voto impresso. Como o caso do ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, que teria condicionado as próximas eleições à aprovação no Legislativo do voto impresso.
Durante as caminhadas, tanto no Interior quanto na Região Metropolitana de Porto Alegre e na Capital, muitas pessoas nos comércios, nas calçadas e nas janelas dos prédios manifestaram apoio às manifestações.
Respeitando o distanciamento, usando máscaras e álcool gel, os manifestantes, através de cartazes e faixas, denunciaram os ataques do governo Bolsonaro, o desmonte das políticas públicas e a corrupção do governo federal. Lembraram ainda das quase 550 mil vidas perdidas para a covid-19 no país. Destaque também para a presença de bandeiras no Brasil, símbolo que até recentemente estava restrito a manifestações da direita.
O Brasil de Fato RS realizou uma cobertura colaborativa ao vivo das manifestações no estado. A iniciativa, novamente, é fruto de uma rede de comunicação composta por veículos de comunicação alternativos e entidades em todo o RS.
COBERTURA ESPECIAL DOS ATOS FORA BOLSONARO NO RIO GRANDE DO SULPosted by Brasil de Fato RS on Saturday, July 24, 2021
Porto Alegre tem atos cada vez maiores
Em Porto Alegre, a sequência de atos pelo fora Bolsonaro que iniciou em maio registra, a cada edição, mais pessoas nas ruas. Neste sábado, a estimativa é 90 mil pessoas, entre juventude, artistas, sindicalistas, movimentos sociais, representantes de partidos políticos da esquerda, manifestantes sem ligação com entidades e famílias.
Após concentração na região central da cidade, que reuniu as pessoas nos arredores da prefeitura e da Esquina Democrática, onde ocorreram diversas intervenções, a caminhada partiu, por volta das 16h, em direção à Avenida João Pessoa, fazendo uma volta pela Cidade Baixa.
Demonstrando a imensidão de manifestantes, enquanto a frente da passeata chegava ao local de encerramento, o Largo Zumbi dos Palmares, já no entardecer, ainda haviam pessoas caminhando na Avenida Salgado Filho.
Luiz Antonio Pazinato, da Pastoral da Terra, afirma que o ato é muito importante para mostrar que a sociedade não aceita o desgoverno que corta as políticas públicas para os agricultores, para os pequenos, e que deixa de atender a população que mais precisa. “É também um ato que visa mobilizar a sociedade civil para dizer um basta a esse governo corrupto e genocida que não atende as pessoas que estão passando necessidade, não atende as famílias que perderam seus entes para a covid-19. Por isso temos que nos organizar e ir às ruas e falar fora Bolsonaro.”
Pela primeira vez em um ato na Capital, a assentada da reforma agrária de Hulha Negra Marciane Fischer, mãe e mulher feminista, destacou a crescente mobilização em torno dos protestos. “A juventude, os artistas unidos, em um mar de bandeiras a favor do fora Bolsonaro”, relata.
Integrante do grupo Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta Favela, Pâmela Cassiele da Luz Brates, destacou que o coletivo está presente ao ato pelos ataques do governo federal à classe artística. “Nós estamos representando um coletivo de artistas que foi muito desmontado na gestão do Bolsonaro. Inclusive, Bolsonaro criminalizou a nossa profissão e é por isso que estamos na rua tocando os nossos instrumentos, levando arte, na luta pela vacina no braço, por renda e pelo direito digno da classe trabalhadora”, afirma.
Em alusão ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, a servidora pública Tamyres Filgueira destacou o momento difícil por qual passa o país e, principalmente, a população negra. “Nós sofremos com todas as consequências que a pandemia vem causando, o aumento do subemprego, o preço dos alimentos, as mortes. Nós mulheres negras somos mães de família, muitas vezes sendo a garantia do sustento familiar. É um dia importante pra reafirmar nossa luta por direitos.”
Intervenção em defesa de Cuba
Uma intervenção realizada no ato em Porto Alegre defendeu a soberania do povo cubano. “Cuba é, para nós que lutamos por uma América Latina livre para construir seu próprio destino livre do império, uma referência fundamental. Por isso, a manifestação por Fora Bolsonaro neste 24 de julho vem acompanhada do apoio a luta por soberania de Cuba e, portanto, pelo fim do bloqueio econômico imposto há 60 anos pelos Estados Unidos”, explica Zadi Zaro, da organização Emancipação Ecossocialista do PSOL.
Segundo Marajuara Azambuja, da Associação Cultural José Martí do RS, “a esquerda brasileira, os partidos progressistas e o movimento social têm o dever de defender a Revolução Cubana, pelo legado humanitário e internacionalista e no Brasil. Especialmente pela vinda dos médicos e médicas cubanas, durante o programa Mais Médicos. Por isso, também convidamos todos e todas a se fazerem presentes no dia 26 de julho, dia da Rebeldia Cubana, para exigir o fim do bloqueio a Cuba, às 12 horas, em frente ao Consulado dos EUA, em Porto Alegre”, convida.
A militante da UJC, juventude do PCB, Carol Santos, reforça que o bloqueio econômico a Cuba, que já sofreu grandes impactos com o fechamento do turismo pela covid-19, é um crime contra a humanidade. “Os EUA penalizam a população cubana, em meio à enorme pandemia sanitária, com uma guerra econômica, na prática, uma tentativa de impor um sistema político e econômico que beneficie o próprio EUA. Discursos disfarçados de Biden, não mudam a cruel realidade que seu projeto político liberal impõe as demais nações. É uma vergonha o posicionamento do Brasil na votação da ONU sobre a questão do bloqueio”, critica.
Zadi Zaro destaca que o que está em jogo em Cuba, no Chile, no Peru, na Colômbia, no Brasil, é o futuro da humanidade e de incontáveis seres vivos cujos biomas têm sido destruídos na sanha de lucratividade. “Os que se consideram donos do planeta não suportam o exemplo vivo de Cuba, em defesa do mais lindo sonho já construído pelos seres humanos: um mundo livre da exploração e de todas as formas de opressão. Por isso seguimos irmanadas na luta contra o bloqueio genocida.”
Novo Hamburgo
O ato em Novo Hamburgo reuniu famílias, como o caso da professora Juliana Araújo de Melo. “Estou aqui com a minha família, com meus filhos, porque eu acho muito importante ter a consciência do momento que o país está vivendo. Às vezes a gente tenta explicar pros filhos, então a gente tem que envolver eles para terem a consciência”, explica.
A assistente comercial de marketing Kezia Priscila Lopes da Silva tinha acabado de se vacinar e ao chegar no centro da cidade parou na esquina de uma das ruas para acompanhar a caminhada. Emocionada ela falou da importância do ato e da vacinação.
“Acho que esse ato é muito relevante, parece até meio clichê falar se é importante ou não. Eu estava esperando para fazer a vacina, mas fica uma sensação de empatia e de tristeza por quem não conseguiu. Minha mãe também vacinou hoje, então fica esse misto de sensações, era para ser um momento maravilhoso, mas não tem como não pensar nas pessoas que não puderam se vacinar”, diz Kezia.
Assim como Kezia, a gerente de loja Silvana Moscar Santana não pode estar no ato, já que estava trabalhando. Mesmo assim, ela saiu rapidamente para mostrar apoio às manifestações. A lojista destacou a alta dos preços dos produtos do dia a dia e disse que o momento pelo qual o país passa é muito complicado. “Fora Bolsonaro”, finaliza.
Caxias do Sul
Em Caxias do Sul, na Serra gaúcha, manifestantes foram às ruas para pressionar pelo fim do governo Bolsonaro. Joceli Queiroz, integrante da União Brasileira de mulheres e do Conselho Municipal do Direito das Mulheres ressalta que o ato é pela vida de todos brasileiros e brasileiras. “É fora Bolsonaro pela soberania e democracia do Brasil”, afirma.
“Estamos aqui mais uma vez em um ato fora Bolsonaro, em defesa do emprego, da saúde, em defesa das pessoas. Esperamos que vocês venham para rua também e participem, só com o povo se indignando é que faremos a mudança desse governo”, convoca Ivanir Perrone, vice-presidente do Sindicomercíários e da diretoria da CTB-RS.
Santa Maria
No município de Santa Maria, região central do RS, manifestantes realizaram uma caminhada pelas principais ruas do centro da cidade. “Não é nada mal no momento aproveitar essa queda de popularidade do Bolsonaro, o presidente com mais rejeição entre todos os presidentes que tivemos no país. Agora é povo na rua, é muita luta dos trabalhadores, é a unificação dos trabalhadores em defesa da vida, no sentido de avançar o país para frente, com a retirada do Bolsonaro e Mourão também”, destaca Vanderlei dos Santos Pereira, do Movimento Nacional de Luta pela Moradia de Santa Maria.
Veja mais fotos de manifestações pelo RS
:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato RS no seu Whatsapp ::
SEJA UM AMIGO DO BRASIL DE FATO RS
Você já percebeu que o Brasil de Fato RS disponibiliza todas as notícias gratuitamente? Não cobramos nenhum tipo de assinatura de nossos leitores, pois compreendemos que a democratização dos meios de comunicação é fundamental para uma sociedade mais justa.
Precisamos do seu apoio para seguir adiante com o debate de ideias, clique aqui e contribua.
Edição: Katia Marko