O povo de novo está na rua em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul e em todo Brasil
1968 está encravado na história brasileira, especialmente por três acontecimentos: o assassinato do estudante Edson Luís de Lima Souto, a Passeata dos 100 mil e o AI-5, Ato Institucional número cinco.
No dia 28 de março de 1968, o estudante Edson Luís de Lima Souto, de 18 anos, foi assassinado pela Polícia Militar no Restaurante Calabouço, Rio de Janeiro. Os estudantes não deixaram a Polícia Militar recolher seu corpo, para evitar que desaparecesse. Levaram-no direto à Assembleia Legislativa, onde foi velado.
A partir do assassinato de Edson Luís começaram, em crescimento, as mobilizações de protesto. Até acontecer a Passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro, em 26 de junho de 1968. 100 mil pessoas na rua denunciando o assassinato, denunciando a ditadura, exigindo a volta da democracia. Eram estudantes, religiosos, artistas, intelectuais, profissionais liberais na rua, e povo se juntando à Passeata enquanto ela acontecia. As principais reivindicações eram: restabelecimento das liberdades democráticas, suspensão da censura à imprensa, concessão de mais verbas para a educação. A UNE estava na ilegalidade desde 1964, mas realizava seus Congressos clandestinamente.
As mobilizações foram crescendo ao longo de 1968. A resposta do regime militar, do Marechal Costa e Silva, então presidente da República, foi a edição de um Ato Institucional em 13 de dezembro, com endurecimento político e o fim definitivo do pouco que restava de democracia no Brasil, com mais censura e repressão.
A partir do AI-5, o presidente da República podia decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores, e decretar o estado de sítio. Havia total concentração do poder no Executivo. Os atos praticados a partir do AI-5 não tinham apreciação judicial. Qualquer cidadão podia sofrer suspensão ou cassação de seus direitos políticos e individuais. Foi criado o DOI-CODI, Departamento de Operações e Informações e o Centro de Operações de Defesa Interna, forma de controlar a vida de cidadãs e cidadãos e de institucionalizar a tortura, que a partir daí passou a fazer parte do cotidiano dos presos políticos. Era o regime militar na sua fase mais dura e violenta: fim das liberdades democráticas, fim dos direitos individuais, fim do pouco que restava de democracia.
A geração 68, apesar de tudo, resistiu na luta. E nos anos 1970, aos poucos, mesmo com toda repressão, tortura, assassinatos, exílio, permaneceu lutando pela volta da democracia.
Estamos em 2021. A geração 68 vem marcando presença física nas marchas e mobilizações de VACINA NO BRAÇO, COMIDA NO PRATO, FORA BOLSONARO. Estará presente, na rua, dia 24 de julho, sábado, em Porto Alegre e em todo Brasil.
Porto Alegre, junto com a Região Metropolitana, está se mobilizando para fazer a Passeata dos 100 mil em 24 de julho de 2021. Em 29 de maio, foram mais de 30 mil nas ruas de Porto Alegre. Em 19 de julho, mais de 50 mil. Agora, serão 100 mil.
Porto Alegre e o Rio Grande do Sul têm exemplos históricos de grandes mobilizações e povo na rua em defesa da democracia. A Campanha da Legalidade, sob a liderança de Leonel Brizola, garantiu e ampliou por algum tempo a democracia no início dos anos 1960. A resposta da direita e dos militares foi o golpe de 1964, com apoio dos EUA.
As greves no final dos anos 1970, especialmente a dos bancários e da construção civil em Porto Alegre, e as ocupações de terra no campo e na cidade fizeram avançar o declínio do regime militar, garantir empregos, salários mais dignos e direitos para trabalhadoras e trabalhadores urbanos e rurais.
As grandes mobilizações por Diretas Já e por uma Constituinte exclusiva e soberana, nos anos 1980, fizeram avançar a redemocratização. Conquistaram mandatos populares e governos democráticos-populares, com o OP (Orçamento Participativo), com políticas públicas e participação popular. E trouxeram o FSM (Fórum Social Mundial), ‘um outro mundo possível’, a Porto Alegre e ao Rio Grande do Sul.
A eleição de Lula em 2002 e a de Dilma aconteceram sob intensa mobilização da sociedade. Levaram o Brasil a sair do Mapa da Fome pela primeira vez na história, à conquista de direitos para os mais pobres entre os pobres, a um salário mínimo mais digno e ao (quase) pleno emprego, e a um inédito reconhecimento do Brasil no plano internacional. A resposta das elites, com o apoio das Forças Armadas e dos EUA, mais uma vez foi o golpe, até se chegar, com seu apoio, ao atual governo necrófilo, antidemocrático e genocida.
O povo de novo está na rua em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul e em todo Brasil. Para garantir a soberania nacional, reconquistar a democracia, exigir direitos e o fim da fome, da miséria e do desemprego crescentes. Para reivindicar reformas estruturais como a política a agrária, o fim da escandalosa desigualdade social e econômica e de uma das maiores concentrações de renda do mundo, a brasileira.
Povo na rua, a boa luta continua!
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Marcelo Ferreira