Rio Grande do Sul

Orgânicos

Camponeses conquistam agroindústria para beneficiamento de ovos orgânicos no RS

Além da agroindústria, famílias de Ametista do Sul passam a contar com equipamentos e 1.000 pintainhas

Brasil de Fato | Seberi (RS) |
A produção de desta raça ovos inicia 21 semanas depois da chegada das aves - Debora Varoli

Em meio às pedras preciosas, famílias do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) de Ametista do Sul (RS) conquistaram agroindústria para beneficiamento de ovos orgânicos e caipiras. A primeira leva de poedeiras colônias Embrapa 051 chegou no mês de junho. Além da produção de ovos orgânicos esta raça permite também bom aproveitamento para o consumo da carne.

A conquista do entreposto e equipamentos se deu após intensa jornada de lutas e é uma alternativa de renda e produção sustentável que resulta em qualidade e na manutenção da vida das famílias camponesas. A família de Utalino Fernandes Júnior, morador da linha Barreiro Grande, foi uma das beneficiadas. Para ele, a chegada das pintainhas é central para a permanência dos filhos na roça.

“A importância é que vai ter uma renda a mais pra nós, pros meus filhos, e com a renda incentiva mais aos filhos ficarem no campo, porque na cidade não é fácil. Estou fazendo de tudo pra ver se eles ficam aqui comigo, trabalhando no interior, no campo”, afirma.

Utalino tem pomar de laranja, 30 colmeias de abelha e agora conta com aviário para a produção de ovos caipira. “Tivemos em Porto Alegre acampados no Chocolatão por duas semanas pra conquistar os R$ 10 mil, naquela época era só pra fazer investimento. Nós conseguimos lutando e devagar fomos fazendo o aviário”, fala o camponês sobre o processo de luta para conquistar Programa Camponês, que viabilizou o entreposto.

“O entreposto é a agroindústria, porque o agricultor e a agricultora não podem vender ovo. Mesmo que o aviário seja legalizado, sem ele passar por um mínimo de agroindústria, que é onde embala, classifica, vê se está trincado ou rachado e faz uma limpeza adequada no ovo”, explica Debora Varoli, da coordenação do MPA na região. 

Segundo ela, a construção dos aviários se dá desde o governo Tarso, quando havia o Programa Camponês para transição agroecológica, que foi uma linha de crédito desbancarizada destinada à agricultura familiar.


É no entreposto que fica o ovoscópio, equipamento que garantirá a sanidade dos ovos / Debora Varoli

A camponesa Marines Ferri dos Santos, moradora da linha Santo Antônio, diz que a produção de ovos orgânicos é a realização de um sonho. “Sempre tive esse sonho de produzir orgânicos e a nossa produção já é orgânica. Todos os alimentos que nós plantamos e produzimos são orgânicos. Então essa é mais uma etapa que eu estou realizando. A criação das galinhas poedeiras é mais um sonho realizado”, celebra.

Marines também acredita que esta conquista é uma forma de gerar renda com qualidade de vida para ela, o marido e os filhos. “Eu gostaria muito, quando a produção der certo, que meu esposo saísse do garimpo. E eu tenho dois filhos que também trabalham pra fora, então eu gostaria de aumentar a produção e ter eles perto”, desabafa a camponesa. João Maria, seu marido, é garimpeiro em Ametista, que como o nome da cidade sugere, tem sua economia baseada na extração desta pedra.

A preocupação com a saúde do marido aumentou com a chegada da covid-19, uma vez que os garimpeiros ficam expostos ao pó do basalto no interior das furnas subterrâneas, tornando o sistema respiratório mais frágil. Por isso, é tão importante para Marines contar com a possibilidade de geração de renda a partir da agroindústria. “É muito gratificante saber que o empenho, o esforço tá dando certo, estou muito contente e espero que dê tudo certo. É muito importante pra mim”, completa.

Foram alojadas 1.000 pintainhas divididas em dois aviários. As famílias de Marinês e Utalino ficam responsáveis por garantir o cuidado e alimentação, toda de base orgânica, para as poedeiras. Segundo a Embrapa, durante todo o ciclo produtivo, cada galinha tem potencial para produzir 345 ovos. Os ovos então são recolhidos e levados até o entreposto, onde são beneficiados, classificados e então embalados e comercializados em feiras e mercados.

A assistência técnica e a gestão da agroindústria é realizada pela Cooperbio, cooperativa ligada ao MPA à qual as duas famílias são associadas. Tanto Marinês quanto Utalino serão pioneiros na produção de ovos orgânicos a partir da agricultura camponesa familiar na região. “Tenho fé que vai dar certo porque a Cooperbio tá se esforçando bastante, trabalho fora do sério e a união faz a força. Aí acho que vai dar certo”, finaliza Utalino.


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Edição: Marcelo Ferreira