O grupo de teatro Nau da Liberdade, composto por usuários, estudantes e trabalhadores que navegam pelas águas da saúde mental, convida a todas e todos para fazer parte de uma corrente de solidariedade e contribuir com o financiamento solidário Sol em Casa: arte e vida. A fim de potencializar a campanha, o grupo realiza, neste domingo (18), às 17h, uma live solidária através do seu perfil no Instagram (@naudaliberdade).
A Sol, Solange Gonçalves Luciano, é integrante da Nau da Liberdade desde 2003. Tem um trabalho reconhecido e importante como inventora e artista visual com seus painéis enormes e suas vestes falantes. Porém, a casa onde vive, que também é seu atelier, localizada na Lomba do Pinheiro, na periferia da Capital, está com diversas goteiras.
A vakinha online tem o intuito de arrecadar R$11.150,00 para o conserto do telhado. Para contribuir com qualquer valor, basta acessar o link https://abacashi.com/p/casadesol.
Segundo a psicóloga Fátima Fischer, integrante do grupo e do Fórum Gaúcho de Saúde Mental, a iniciativa solidária é um projeto feito “como um compromisso da sociedade de valorização dos artistas e de inclusão daqueles considerados diferentes pela loucura”. Ela destaca que Sol é uma referência na produção artística, de acolhimento na região onde vive e na luta antimanicomial.
“A história da Sol é emblemática na história da luta antimanicomial no Rio Grande do Sul. Ela é jovem, negra, faz parte da Nau desde o início e antes fazia parte, como usuária lá no [Hospital Psiquiátrico] São Pedro, do espetáculo com Accademia Della Follia. Participou de alguns filmes, entre eles o Epidemia das Cores e o Azul como a Liberdade”, explica Fátima.
Sol traz em suas artes múltiplas toda questão de sua ancestralidade, complementa a psicóloga ao destacar em sua produção através de poesia, música e pintura a marcante questão de gênero, raça e loucura. "Em ações afirmativas e em defesa da vida, rompe com o que representou historicamente a população que ocupava os grandes manicômios, como refere o psicanalista Jurandir Freire: 'eram pretos, pobres e psicóticos'. Ela sofreu muita exclusão em serviços de saúde mental. Ao mesmo tempo é uma sobrevivente, hoje tem sua casa própria, seu atelier. Portanto longe de ser os 'três Ps', Sol é mulher, negra, artista onde o adoecimento psíquico coloca-se entre parênteses."
Sol é também uma referência de acolhimento na Lomba do Pinheiro. Fátima a considera “um ponto de cultura”. “Ela recebe a gurizada da rua, seguido a gente grava trabalhos da Nau com crianças, e ela dirige esse trabalho na casa dela. Também faz muitas iniciativas solidárias na região dela”, exemplifica.
Entre seus trabalho artísticos estão música, texto, pintura, telas, vestes falantes e enormes painéis onde ela “expressa as suas dores”, conta Fátima. Um dos painéis foi pintado após ir ao protesto contra o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, o Beto, por seguranças do Carrefour, em 2020. “Se tu olhares esse painel, tem cenas sobre violência e tu sente que é uma arte que transmite uma dor e uma vivência.”
“Eu fiquei muito preocupada quando, no dia sete de maio, um dia que desabou o mundo da água, e ela me ligou com a água caindo nas obras dela”, finaliza, reforçando o pedido de solidariedade e a participação na live.
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Edição: Katia Marko