Rio Grande do Sul

Direitos do Trabalho

Ato em Novo Hamburgo (RS) critica precariedade das relações de trabalho do setor calçadista

Após caso de trabalhadora impedida de ir ao banheiro gerar acordo, sindicato quer ampliar conquista a outras fábricas

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"Em pleno século 21, ainda temos que negociar o uso do banheiro. Isso é triste", afirma Jaqueline Erthal - Foto: Alex Glaser

Uma manifestação em frente à empresa calçadista Beira-Rio, no bairro Canudos, Novo Hamburgo (RS), reuniu trabalhadores e líderes sindicais, nesta terça-feira (13), para chamar a atenção sobre a precariedade das relações de trabalho no setor calçadista. O ato repudiou o episódio ocorrido em outra fábrica de calçados, quando uma trabalhadora foi impedida de usar o banheiro e acabou urinando em sua própria roupa.

Jaqueline Erthal, diretora do Sindicato dos Sapateiros e Sapateiras de Novo Hamburgo, ressalta o absurdo que é uma empresa manter tal prática. “A trabalhadora da fábrica Zenglein solicitou, por três vezes, utilizar o banheiro, e por fim acabou urinando em sua roupa. Foi dispensada do trabalho e voltou a pé para casa, caminhando por cerca de meia hora, sendo motivo de constrangimento por onde passava. Nós do sindicato estamos dando suporte jurídico e oferecendo suporte psicológico para essa trabalhadora."

A sindicalista explica que o sindicato precisou realizar uma negociação com a direção da empresa para a utilização de livre acesso dos sanitários, e que agora a intenção é levar esse acordo para as demais fábricas. “Em pleno século 21, ainda temos que negociar o uso do banheiro. Isso é triste", finaliza Jaqueline, também trabalhadora do setor calçadista.

Eduarda Milena, estudante e participante do coletivo de Mulheres Elza Soares, participou do ato. "Vim aqui porque é um absurdo que as mulheres ainda passem por essas dificuldades. Não podemos permitir esse tipo de coisa, pois afeta diretamente a saúde física e psicológica de todas nós. Imagine você trabalhar com medo de se urinar?", questiona.

"As empresas precisam mudar a mentalidade”, afirma Robson Santos, trabalhador e morador de Novo Hamburgo. “Nós, LGBTQI+, também sofremos esse tipo de discriminação absurda em relação ao uso dos banheiros. É sério que em 2021 estamos precisando implorar para usarmos o banheiro?"

Enio Brizola, ex-sapateiro, vereador e membro da Comissão Estadual de Direitos Humanos, reitera que, “em plena revolução industrial 4.0, ter que discutir utilização dos banheiros é voltar ao tempo das trevas”. Para ele, é muito triste que a CUT e os trabalhadores tenham que se mobilizar por isso. “Deveríamos estar aqui discutindo participação de lucros para os trabalhadores”, exemplifica.

Segundo Jaqueline, a mobilização continuará em todas as fábricas do setor calçadista pelos próximos dias, já convocando também os trabalhadores para a Assembleia de Negociação, pois a data-base da categoria é em agosto. "É muito importante que os trabalhadores participem, opinando e falando, pois o momento atual exige que fiquemos cada vez mais unidos", finaliza.


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Edição: Marcelo Ferreira