O movimento "Geração 68" que organiza as atividades no Rio Grande do Sul transferiu para o sábado, 3 de julho, o ato político que deveria ser realizado amanhã (2), em Porto Alegre, às 10h30, junto ao Monumento ao Expedicionário. A decisão foi tomada em função da previsão de fortes chuvas para este fim de semana.
A Geração 68 participou dos movimentos políticos de resistência à ditadura militar, na linha de frente da luta armada e nas atividades que levaram ao restabelecimento da democracia no Brasil. Indignados com o negacionismo do governo do presidente Jair Bolsonaro, que já resultou em mais de 500 mil mortes por covid-19 no país, eles decidiram voltar às ruas. Em Porto Alegre, o encontro da geração de 68 com os jovens de hoje será realizado no sábado, dia 3 de julho, com manifestações políticas e atividades culturais.
Data lembra passeata dos 100 mil no RS
A data é uma referência à passeata dos 100 mil, realizada há 53 anos, no Rio de Janeiro, e que entrou para a história do Brasil como um dos maiores protestos contra a ditadura militar no país. A manifestação foi organizada pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e reuniu estudantes universitários e secundaristas, professores, artistas, representantes da Igreja Católica, entre outros. A multidão caminhava de braços dados pela Avenida Rio Branco, em seguida dobrou à direita na Avenida Presidente Vargas, na direção da Igreja da Candelária, e se dirigiu ao Palácio Tiradentes, que até 1960 sediava o Congresso e em 1968 abrigava a Assembleia Legislativa.
Pra não dizer que não falei de flores
A passeata dos 100 mil inspirou Geraldo Vandré e ficou eternizada na letra de Pra não Dizer que não Falei de Flores (Caminhando), que se tornou um hino contra a ditadura militar: “Somos todos iguais, braços dados ou não”.
Criado em 1966, com o objetivo de projetar a MPB, o Festival Internacional da Canção (FIC) se tornou parte integrante do calendário oficial da Secretaria Estadual de Turismo do Rio de Janeiro e conquistou o Brasil. A edição de 1968 entrou para a história. Na etapa paulista, Caetano Veloso foi vaiado no Teatro Tuca quando cantou com Os Mutantes a música É Proibido Proibir, de sua autoria. Quando o público virou-lhe as costas, o cantor proferiu um discurso que se tornou célebre.
Mas a vaia a Caetano Veloso não foi nada se comparada ao intenso protesto quando do anúncio dos vencedores. O público ficou inconformado com a escolha de Sabiá, de Tom Jobim e Chico Buarque de Hollanda, interpretada por Cynara e Cybele. Mais de 20 mil pessoas vaiaram a decisão dos jurados, contrariando o público que torcia por Para Não Dizer que Não Falei de Flores. A música de Geraldo Vandré, interpretada pelo próprio autor, ficou notabilizada como hino contra a repressão política da época,
Sexta-feira sangrenta
Cinco dias antes, no dia 21 de junho, uma outra manifestação entrou para a história, mas pela violência e pela repressão. A “sexta-feira sangrenta”, como ficou conhecido aquele protesto, será lembrado como um dia que a população tentou resistir à violência policial.
No dia 28 de março, outro fato já anunciava que os tempos seriam sombrios. Estudantes do Rio de Janeiro estavam organizando uma passeata-relâmpago para protestar contra a alta do preço da comida no restaurante Calabouço, que deveria acontecer no final da tarde do mesmo dia. Por volta das 18 horas, soldados invadiram o Calabouço, no centro do Rio, e um deles disparou contra o estudante Edson Luís de Lima Souto, que morreu na hora.
A ditadura estava perdendo a batalha das ruas. Por isso, os militares precisavam impedir a realização de manifestações populares. A utilização da violência para reprimir as manifestações não era suficiente para calar o país. Os protestos de 1968 no Brasil foram sufocados após a promulgação do Ato Institucional nº 5, no dia 13 de dezembro daquele ano, dando início ao período mais repressivo e violento do regime.
Edição: Esquina Democrática