Rio Grande do Sul

Representatividade

“Mais do que nunca é necessário termos consciência de classe”, diz parlamentar trans

No Mês do Orgulho LGBT, Natasha Ferreira torna-se a segunda vereadora trans a assumir a vereança em Porto Alegre

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"Nós precisamos radicalizar o regime democrático brasileiro para ser representativo", afirma Natasha - Ederson Nunes/CMPA

Em um momento em que vereadoras trans vêm sofrendo ameaças pelo país, tomou posse na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, durante a sessão ordinária híbrida desta quarta-feira (23), Natasha Ferreira (PSOL), em substituição ao vereador Roberto Robaina (PSOL), que está de licença até a próxima terça-feira (29). Com isso, Natasha, tornou-se a segunda vereadora trans a assumir a vereança na capital gaúcha. A primeira foi Luísa Stern (PT), também suplente, que em 2018 assumiu o mandato por três dias. 

“Posso ser a única nessa legislatura a assumir como travesti, mas eu não serei a última”, destacou a parlamentar em seu discurso de posse. A cinco dias da celebração que marca o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ (28), Natasha, eleita com 2.011 votos nas eleições de 2020, e terceira suplente da bancada do PSOL, destaca que nem sempre as identidades são um fim, e sim um meio de se construir. “Precisamos fazer uma disputa de consciência, nós precisamos de representatividade com esses setores que têm essas identidades que emergem socialmente e que se fazem urgentes nas casas legislativas. Mas elas precisam ter consciência de classe, precisam ser classistas”, afirma. 

Natasha antes de assumir a vereança vinha atuando como assessora parlamentar no gabinete da deputada estadual Luciana Genro (PSOL), sendo a primeira pessoa trans a assumir um cargo na Assembleia Legislativa. Em entrevista ao Brasil de Fato RS, ela fala sobre o significado de assumir a vereança, de sua trajetória e do momento pelo qual passa o país.

“Não é somente sobre pessoas LGBTs, é sobre os trabalhadores que estão sendo massacrados pelo governo, pelas reformas, pela violência e pela truculência do braço policial do Estado. É fazer uma correlação de Estado, um entendimento social é fundamental para que a gente tenha votos, mas também tenha lado político”, frisa.

Nesta sexta-feira (25), a parlamentar participa de uma audiência pública da Assembleia Legislativa sobre a discriminação contra parlamentares transexuais no Rio Grande do Sul. Promovido por Luciana Genro, o encontro também contará com a participação das vereadoras trans Lins Roballo, de São Borja, Maria Regina Moraes, de Rio Grande, e Yasmin Prestes, de Entre-Ijuís.

Abaixo, a entrevista completa:

Brasil de Fato RS - O número de candidatas e candidatos transexuais bateu recorde em todo o Brasil, nas eleições 2020. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), foram 271 candidaturas no país, sendo eleitas 30: dois homens trans e 28 travestis e mulheres trans, um aumento de 275% de pessoas trans eleitas em relação a 2016, quando se elegeram oito candidatas. No RS foram eleitas três candidatas. Ao assumir nesta quarta-feira (24), tu te tornastes a segunda vereadora trans da capital gaúcha. Gostaria que nos falasse o significado que isso tem? 

Natasha Ferreira - A vitória das pessoas trans e travestis no país todo é uma resposta à ofensiva bolsonarista. Desde 2018 com a vitória de Bolsonaro, e esse reforço do discurso de ódio, o movimento LGBT, como um todo, começou a perceber que essa história de que política e movimento não se misturam não existe. Tudo que a gente faz é político, desde comprar uma bandeira LGBT, os bailes LGBTs, as festas, o mercado de trabalho, escola, desde acessar um posto de saúde com plena dignidade, tudo é político. 

Começamos também a nos politizarmos cada vez mais e entender que passamos durante muitos anos meio que adormecidos no movimento social. Entendemos, pós-Bolsonaro, que deveríamos disputar as vias institucionais, mas também nos fortalecer. 

A vitória das pessoas travestis e transsexuais demonstra uma necessidade de uma democracia real, de uma democracia onde todas e todos são representadas, e as pessoas travestis e transsexuais não estão fora desse todo social. E precisamos de cada vez mais pessoas LGBT, cada vez mais pessoas negras, mais mulheres, precisamos de representatividade. Mas também não basta ser, precisamos de pessoas que tenham lado, que na hora de votar, de propor os projetos, não se escondam e defendam a nossa pauta.

BdFRS - Quais os projetos que pretendes tocar durante a tua vereança?

Nastaha - Eu destaco principalmente dois projetos em relação às cotas para as pessoas travestis e transsexuais no serviço público, no quadro de servidores públicos. Sabemos que no nosso quadro, hoje, no estado e nos municípios, as pessoas travestis e transsexuais são quase que zero, salvo engano. Eu conheço acho que uma trans que é do estado, que é funcionária pública, fora isso eu não conheço nenhuma em nenhum município. 

E o outro projeto de cota é para as empresas que já têm contrato com a prefeitura municipal de Porto Alegre, que já recebem as isenções fiscais. Ou seja, nós não estamos propondo gerar um novo gasto ao município, muito pelo contrário, é exatamente explorar essas isenções, explorar esses paraísos fiscais que as empresas têm com o município de Porto Alegre, para que tenham as cotas para as pessoas travestis e transsexuais. E que possamos depois, com um programa do estado, ou até mesmo do município, oferecer cursos profissionalizantes pras pessoas travestis também, para que elas possam ter um curso, digamos que um pouco avançado, para ingressar no mercado de trabalho, também com um bom emprego, um bom salário, e assim irem se profissionalizando dentro das empresas. 

Eu sou uma defensora das cotas porque o nosso país  é muito desigual. Temos um abismo de desigualdade social, e quando pegamos as travestis, a gente normalmente liga elas à esquina, à prostituição, ao analfabetismo, às drogas, à marginalidade como um todo. E acho que falta oportunidade, falta oportunidade e quem precisa dar essa oportunidade é quem está legislando, é o estado como um todo. Mas principalmente se utilizando desses mecanismos, que são muito restritos, para que a gente consiga construir essa política de cotas, que ela é super necessária para que as mulheres trans e travestis e homens trans também possam ingressar no mercado de trabalho de uma forma cada vez mais digna. 

Vou apresentar também uma moção de solidariedade ao ataque que as travestis e transsexuais com mandato têm sofrido nacionalmente, a Benny Briolly, a nossa vereadora Érika Hilton, a Duda Salabert, a Linda Brasil e aqui no estado também a vereadora Lins Roballo. 

Essa moção mostra como a luta das pessoas LGBTs, especialmente das travestis e transsexuais, elas não estão isoladas. Estamos conectadas, estamos juntas e muito atentas a todas essas violências e criando formas institucionais de defesa, que é andar com segurança mas é também a gente é estar se vigiando e se ajudando nesses tempos tão difíceis . 


"Não adianta termos um leque de representações, mas na prática, dentro de um Congresso, esse leque não representar os anseios da ampla maioria da sociedade" / Guilherme Santos

BdFRS - Em um contexto de ódio, negacionismo, temos eleições como a tua, que garantem a diversidade. Como evoluir na garantia da democracia e pluralidade?

Natasha - Eu acho que a eleição de pessoas travestis e transsexuais, de mulheres, de pessoas negras, indígenas, de pessoas com deficiência também, são, de uma certa forma, um grito de representatividade. Mas essas identidades por si próprias não se explicam dentro de uma democracia. Porque vejam bem, não podemos nos iludir que vamos ter um parlamento pró-LGBT, pró-mulheres, pró-pessoas negras, quando na verdade podemos ter pessoas trans, mulheres, pessoas negras, indígenas, que não defendem, de fato, esse regime democrático. São pessoas que defendem inclusive a reforma de Previdência, são pessoas que defendem questões econômicas, que vão contra o Estado, mas a favor das empresas privadas. 

Então eu acho que nem sempre as identidades são um fim, muito pelo contrário, elas são um meio para se construir. Precisamos fazer uma disputa de consciência, nós precisamos de representatividade com esses setores que têm essas identidades que emergem socialmente, e que se fazem urgentes nas casas legislativas. Mas elas precisam ter consciência de classe, precisam ser classistas. Não adianta ser uma travesti e você defender, por exemplo, que economicamente o liberalismo seja uma saída, ou seja, essa uberização. Nós precisamos ter consciência de classe. 

Não adianta termos um leque de representações, mas na prática, dentro de um Congresso, esse leque não representar os anseios da ampla maioria da sociedade, que são de trabalhadoras, de trabalhadores, que é quem sustenta esse país. 

Eu, particularmente, quero uma democracia real, eu quero uma reforma política urgente, eu acho que o país precisa dessa reforma. E o fato de ser uma travesti socialista, no meu caso, ser do PSOL, não quer dizer que eu defenda somente a pauta, ou fale sobre a comunidade LGBT, muito antes pelo contrário. Eu quero a reforma agrária, eu quero a reforma urbana, eu quero moradia digna, eu quero que as pessoas possam comer, possam viver com dignidade, não mais sobreviver em um país que tem tanta riqueza e que a gente vê pessoas passando fome. Eu acho que quem não se indigna com uma criança pedindo moeda em sinaleira, com famílias dormindo em calçada, quem não se indigna com a pobreza, com a miséria, com a fome, é porque não foi tocado ainda pela disputa de consciência de classe. 

Nós precisamos saber que nós vivemos em um país desigual, e que as minorias, ou nem sempre as minorias, porque as mulheres e as pessoas negras não são minorias, mas elas sempre foram subrepresentadas dentro de um parlamento. E quando estiverem lá dentro elas precisam ter lado político, e esse lado tem que ser o da esquerda. Essa democracia burguesa, essa democracia que favorece sempre os setores mais parasitários da sociedade, ela é muito limitada, ela é racionada, e ela faz sempre com que a esquerda dispute, mas dispute nos marcos da própria burguesia. Muitas vezes é o que a burguesia quer. 

Por isso que eu aposto sim em uma democracia radicalizada, nós precisamos radicalizar o regime democrático brasileiro, para ser representativo, mas para ter lado e ter consciência, isso é fundamental, ter consciência em parlamento. Por exemplo, em Porto Alegre, ontem na sessão de quarta, eu votei contra a reforma da Previdência, que ataca diretamente os servidores públicos da cidade de Porto Alegre. Aqui o prefeito é do MDB, é da ala bolsonarista. 

Não é somente sobre pessoas LGBTs, é sobre os trabalhadores que estão sendo massacrados pelo governo, pelas reformas, pela violência e pela truculência do braço policial do Estado. Eu acho que é fazer uma correlação de Estado, um entendimento social é fundamental para que a gente tenha votos, mas também tenha lado político, porque ontem facilmente ali a gente viu vereadores trocando de voto em um regime de “urgência”. 

Então, mais do que nunca, é necessário termos consciência de classe para saber de que lado da história e de que lado de luta nós estaremos. Eu acho que essa democracia não vinga muito para nós, a esquerda, por exemplo, porque ela favorece somente a burguesia, e eu acho que ela acaba se tornando uma certa ditadura do próprio capitalismo. O capitalismo dita quem a gente elege, dita como vota e dita quem governa. Isso não dá mais, quem tem que ditar é quem tá no andar de baixo, é quem tá sustentando essa pirâmide, e são os trabalhadores e trabalhadoras. 

E acho que para se apresentar eleitoralmente e socialmente, nós precisamos de uma esquerda que não tenha medo de falar o seu nome. Uma esquerda que não se venda, uma esquerda que não se renda, uma esquerda que não tenha medo de falar de socialismo, por exemplo, que se tornou um assunto quase que, virou um meme né... a direita qualquer coisa nos ataca pelo comunismo, pelo socialismo. 

Eu acho que nós temos que falar exatamente, apresentar os nossos programas, falar da distribuição de renda, de um novo Estado, de um Estado mais forte. Mas que seja um Estado para os trabalhadores e trabalhadoras. Isso é o mínimo que a gente precisa esperar de uma democracia real. 

BdFRS - Gostaria que nos contasse um pouco sobre sua vida, sua formação, sua opção política e o momento em que resolveu assumir sua condição.

Natasha - Eu iniciei a minha transição de gênero aos 13 anos por ali, e ela durou cerca de uns quatros anos, onde fui tomando hormônios por conta própria. Infelizmente é uma triste realidade do país. E hoje, que bom que temos o ambulatório trans em Porto Alegre, onde as pessoas trans podem fazer exames, onde elas podem fazer, digamos, um mínimo controle dos hormônios para tomar de uma forma segura e para conseguir fazer uma transição também saudável. 

Eu me criei em Novo Hamburgo, na Região Metropolitana de Porto Alegre, sou cria do movimento estudantil. Sempre fui uma apaixonada por esses movimentos de massa, tudo que envolvia deitar na frente de um ônibus por conta da passagem, desde criticar o governo municipal porque não tinha pintado uma praça. Eu sempre tive, desde muito jovem, essa convicção de que os governos deveriam servir ao povo. Então eu sempre estive junto nesses movimentos de massa. Eu comecei a fazer Gestão Pública, acabei trancando o ensino à distância, primeiro por motivos financeiros, depois por motivos de trabalho, por ter uma demanda de trabalho muito alta, mas faço Gestão Pública.  

A opção política ela é meio que natural quando você estuda um pouco sobre o que é desigualdade social. Há desigualdade no nosso país, no estado, pegando as cidades, por exemplo, não há nenhuma cidade que você tem uma questão de igualdade levada a sério. O país, infelizmente, sofre com um mal chamado de meritocracia, onde as pessoas dizem que basta todo mundo ter vontade, todo mundo estudar e todo mundo vai chegar no mesmo lugar. Sabemos que não, porque sabemos que não partimos da mesma linha. O filho do empresário, ele tem mais condições de estudar, mais condições de comprar os materiais didáticos, de se informar, para fazer uma prova, para prestar um concurso, para fazer qualquer outra coisa. Sabemos que o filho dos trabalhadores, as filhas, a filha da faxineira, o filho do servente de pedreiro, as pessoas LGBTs então, temos que nos virar desde muito cedo, precisamos pensar sempre no amanhã, não conseguimos planejar um meio ano assim. 

Eu vejo muitas pessoas LGBTs liberais, eu acho absurdo, porque o liberalismo simplesmente ele está de olho no nosso dinheiro, naquilo que a gente pode gastar, de transformar todo o mercado de trabalho que é desumano, botar uma bandeirinha LGBT e chamar de friendly. Eu acho que não, eu acho que não é por aí.

Eu acho que precisamos ter igualdade, precisamos partir da mesma linha, ter as mesmas oportunidades para que possamos saber de fato se a nossa sociedade não teria cada vez mais pessoas negras, mais LGBTs, mais pessoas trans, na verdade, trabalhando em espaços, numa recepção de um hospital. E sabemos que a gente não chega até lá, porque a gente está fora da escola, a gente está fora de casa. Muitas vezes as famílias nos mandam embora, isso dificulta muito. 

Basicamente a opção política por ser uma travesti socialista é por acreditar em um regime que queira a distribuição de renda, que não queira um monopólio dos meios de produção, mas que os trabalhadores, eles tenham acesso. Por exemplo, as pessoas chamam de "socialistas de iPhone", que é um bordão que se criou, mas o que nós defendemos é que o iPhone seja acessível para todo mundo. A gente não defende o iPhone neste valor que ele está, caro, e sendo digamos que um objeto que poucas pessoas possam de fato comprar, ou até mesmo financiar, a gente quer o acesso das pessoas a tudo.

Eu acho que esse lado político é o lado de não negar a ciência, o lado de defender a democracia, o lado de ser contra a ditadura, de reconhecer que a escravidão é uma ferida aberta no nosso país, o lado de lutar pelos direitos da população LGBT. Porque nós sabemos que a gente vive em um dos países que mais mata, mais executa, mais estupra, mais bate, mais expulsa de casa. Salvo engano, aqui na América do Sul, o Brasil é um dos países que mais têm pessoas LGBTs morando na rua. 

Então, lutar por isso tudo é lutar por um estado mais forte, maior, mais representativo, e obviamente mais democrático, com uma democracia radical, e isso é neste lado, é no lado da esquerda. 

BdFRS - Qual o conselho darias para mulheres trans que querem se candidatar a um mandato político?

Natasha - O meu conselho é que as mulheres trans e travestis, e homens trans também, e pessoas LGBTs como um todo, se organizem. Partidos políticos são ferramentas de organização e luta social. O partido ele não é santo, não é feito de um celibato, os partidos são feitos de pessoas. Eu tenho muito orgulho de ser do PSOL, que é um partido limpo, que eu posso olhar na cara dos trabalhadores, das donas de casa, eu posso olhar na cara das LGBTs, das profissionais do sexo, dessa uberização agora do mercado de trabalho, eu posso olhar na cara de todo mundo de cabeça erguida e dizer que o meu partido defende melhores condições de trabalho, de renda, dignidade. 

Que na pandemia, quando todo mundo na pandemia debatia, lá desde o início, as consequências que nós teríamos, nós do PSOL falávamos de imediato e com muita urgência do auxílio emergencial, no Congresso federal com a nossa deputada Fernanda Melchionna, aqui no estado a nossa deputada Luciana Genro. Defendendo também o auxílio emergencial do estado, criando políticas públicas e mecanismos dentro das nossas limitações, que humanizassem minimamente as classes mais pobres, porque a gente sabe como foi o início da pandemia, foi terrível. 

Então eu acho que estar em partido político é você se organizar, é você disputar o partido, porque partido foi feito para ser disputado pelas ideias, é disputar a sociedade e entender que o nosso lado, ele precisa ser o lado que comporta na verdade a nossa vida. O lado político, ele precisa ser o lado que olha pra nós como seres humanos. Eu acho que é a esquerda, e neste caso do PSOL, é o partido que hoje tem a pauta LGBT como uma das pautas centrais. Não é um partido que usa LGBT para cota, não é um partido que tem um debate LGBT esvaziado e somente eleitoral, muito pelo contrário. Há uma construção de movimento político, há uma construção de movimento social, há uma construção de formação política que é muito importante, porque a gente não pode achar que partido é só ir lá, botar a camiseta, o button, o adesivo, bater palma e votar.

Partido é pra gente ir lá pra frente falar das nossas indignações e que os dirigentes escutem e possam ali elaborar minimamente um programa que nos coloque no centro desses debates. Neste caso eu falo, se organizem nos partidos, os movimentos sociais, se organizem. Organizar é fundamental pra gente derrotar o bolsonarismo. 


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Edição: Marcelo Ferreira