É momento de ocupar as ruas, e também de continuar com diálogos entre todos os setores da sociedade
No último sábado (19), mesmo dia em que o Brasil alcançou o número de 500 mil mortes por covid-19, ocupamos as ruas de todo o Brasil para exigir a saída urgente da presidência da República de Jair Bolsonaro, um dos piores governantes que o país já teve.
O espectro de rechaço ao projeto neoliberal genocida só aumenta e, apesar de Bolsonaro manter o país sob níveis críticos da pandemia, as forças populares se dispõem, com todos os cuidados sanitários possíveis, a ir às ruas pelo fim desse governo.
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A CPI da Covid está trazendo cada vez mais evidências do que já sabíamos: não houve apenas omissão e negligência por parte do governo federal na pandemia, houve uma aposta de que medidas, que acabaram sendo rejeitadas majoritariamente no mundo à medida que a crise global da saúde avançava, iriam trazer a solução (e lucro para aqueles que fabricaram os medicamentos ineficazes promovidos pelo governo).
Como parte das organizações que lutam por justiça ambiental neste país, reafirmamos que há muito já passou da hora da saída do ministro do Meio Ambiente, sob inquérito no STF, Ricardo Salles, a verdadeira raposa cuidando do galinheiro.
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Mas somos conscientes, assim como ocorreu no Ministério da Saúde, que a troca de ministro não representará nenhuma mudança real frente ao desmonte massivo que o governo vem promovendo, neste caso, em matéria ambiental.
Como denunciamos desde o início deste governo, os ataques não só aos movimentos populares do campo e aos povos originários, mas aos próprios órgãos ambientais, com cortes e abandonos em níveis históricos, têm a ver com a lógica à qual obedece Bolsonaro, e não com o perfil do ministro em questão.
Como disse Sônia Guajajara, da coordenação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), durante o ato deste sábado em Brasília, “esta luta não é só uma luta dos povos indígenas, é uma luta humanitária; é por isso que todo mundo têm o dever hoje de lutar contra Bolsonaro, para garantir o nosso futuro, pra garantir o futuro do planeta e da humanidade”.
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Sônia Guajajara é uma das 850 pessoas de 45 povos indígenas de todas as regiões do país que estão em Brasília no Acampamento Levante pela Terra, espaço de resistência a vários projetos de lei promovidos pelo governo, que ameaçam acabar com a demarcação de terras indígenas no país.
A urgência da saída de Bolsonaro do poder não é apenas pela profunda crise que fez a fome voltar e a miséria aumentar exponencialmente no país.
A gravidade da continuidade do projeto em curso tem a ver com retrocessos que podem se tornar irreversíveis. Isso é crucial quando falamos da defesa dos nossos biomas, sob a ameaça do desmatamento e dos incêndios criminosos, e da vida e cultura dos povos originários, populações tradicionais e atingidas, seja no campo, na floresta, na costa, nas cidades, ameaçadas pelos megaprojetos e pelo agronegócio.
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Um agronegócio cada vez mais subsidiado pelo governo, ou seja pelo povo brasileiro, com incentivos fiscais e perdão de dívidas.
Além de pagar montantes irrisórios em tributos de exportação, entre outros motivos, graças à Lei Kandir que isenta do pagamento de ICMS as exportações de produtos primários e semielaborados, o agronegócio conta com a bilionária bolsa-agrotóxico.
É o Estado financiando o envenenamento dos nossos campos, dos nossos corpos e da comida de todos.
A Lei Kandir também beneficia a mineração no país, uma das atividades não essenciais que mais avança, e que representa um modelo de não desenvolvimento.
É a mera produção de bens primários para exportação e que agora, Bolsonaro quer intensificar, tentando tornar possível a invasão das terras indígenas para a exploração mineral numa lógica concentradora de riquezas e destruidora dos bens comuns.
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“O projeto é de desmonte, um projeto de entrega, é um governo fascista. Fascista, na sua essência moral, mas é um governo ultra neoliberal, na sua essência econômica, porque é esse o projeto estrutural: fazer com que o país vire uma Colômbia, do ponto de vista político, ao tentar retomar a relação bilateral com os Estados Unidos apenas, privatizando tudo, entregando tudo que é essencial pro mercado privado nacional e internacional”, disse Marco Baratto, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), também presente no ato em Brasília.
Ao mesmo tempo que é preciso combater a tentativa do capital de fazer o Brasil retroceder a um novo nível de economia colonial, é necessário manter o alerta e continuar denunciando as falsas soluções da Economia Verde que, por conta da gravidade dos retrocessos atuais, podem se fortalecer, passado este período de criminalidade ambiental institucionalizada, como denunciam os povos da floresta de diversos estados da Amazônia, cercados entre a violência bruta e os golpes “verdes”
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Sabemos que os mesmos países do Norte que condenam a gestão de Bolsonaro, principalmente em relação à Amazônia, também são favoráveis ou diretamente promotores dos mecanismos de mercado que pretendem fazer, dos problemas socioambientais, negócios, como os mercados de carbono, as chamadas Soluções Baseadas na Natureza, REDD, e outras propostas que têm em comum sempre tirar o foco dos verdadeiros responsáveis pela crise ambiental global: o capital e os governos que deveriam regulá-lo.
A hora da unidade e da disputa de mentes e corações
É o momento de ocupar as ruas, e também de continuarmos nas nossas articulações e diálogo entre todos os setores da sociedade.
“Estes atos são momentos importantíssimos para a gente retomar o circuito democrático no país, ano que vem vai ter eleição e nós precisamos vencer na eleição. Ela é tática, mas não é só a eleição, nós precisamos criar um caldo de mobilização popular, de conversa com o povo, de estar nas periferias, de estar lado a lado com o povo pra que a gente consiga, pela eleição, também vencer esse governo, mas vencer com um projeto político, um projeto de unidade política pro país e pro conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras. Um outro projeto. Projeto legítimo, projeto popular, com justiça social e com soberania popular”, analisa Marco Baratto do MST.
Como afirmamos sempre, as soluções que o mercado inventa e reinventa para tentar dar a impressão de que pretende resolver os problemas, que são criados por ele próprio, devem dar lugar às verdadeiras soluções que hoje, não apenas não são levadas em consideração, como estão sob forte ataque: reforma agrária, autodemarcação de terras indígenas, soberania alimentar, agroecologia, economia feminista, direitos trabalhistas, entre tantas outras.
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Para que elas sejam parte de um projeto popular emancipatório e que possam ser reconhecidas, resgatadas e implementadas na forma de políticas públicas pelo Estado brasileiro, é preciso fortalecer a nossa democracia, apostar na unidade e construir poder popular para tirar Bolsonaro e seu bando do poder já, e seguir construindo uma aliança internacionalista para derrubar o fascismo e colocar a vida no centro da política.
*Amigos da Terra (ATBr) é uma organização que atua na construção da luta por Justiça Ambiental. Quinzenalmente às segundas-feiras, publicamos artigos sobre justiça econômica e climática, soberania alimentar, biodiversidade, solidariedade internacionalista e contra as opressões. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Vivian Virissimo e Katia Marko