O deputado Osmar Terra (MDB/RS) depõe nesta terça-feira (22) à CPI da Covid. Chega logo após a comissão levantar 38 mentiras ou afirmações sem fundamento dos depoentes. No rol, reluz o general Eduardo Pazuello com 15 balelas, ponteando a desinformação. Com seu currículo, Terra promete ser um adversário à altura do ex-ministro. Há motivos para tanto.
Levantamento de dezembro do site de verificação Aos Fatos indicou Terra como o bambambã do Twitter. Ao analisar os mil tuítes desinformativos sobre a covid-19 veiculados por parlamentares e com maior engajamento, descobriu que 104 deles partiram do deputado federal do MDB. Fez Eduardo Bolsonaro, segundo no pódio, e Carla Zambelli, que levou o bronze, comerem poeira.
É uma exuberância que tornou Terra, personagem regional, um notável do bolsonarismo, a ponto de ser considerado chefe do “gabinete paralelo da saúde” e xamã de Jair Bolsonaro. Em contrapartida, ganhou apelidos dos quais o mais célebre é “Osmar Terra Plana”. Mas não dá para esquecer “Osmar Trevas”, “Osmar Enterra” e “Osmar Erra”. Semeou sua fama em rádios e TVs, defendendo a imunidade de rebanho, desprezando o isolamento social e a vacina. Alguém com apreço pela memória nacional produziu um vídeo que circula nas redes com as pedradas do gaúcho. Vale a pena conferi-las:
18/03/20 – “Esta pandemia, na minha opinião, vai ser menor e com muito menos danos pra população do que a pandemia do H1N1, por exemplo”. (TV Câmara)
26/03/20 – “No H1N1 não fechamos um restaurante. Tava falando do presidente Lula, foi no governo dele. Ninguém pregou a quarentena e foi muito mais grave e matou muito mais gente do que o coronavírus vai matar”. (Programa PingosNosIs- Jovem Pan)
07/04/20 – “No Brasil, se atinge o pico em duas semanas talvez menos”. (Programa Datena, Band TV)
23/04/20 – “O pico da nossa epidemia vai ser em abril, provavelmente na terceira semana de abril e terminar no final de maio. Nós vamos entrar junho praticamente sem epidemia no Brasil”. (Redes sociais)
12/05/20 – “A curva tá seguindo a curva normal são sete semanas, oito semanas e dali pra baixo ela diminui. Nós vamos terminar essa epidemia no início de junho”. (Debate 360 – CNN Brasil)
27/05/20 –“Isso não existe no período do curso de epidemia (...) Senão as epidemias não terminavam nunca. As epidemias acabam em 14 semanas. Ela começa e termina. Em junho não vai ter mais epidemia”. (Respondendo em entrevista de TV se o novo coronavírus não pode sofrer mutação e infectar novamente a mesma pessoa)
10/07/20 – “Em alguns estados, como o Rio Grande do Sul, está aumentando um pouco por causa do frio mas em duas ou três semanas começa a baixar também. A epidemia está indo pro fim, né? E vai terminar sem vacina”. (Jovem Pan)
13/07/20 – “Vamos ter uma onda, que não é uma segunda onda de vírus que não vai ter”. (Programa Pânico)
29/09/20 – “Agora inventaram que no Amazonas ia ter um novo surto, uma segunda onda. Tudo uma bobagem. Não vai ter”. (Rádio Spaço FM, de Farroupilha/RS)
08/12/20 – “A tendência é ter cada vez mais contagem e menos mortes, né?” (Jovem Pan)
21/12/20 – “É bem provável que, em algumas semanas, cheguemos à imunidade coletiva ou imunidade de rebanho e o surto epidêmico termine”. (Redes sociais)
03/02/21 – “Então nós estamos diante de uma desinformação. Não me parece proposital mas ela cumpre o objetivo de assustar as pessoas. E parecer que a gente está dependendo de vacina para terminar essa pandemia. Não é verdade”. (Redes sociais)
Como se vê, estamos diante de um campeão. Pazuello que se cuide. Existe algo, porém, de que Terra é credor perante a pátria.
“Não podemos ficar fora disso”, defendeu quando o MDB exibia algum laivo de hesitação sobre aderir ou não ao governo do ex-capitão. Deve-se, portanto, a ele a mais sucinta e precisa definição do bolsonarismo no poder: “Isso”.
*Ayrton Centeno é jornalista, trabalhou, entre outros, em veículos como Estadão, Veja, Jornal da Tarde e Agência Estado. Documentarista da questão da terra, autor de livros, entre os quais "Os Vencedores" (Geração Editorial, 2014) e “O Pais da Suruba” (Libretos, 2017).
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
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Edição: Marcelo Ferreira