No dia em que o Brasil alcançou a trágica marca de meio milhão de mortos pela covid-19, milhares de brasileiros e brasileiras saíram às ruas para protestar contra o governo de Jair Bolsonaro. Os protestos deste sábado (19) ocorreram em mais de 400 cidades de norte a sul do país. No Rio Grande do Sul, foram mais de 50 cidades.
Nos cartazes, faixas e falas estão o pedido por “vacina no braço e comida no prato”, além da palavra de ordem “fora Bolsonaro”. Em todos os locais, se viram os manifestantes usando máscaras, atendendo ao pedido reforçado pelas entidades organizadoras.
Os atos foram organizados por movimentos populares, sindicatos, entidades estudantis, partidos de oposição e organizações que compõem as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. Também foram vistas muitas pessoas sem identificação com organizações ou partidos, demonstrando a insatisfação de diversos setores da sociedade com a forma com que Bolsonaro e seus ministros lidam com a pandemia.
Também foram registradas manifestações em dezenas de cidades mundo afora, como Zurique, na Suíça, Londres, Inglaterra, Samur, na França, Coimbra, em Portugal, Dublin, na Irlanda, Berlim, Alemanha, e Washington, Estados Unidos, entre outras.
Durante o sábado, as manifestações pelo RS e Brasil foram acompanhadas e comentadas ao vivo nas páginas do Brasil de Fato RS e da Rede Soberania, numa transmissão coletiva reunindo as páginas Rede Estação Democracia, CUT-RS, Jornal O Coletivo, Pão com Ovo e RádioCom Pelotas. Ao final, uma mesa de convidados fez a avaliação dos atos. Assista abaixo a transmissão da tarde:
Cerca de 50 mil pessoas em Porto Alegre
Na capital gaúcha, o ato começou por volta das 15h, com concentração em frente à prefeitura de Porto Alegre, onde foram feitas falas de lideranças políticas, sindicatos e movimentos sociais. Mesmo com a chuva, o número de manifestantes foi expressivo, superando os 30 mil do ato realizado em 29 de maio. Organizadores estimam que cerca de 50 mil pessoas participaram.
A caminhada seguiu pelas ruas centrais da cidade, passando pela Rodoviária e seguindo em direção à Orla do Guaíba. Os manifestantes lembraram ainda de temas que impactam a vida de toda a população, como a reforma administrativa em tramitação, as privatizações em curso e outros ataques dos governos federal e estadual.
A Associação das Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 Brasil (AVICO) se uniu à multidão presente no ato. Carregando uma faixa, em busca de justiça, membros da AVICO acompanharam a caminhada, representando as mais de 30 mil vítimas fatais da covid no RS e o meio milhão de vítimas no Brasil.
Para o presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), Amarildo Cenci, é preciso tirar o governo de Jair Bolsonaro e pressionar os seus seguidores nos estados e municípios, a fim de proteger a saúde das pessoas e defender a vida do povo brasileiro. “Não podemos continuar com esse governo que investe pouco na vacinação, desmonta os serviços públicos, corta recursos da educação, vende patrimônio público e mata a população na pandemia”, ressalta. "Ocupar as ruas é fundamental neste momento para enfrentar e derrotar esse governo do atraso, da fome e da morte”, completou.
Além da pauta principal do ato, a professora e presidente da CPERS - Sindicato, Helenir Schürer, ressaltou o retrocesso do projeto de reforma administrativa que o governo federal tenta aprovar. “O governo Bolsonaro ataca os direitos dos servidores públicos. Todas as nossas perdas vieram por propostas que ele apresentou à Câmara e Senado e seus apoiadores aprovaram, como taxação dos aposentados com a Previdência, fim dos triênios e avanços na carreira. A PEC 32 que abre tudo para a privatização”, afirmou.
De acordo com Lucio Vieira, presidente da ADUFRGS-Sindical, o Sindicato Intermunicipal dos Professores de Instituições Federais de Ensino Superior do RS, o momento exige uma forte manifestação em defesa da vida e da democracia, assim como direito de todos e todas à vacina. “A educação como um direito social e o serviço público estão sob ameaça. Também chamamos a atenção para a necessidade de observarmos as medidas de segurança sanitária”, afirmou, incentivando quem não pode ou não quis ir a se manifestar nas mídias sociais reafirmando a luta.
“Se nós estamos fazendo essas atividades com todos os riscos da pandemia é porque entendemos que esse governo precisa, de uma vez por todas ser retirado do poder para que a gente consiga enfrentar essa situação de desespero que o nosso povo vem vivendo, o preço dos elementos, desemprego”, ressalta o presidente do Sindicaixa, Érico Côrrea. Ele destacou ainda a urgência de um auxílio emergencial digno. “Sabemos que 6 entre 10 famílias no Brasil não sabem se terão comida no prato amanhã.”
A ex-deputada Manuela d'Ávila (PCdoB) ressaltou que os manifestantes enfrentaram os medos e vestiram máscaras por saberem que hoje o país alcança a marca de meio milhão de pessoas que poderiam estar vivas. “Mais de 130 milhões de brasileiros e brasileiras passam fome, estão desempregados, sem vacina, sem auxílio, sem perspectiva. Nós tomamos as ruas das nossas cidades para dizer fora Bolsonaro. Não vamos esperar 2022, não temos tempo, não podemos perder mais ninguém. Máscara no rosto, vacina no braço, pão na mesa do povo trabalhador”, afirmou.
A deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL) lembrou que Bolsonaro, ao invés de enfrentar a pandemia, enfrentou a ciência e aproveitou para passar a boiada. “Bolsonaro precisa sair agora da presidência da República. O nosso calendário não é o calendário eleitoral, o nosso calendário é o da defesa do povo, em defesa da vacina, do auxílio emergencial, do SUS, da juventude, das mulheres, dos negros e negras, dos indígenas. Esse fascista precisa ser derrotado. Eles não nos calarão.”
Pelo PT, o deputado federal Paulo Pimenta começou sua fala mandando o abraço do ex-presidente Lula. Em seguida, disse que chegou a hora da unidade popular e da luta pelo fora Bolsonaro. “O povo não aguenta mais esse governo genocida, miliciano, esse governo de criminosos. São 500 mil vidas perdidas. É vacina no braço, é comida no prato e fora Bolsonaro, não existe outro caminho que não seja o da luta, da resistência, o caminho da soberania é uma luta dos trabalhadores e trabalhadoras”, pontuou.
A presidenta do Sindicato dos Servidores Públicos do Rio Grande do Sul (Sindisepe/RS), Diva Luciana Costa, também falou sobre a reforma administrativa. “Não é apenas uma reforma para atacar somente o servidor público, ela vai atacar a população de modo geral. É a população que utiliza os serviços de saúde, de educação, que será duramente atingida. É o fim do serviço público, temos que barrar essa reforma, salvar o serviço público e a população.”
O ato em Porto Alegre encerrou no Largo Zumbi dos Palmares com uma ação em memória às milhares de pessoas que morreram por conta da covid-19.
Atos pelo interior do RS
No interior do estado, assim como aconteceu no ato dia 29 de maio, as manifestações começaram ao amanhecer. É o caso da cidade de Candiota, próximo à fronteira com o Uruguai, onde representantes de movimentos do campo ergueram cartazes e faixas pela saída de Bolsonaro da presidência. Criticaram ainda a proposta de privatização da Eletrobras.
Em Novo Hamburgo, na Região Metropolitana, o ato foi no final da manhã. Após a concentração os manifestantes fizeram caminhada pelo centro da cidade. No percurso, os manifestantes fizeram minutos de silêncio em memória às 500 mil vidas perdidas na pandemia.
“Bolsonaro conseguiu nos tirar até a possibilidade de saudar as pessoas com um bom dia sem nos sentirmos constrangidos”, protestou a professora Mônica Fatius, do município de Taquara, pelo Comitê pela Democracia do Vale do Paranhana. “A gente vem somando esforços para tirar esse genocida do poder que somou quase 500 mil mortes e também para retomar a democracia e retomar o Brasil para os brasileiros", afirmou.
Em São Leopoldo, cidade vizinha de Novo Hamburgo, os manifestantes também saíram pelas ruas do centro da cidade na luta contra Bolsonaro.
Em Erechim, apesar da chuva que caia e da proibição de aglomeração por meio de decreto municipal, os manifestantes decidiram manter o ato simbólico. Representantes das organizações colocaram faixas em frente à prefeitura municipal. Neste momento ocorreu um incidente de violência, quando um homem não identificado agrediu uma das manifestantes.
Em São José do Norte, as mulheres do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) realizaram uma entrega de alimentos da agricultura familiar para famílias necessitadas, através do projeto Periferia Viva, e a colagem de lambes como parte das ações neste 19J.
Em Santa Maria, Região Central do estado, manifestantes se reuniram pela manhã, na praça Saldanha Marinho, no Centro da cidade.
Confira mais fotos dos protestos pelo RS
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Edição: Marcelo Ferreira