A hora é de mobilização social, de enfrentamento da fome e da pandemia, com muita formação política
Sem ilusões, em onze de junho de dois mil e vinte um. 2022 está muito longe e não dá para saber sequer como vai estar o Brasil no final de 2021, muito menos em outubro/novembro de 2022, e saber o contexto político de então, muito menos o eventual resultado eleitoral. Qualquer pesquisa eleitoral em junho de 2021 é pura especulação, quando muito referência de momento. Basta ler, entre outras tantas análises recentes, impactante entrevista de Marcos Nobre no Marco Zero, reproduzida pelo Diário do Centro do Mundo: “Bolsonaro é um candidato fortíssimo e as instituições em colapso” (DCM, 07.06.2021).
As instituições estão em quase colapso, diz Marcos Nobre. O bloco de poder dominante, que patrocinou o golpe de 2016, patrocinou as eleições e a vitória de 2018, atua para manter as instituições em quase colapso e não dá sinais concretos de que venha a atuar em sentido contrário. A democracia está em perigo faz tempo. A CPI da pandemia está desnudando um governo neofascista e um presidente genocida e nada acontece.
O quadro econômico-social, com a inflação, a fome, o desemprego e a miséria em alta, desnuda a gravidade da conjuntura brasileira. Os Comitês Populares contra a Fome são a única política existente, construídos pela sociedade civil, sem políticas e programas efetivos de enfrentamento da fome, miséria e desemprego.
Onde o Brasil vai chegar no final de 2021, se sequer se vislumbra, com números concretos e confiáveis, quando a população brasileira estará inteiramente vacinada? Nos próximos dias, vai aparecer o número mais que dramático de 500 mil mortes pelo coronavírus.
Como saber como vai ser 2022 na metade de junho de 2021? Como prever resultados eleitorais nesta altura do campeonato? A urgência da fome, a urgência das mortes provocadas pela pandemia devem estar em primeiríssimo lugar agora, neste momento. A urgência do Vacina no Braço, Comida no Prato, e, especialmente, do Fora Bolsonaro está acima de qualquer outra especulação ou prioridade durante 2021, deixando 2022 para 2022.
Sem deixar de lembrar a luta político-ideológica, que está longe de terminar, com as Fake News, as mentiras atiradas aos quatro cantos do mundo pelos Gabinetes do Ódio. Sem esquecer que se está, dentro de um contexto de rápida mudança de configuração da classe trabalhadora: cada vez mais trabalhadores informais, a uberização e suas consequências. A classe trabalhadora dos anos 1970/1980, como vem dizendo Márcio Pochmann, não existe mais.
Felizmente há alguns sinais, ainda relativamente tímidos, de que a sociedade brasileira pode estar acordando. A mobilização do dia 29 de maio, com centenas de milhares de pessoas na rua em todo o Brasil, e o panelaço de 2 de junho estão dando alento à grande mobilização de 19 de junho, em preparação, e que deverá reunir muito mais gente e povo nas ruas.
A hora é de mobilização social, de enfrentamento da fome e da pandemia, com Comitês Populares contra a Fome e contra o Coronavírus, com muito trabalho de base, com muita formação política. A hora é de aprofundar a unidade das forças populares e democráticas.
Paulo Freire completaria/completará 100 anos em 19 de setembro. Hora de juntar a Pedagogia do Oprimido com a Pedagogia da Indignação e com a Pedagogia da Esperança e transformar o mês de setembro no mês das Marchas: Marchar todo mês com Paulo Freire. Levantar as oprimidas e os oprimidos, encher o povo de indignação, transformar a luta em esperança. ESPERANÇAR freireanamente.
Só assim será possível chegar em 2022 em situação e conjuntura diferentes das atuais, com possibilidade de disputar eleições e pensar em eventual vitória eleitoral, evitando o colapso final das instituições com mais algum golpe político-militar, que pode estar a caminho, o que não é ou não seria inédito na história brasileira.
O tempo urge. A hora ruge.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko