O povo está acordando dos tempos de letargia, das montanhas de Fake News e da enxurrada de mentiras
Quatro coisas impressionantes na manifestação do dia 29 de maio, sábado de tarde, em Porto Alegre, exigindo/reivindicando VACINA NO BRAÇO, COMIDA NO PRATO, FORA BOLSONARO!
A primeira: o número de pessoas. No meio da caminhada, encontrei o companheiro Cícero Balestro, parado na calçada. Que tal, perguntei. Quantos milhares são, ele um meio especialista nestas coisas. Acho que tem umas 20 mil, falei. Mais de 30 mil, ele respondeu com firmeza. “Estou parado aqui há mais de 10 minutos e não para de passar gente.” Mais adiante, quando a rua Riachuelo, centro de Porto Alegre, tem umas ondulações, foi possível ver a multidão em marcha. Concordei: não menos de 30 mil na manifestação porto-alegrense.
A segunda: o número impressionante de jovens. E de idosos tipo eu, e de mulheres levando os filhos pela mão, e de gente brotando por todos os cantos. Com muita alegria, energia e entusiasmo contagiantes. Eram reencontros de quem não se via presencialmente faz tempo, sem abraços, claro. Para mostrar que, afinal, a morte não venceu, nem a política neofascista e genocida.
A terceira: a unidade produzida no processo de preparação do Ato e da mobilização reforçou e garantiu a presença de milhares de pessoas. Todo mundo, todas as forças políticas compreenderam que não se está enfrentando um inimigo qualquer nem se está numa conjuntura fácil.
A quarta, e para mim a mais impressionante, surpreendente, inesperada: Nos prédios, edifícios por onde passou a caminhada, famílias inteiras chegavam nas janelas e sacadas, acenavam, mostravam cartazes de apoio feitos à mão e na hora, agitavam bandeiras, crianças aplaudiam felizes e até batiam panela, como se estivessem numa libertação coletiva. Emocionante. Nos bares, nas calçadas pessoas paravam e aplaudiam. Era como se estivesse nos melhores tempos das Diretas-Já, ou das memoráveis campanhas municipais, estaduais e nacionais em Porto Alegre, nos anos 1980 e 2000.
Chorei um monte de vezes, assim como muita gente depois confessou. Mensagem da companheira Silvana Conti, no grupo de whatsApp da Frente Brasil Popular: “Também chorei, Selvino. Estamos vivas(os), transformando o luto em resistência e luta.”
Começou, finalmente, a virada, e espera-se em definitivo, num dia lindo de sol, no tradicional veranico de maio na capital do Orçamento Participativo e do Fórum Social Mundial. O desafio de voltar às ruas em plena pandemia está superado. O impressionante repúdio, quase geral, à realização da Copa América no Brasil, logo que foi anunciada, é sinal de que a população está atenta, quer vacina e quer proteção. Manifestações de rua devem-podem ser feitas, com todos os cuidados sanitários, com distanciamento social, de preferência com colunas de manifestantes, e assim por diante.
Agora, é avaliar e saber dar os próximos passos. 2022 está longe, e não é de eleições que se trata neste momento e conjuntura. Trata-se, sim, de mostrar a indignação crescente e a esperança em renascimento. O apoio veio das alturas, como fazia tempo não se via. O povo está acordando dos tempos de letargia, das montanhas de Fake News e da enxurrada de mentiras espalhadas pelos Gabinetes do Ódio, dos julgamentos lavajatistas comandados do exterior.
Não era sem tempo. Agora, a solidariedade, em tempos de fome, miséria e desemprego, deve espalhar-se, com os Comitês Populares contra a Fome e o Coronavirus. A necessária e fundamental unidade do campo popular e democrático e da esquerda vai expandir-se por ruas, esquinas, periferias, escolas e universidades. O ESPERANÇAR freireano, no ano do centenário de Paulo Freire, fará brilhar a manhã de justiça, democracia, fraternidade e comunhão do povo brasileiro.
PS. O enorme panelaço da noite do dia 2 de junho de 2021, depois do pronunciamento em rede nacional do Presidente da República, veio coroar a análise e a mobilização de rua de 29 de maio.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko