Milhões de mulheres no Brasil e no mundo vivem em situação de vulnerabilidade, sem acesso a recursos para a higiene adequada — como banheiros, saneamento básico e absorventes descartáveis. Entre as consequências dessa problemática estão os riscos à saúde feminina, a evasão escolar e o próprio constrangimento. A alternativa encontrada por muitas é o uso de materiais inapropriados, na tentativa de absorver o fluxo. Para alertar e estimular ações que ajudem a sanar essa dificuldade, o Departamento de Direitos Humanos da Associação dos Procuradores do Estado do RS (APERGS) reforça a importância do tema com atividades ao longo deste mês, que é marcado pelo Dia Global da Higiene Menstrual (28 de maio).
A Associação tem promovido várias campanhas para ajudar pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade social. Por meio de mobilização interna com associadas e associados, recentemente, a instituição conseguiu arrecadar itens de higiene como absorventes, sabonete, shampoo e papel higiênico, que foram doados à Liga Gineco PUCRS. Os produtos foram encaminhados ao projeto social +Empatia e ao Centro de Extensão Universitária Vila Fátima, integrando a campanha solidária "Combatendo a Pobreza Menstrual".
“É inadmissível que essa realidade e que o tema da menstruação seja um tabu nas escolas e nas famílias em pleno século XXI. E isso não se limita a países em desenvolvimento. Meninas e adolescentes precisam do apoio de governos para ter acesso a estrutura básica, a produtos adequados e ao saneamento básico mínimo”, destaca a coordenadora do Departamento de Direitos Humanos da APERGS, Flávia Reis.
Dados alarmantes
Das 1.124 mulheres entrevistadas na pesquisa “Impactos da Pobreza Menstrual no Brasil”, 50% afirmou já ter precisado substituir o absorvente por papel higiênico, roupa velha, toalha de papel, jornal e até mesmo miolo de pão em virtude das limitações financeiras. O levantamento realizado pela marca de absorventes Always, em parceria com a Toluna, trouxe ainda outros dados ligados ao impacto da situação na escolaridade e saúde da mulher.
Já o estudo da Plan International UKA revela que o problema também existe nos países mais ricos do mundo. No Reino Unido, por exemplo, uma a cada dez meninas entre 14 e 21 anos não pode pagar regularmente por produtos menstruais. Muitas faltam às aulas e 42% recorreram ao uso de papel e meias, de maneira improvisada.
Soluções
Alguns movimentos começam a surgir pelo mundo e servem de exemplo: o Quênia oferece absorventes higiênicos para as mulheres do país, e a Etiópia estabeleceu clubes de gestão de higiene menstrual nas escolas. Por sua vez, Índia e Paquistão incluíram esse tema em suas agendas governamentais.
Mais perto, no Rio Grande do Sul, um Projeto de Lei inclui absorventes higiênicos na cesta básica gaúcha. O PL 158/2020, que institui o programa “Menstruação Sem Tabu”, prevê ainda que o estado possa reduzir os impostos sobre o produto e distribuir absorventes de forma gratuita a meninas e mulheres em situação de vulnerabilidade. A proposta está em tramitação na Assembleia Legislativa.
Outra iniciativa propõe a distribuição gratuita de absorventes para alunas da rede municipal de Novo Hamburgo. Dados que embasaram o PL nº 14/2021 — apresentado em março na Câmara de Vereadores da cidade e que segue em tramitação — apontam gastos próximos a R$ 6 mil por mulher, com absorventes, ao longo de toda a vida fértil.
“É preciso, sim, falar dessa triste realidade. Promover a educação nas famílias e nas escolas para que um fenômeno natural do corpo feminino seja tratado com naturalidade, respeito e dignidade. Cabe às autoridades assumirem seu papel na implementação de políticas públicas. Saber que a pobreza menstrual existe é um dever. Cabe a nós não perpetuar esse trágico silêncio”, conclui Flávia Reis.
Principais resultados da pesquisa “Impactos da Pobreza Menstrual no Brasil”
-
Uma em cada quatro mulheres já faltou a aula por não poder comprar absorventes;
-
48% destas tentou esconder que o motivo foi a falta do item de higiene;
-
45% delas acredita que não ir à aula por falta de absorventes impactou negativamente o seu rendimento escolar;
-
Entre as mulheres de classes mais baixas, tecidos ganham ainda mais importância como substitutos do absorvente;
-
A utilização de itens inadequados na menstruação podem causar infecções no trato urinário, nos rins e até lesões nos órgãos reprodutores femininos.
*As informações são da Assessoria da APERGS
:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato RS no seu Whatsapp ::
SEJA UM AMIGO DO BRASIL DE FATO RS
Você já percebeu que o Brasil de Fato RS disponibiliza todas as notícias gratuitamente? Não cobramos nenhum tipo de assinatura de nossos leitores, pois compreendemos que a democratização dos meios de comunicação é fundamental para uma sociedade mais justa.
Precisamos do seu apoio para seguir adiante com o debate de ideias, clique aqui e contribua.
Edição: Marcelo Ferreira