Tempos difíceis que estamos vivendo, não? Por isso se torna cada vez mais necessário fazermos uso de todas as ferramentas de comunicação e interação possíveis e impossíveis para que possamos nos unir, nos formar e informar sobre os acontecimentos e os riscos do momento que ameaça nossa democracia e nossas vidas.
Para isso, além de todos os novos meios de comunicação e suas formas recentes que se intensificaram dentro do isolamento social decorrente da covid-19, temos a arte. Sim, a arte.
Instrumento de comunicação que vem se mostrando cada vez mais poderoso e capaz, por meio dos seus agentes (artistas), fazendo-se presente no novo cotidiano da sociedade, engajando e mobilizando cada vez mais a população em seus métodos simbólicos e atraentes.
Não é de hoje que essa ferramenta cultural se mostra capaz de revolucionar as estruturas se (re) significando e se (re) adaptando às mudanças e transformações naturais e/ou direcionadas pelo próprio sistema, estando sempre na vanguarda das lutas, resistência e defesa dos direitos sociais.
Uma de suas formas é o que acontece no segmento musical denominado Música de Protesto que se apresenta como uma forma de se fazer música abordando temas sociais, políticos e econômicos presentes nos momentos históricos em que vive a humanidade, entendendo o passado para resistir no presente, construindo o futuro desejado e comum a todos (as) os (as) cidadãos (ãs). Um tipo de música que questiona, denuncia e gera reflexão por parte da população que a consome estimulada pelo artista que a concebe e apresenta.
O artista por si só já, por necessidade de sua profissão e ofício, vivencia e alimenta-se da constante busca pela experiência humana através da observação e reflexão, o que o leva à prática filosófica, praticando cada vez mais a reflexão e questionamento do ser, do espaço e do sistema. Neste artigo quero falar da Música de Protesto através da vida e obra de um dos maiores artistas da música mundial: Bob Dylan.
Dylan completa seus 80 anos de idade no dia 24 de maio e, teve algumas de suas composições utilizadas como Música de Protesto como veremos a seguir.
Robert Allen Zimmerman, o Bob Dylan nasceu no dia 24 de maio de 1941 em Duluth no estado de Minnesota nos Estados Unidos, além de ser músico, cantor e compositor, também é ator, pintor, escritor e artista visual. Atua na arte há mais de 50 anos e possui canções e temas que se tornaram hinos na voz do povo.
Dylan compôs sua primeira canção de protesto The Death of Emmett Till denunciando assassinato de um negro Emmett Till que ocorreu no Mississipi em 1955. Já em Talkin John Birch Paranoid Blues protestava contra a John Birch Society, grupo anti-comunista fundado em 1958. Em A Hard Rain’s A-Gonna Fall, Dylan protesta contra a crise de mísseis em Cuba falando sobre a guerra nuclear. A crítica às matanças das guerras e o massacre do índios nativos em seu país e dos mexicanos são questionados em With God On Our Side.
A luta pelos direitos civis nos Estados Unidos é tema da canção The Times They Are A-Changin. O assassinato da garçonete negra de 51 anos, mãe de onze filhos Hattie Carrol por um homem branco foi retratado e questionado na canção The Lonesome Death Of Hattie Carrol.
Já em junho de 1963, um organizador de manifestação pelos direitos civis aos negros Medgar Evers, foi morto por um racista branco da classe trabalhadora no Mississipi, Dylan protestou com a música Only a Pawn In The Game, mas esse protesto musical abrangeu também toda a infra-estrutura social que apoiava a segregação no Sul.
A crítica agressiva a indústria bélica e ao sistema militar-industrial que dá linha à política externa norte-americana veio com a canção Master Of War. Sobre o acontecido com o ativista negro George Jackson, preso e morto, foi alvo de crítica pela canção George Jackson.
Dylan escreveu Hurricane em 1975, depois de ler a autobiografia do boxeador Rubin Carter, preso por um assassinato que afirmava não ter cometido.
Mas foi em Blowing In The Wind que Bob Dylan atingiu e continua a atingir cada vez mais gerações que vão chegando como público e consumidor das canções de protesto. Uma canção que nasceu a partir de uma discussão política em que Dylan participou e foi composta em abril de 1962 no The Commons, em Greenwich Village, uma casa noturna em Nova Iorque, em apenas dez minutos.
Segundo Dylan, a canção não nasceu com o objetivo de protesto, mas de reflexão. E como afirmou Bob Dylan: Testemunhar uma injustiça e não fazer nada para impedi-la é a mesma coisa que cometê-la. “A ideia veio a mim de que você é traído por seu silêncio, de que todos nós nos EUA, que não nos manifestamos, estamos sendo traídos por ele”, afirmou mais tarde, segundo Nigel Williamson, autor de O Guia do Bob Dylan.
Pois é, como disse a arte tem papel fundamental nas lutas por direitos civis e sociais e no combate à desigualdade. No Brasil e no mundo sempre esteve na vanguarda das lutas e resistência. Onde há injustiça perante a sociedade, lá estaremos nós, artistas, músicos, poetas, atores para questionar, criticar e informar toda uma população que é alvo do sistema capitalista neoliberal que busca formas de alienação e emburrecimento de um povo.
Enquanto acreditamos na ferramenta da arte como veículo de comunicação para provocar a consciência de classe de todos (as) nós. Parabéns artistas. Parabéns Bob Dylan pelos seus 80 anos!
Para finalizar, deixo a vocês uma playlist de Bob Dylan e suas canções de protesto. É só clicar e apreciar!
The Lonesome Death of Hattie Carrol
Danilo Nunes é músico, ator, historiador e pesquisador de Cultura Popular Brasileira e Latino-americana.
Instagram: @danilonunes013 Facebook: @danilonunesbr
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko