Rio Grande do Sul

Coluna

Levante nacional contra o Feminicídio

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O lançamento da Campanha no RS foi numa live giratória que ouviu vozes de ativistas, artistas, vítimas e sobreviventes - Divulgação
Como diz Audre Lorde, "Silêncio no patriarcado é a voz da cumplicidade". Sigamos alertas e em luta

“Houve um dia, que eu até sentia medo

Que você chegasse cedo

Pro meu corpo machucar.

Mas eu virei o tabuleiro 

Este jogo, companheiro, 

Eu não vou mais aceitar.

Nem Pense Em Me Matar”

Canção: Corpo Meu

Composição: Cris Pereira

O Levante Feminista Contra o Feminicídio é uma campanha nacional lançada em todos os estados do país, chamada por organizações não governamentais, articulações e coletivas feministas. A propulsão foi iniciada pela ativista integrante da Coalizão Negra por Direitos, Vilma Reis, em parceria com Márcia Tiburi, filósofa, escritora e artista, e Tania Palma, pesquisadora e assistente social.

O lançamento da Campanha no RS foi numa live giratória de quase 3 horas que ouviu vozes de ativistas, artistas, vítimas e sobreviventes, que constroem o levante pela vida das mulheres. Transmitida por mais de 30 páginas do Facebook, contou com ancoragem de Sandrali Bueno e Malu Viana. A programação intercalou falas ao vivo e gravadas, com mulheres representantes de movimentos e organizações de quase todas as regiões do estado; blocos artísticos, com o hino do Levante Feminista “O Corpo é Meu” e cenas curtas de música, teatro e poesia também fizeram parte do ato de lançamento. 

Em virtude do contexto pandêmico, o Levante Feminista tem investido em ações de ocupação das redes e, além de lives, promove twittaços em torno de pautas de lutas feministas. Atualmente, são mais de 90 organizações e entidades que compõe o Levante Feminista Contra o Feminicídio no RS, articulada em Grupos de Trabalho, utilizando todos os saberes e meios possíveis para barrar o horror da cultura feminicida.

O Brasil é o 5º país com mais feminicídios no mundo. Nós mulheres brasileiras vivemos duas pandemias, coronavírus e violência contra nós e nossos corpos. A cada 9 horas uma de nós cai. Para que nenhuma mais seja derrubada, é preciso que todas nos levantemos.

A conjuntura brasileira é a pior possível se você é mulher e se torna mais e mais crítica se sua pele é negra e sua condição econômica é baixa. Há um projeto político de extermínio e ele fez muitas vítimas mesmo antes da pandemia. Todas as mazelas tomaram proporções mais acentuadas por conta do coronavírus.

O pensamento em vigência tem sido intensificado em todos os meios. Mas é o espaço político que tem aberto brechas para liberar a insânia de parte da população. Precisamos de constante organização política. Só assim poderão cessar os absurdos que enfrentamos cotidianamente, entre os quais, ameaças feminicidas que as parlamentares mulheres, principalmente de esquerda, têm sofrido, como indica o Instituto Igarapé.

"Há casos reais que mostram como a trajetória das mulheres que optam por participar ativamente da política é marcada por intimidações e violência. Na América Latina, a violência e o assédio político baseado no gênero são um desafio comum às mulheres que ingressam na vida política. [...]  A consequência mais grave é, como na violência doméstica, o feminicídio, nesse caso, político.”

Por anos, a América Latina tem sido o continente mais letal para nós, mulheres. Colonizado com base na imposição do patriarcado e do racismo, a serviço da constituição e consolidação do capitalismo, tem sido também a Pátria Grande a região do planeta de onde emergem alguns dos principais movimentos de massa dos últimos anos. Nossa capacidade insurgente se fez notar em grandes manifestações que transbordaram para o mundo, com uma Onda Verde, Ni Una Menos e a Greve Internacional de Mulheres.

A cultura feminicida é elemento fundamental de coerção frente a nossa capacidade de resistência. A experiência do Levante Feminista se inscreve entre inúmeros esforços para o enfrentamento desta cultura.

A violência sofrida por uma mulher, nos atinge a todas.

Como diz Audre Lorde, "Silêncio no patriarcado é a voz da cumplicidade". Sigamos alertas e em luta até que todas sejamos livres.

Juçara Gaspar  - artista e militante feminista 
Zadi Zaro - Col. Feminista Outras Amelias/Mulheres de Resistência e Luta

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko