A neta de Leocádia Prestes e filha de Luiz Carlos Prestes, Zoia Prestes tomou conhecimento, no dia 11 de maio, por meio de um aplicativo de mensagens de celular, do vídeo de autoria do deputado estadual do Rio Grande do Sul tenente-coronel Zucco, no qual afirmava que a Escola Municipal Leocádia Felizardo Prestes, localizada em Porto Alegre (RS), teria aderido ao projeto de transformação de escolas públicas em escolas cívico-militares. Fato já desmentido pela direção da escola em nota pública divulgada na sexta-feira (14).
Neste sábado (15), encaminhou uma carta aberta à comunidade Escola Municipal Leocádia Felizardo Prestes manifestando seu repúdio ao modelo. "Sou neta de Leocádia, mãe de meu pai Luiz Carlos Prestes. Tenho muito orgulho de ser descendente de duas pessoas corajosas, que nunca se renderam aos poderosos, mesmo nos momentos mais difíceis de suas vidas. Assim como muitas e muitos da comunidade pertencente à EMLFP, sou professora, com passagem pela educação básica, atuando hoje na Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (Niterói, RJ)."
Zoia afirma na carta, ter certeza de que a comunidade escolar conhece bem a biografia de sua valente avó e não ser necessário descrever traços de seu caráter e as ações que a tornaram conhecida no mundo todo e a ser homenageada, inclusive, com um poema do poeta chileno Pablo Neruda. "Sua trajetória de vida é admirável e sempre serviu de inspiração para mim. Acredito que a comunidade da escola que carrega seu nome compartilha desse sentimento."
Confira a íntegra da Carta Aberta
À comunidade da Escola Municipal Leocádia Felizardo Prestes, localizada em Porto Alegre (RS)
Estudantes, professoras (es), servidores e profissionais da educação, pais, mães e responsáveis
No dia 11 de maio, por meio de um aplicativo de mensagens de celular, recebi um vídeo de autoria do deputado estadual do Rio Grande do Sul tenente-coronel Zucco, no qual afirmava que a Escola Municipal Leocádia Felizardo Prestes, localizada em Porto Alegre (RS), teria aderido ao projeto de transformação de escolas públicas em escolas cívico-militares.
Sou neta de Leocádia, mãe de meu pai Luiz Carlos Prestes. Tenho muito orgulho de ser descendente de duas pessoas corajosas, que nunca se renderam aos poderosos, mesmo nos momentos mais difíceis de suas vidas. Assim como muitas e muitos da comunidade pertencente à EMLFP, sou professora, com passagem pela educação básica, atuando hoje na Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (Niterói, RJ).
Tenho a certeza de que conhecem bem a biografia de minha valente avó e não é necessário descrever traços de seu caráter e as ações que a tornaram conhecida no mundo todo e a ser homenageada, inclusive, com um poema do poeta chileno Pablo Neruda. Sua trajetória de vida é admirável e sempre serviu de inspiração para mim. Acredito que a comunidade da escola que carrega seu nome compartilha desse sentimento.
Vivemos tempos complexos e difíceis no mundo e, em especial, no Brasil. A pandemia mundial da covid-19, aliada à incompetência do atual governo, aprofundou ainda mais as desigualdades sociais que assolam nosso país. Vivemos tempos de destruição de direitos e imposição de projetos que estão na contramão da luta por um Brasil democrático e socialmente justo. Levamos décadas para conseguir democratizar o acesso à educação pública e possibilitar a permanência de crianças e adolescentes nas escolas. E ainda temos muitos desafios a enfrentar e um dos principais é a valorização do professor. Ao invés de proporcionar condições dignas para que pudéssemos desenvolver nossa tarefa de ensinar e educar, em colaboração com as famílias, somos atacados.
A instituição escola é parte integrante de uma sociedade como a nossa – violenta, injusta e desigual. Nela são reproduzidos fenômenos sociais para os quais não há soluções mágicas. Antes de tudo é preciso que a educação seja prioridade de ações de governo, coisa que nunca aconteceu no Brasil em nível nacional.
Transformar uma escola municipal em escola cívico-militar é defender a ideia de que os problemas da educação pública são a indisciplina e a violência. Com isso, apresentam um projeto em que a disciplina parece ser o fator primordial para atenuar os efeitos da vulnerabilidade social e criar um ambiente propício à educação, além de apontar valores, que, na opinião deles, devem ser resgatados como: o civismo, o respeito, a honestidade, a excelência e a dedicação e imputam apenas a nós, docentes da educação pública, a responsabilidade pelo fracasso educacional do país.
Sequer mencionam que a maior violência é praticada há tempos pelo próprio Estado que torna os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Defendem um projeto de educação que atenda a um projeto de sociedade em que o povo se submeta aos poderosos, pois disciplina para este projeto significa obediência cega e absoluta a ordens do instituído. Quem se rebela contra esta ordem é tido como indisciplinado que precisa ser ajustado a um determinado padrão de comportamento, sendo obediente, servil e submisso.
Dirijo-me à comunidade da Escola Municipal Leocádia Felizardo Prestes e peço que reflitam sobre o projeto de implantação de uma escola cívico-militar que está sendo apresentado, pois a escola não é lugar para presença de policiais e militares. Ela é um lugar de convivência e de encontros, lugar de ensinar e aprender, lugar de pensamento crítico e desenvolvimento humano. E o principal ator nesse cenário deve ser o professor. É nele que se deve investir para que recupere sua autoridade, colaborando para a construção de uma sociedade socialmente justa e democrática, pela qual lutaram incansavelmente minha avó e meu pai.
Zoia Prestes
Rio de Janeiro, 15 de maio de 2021
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Edição: Katia Marko