Rio Grande do Sul

Literatura

Livro "Expulsão dos Palestinos" é lançado no Brasil pelo Monitor do Oriente Médio

Nur Masalha expõe e analisa em sua obra o esvaziamento da Palestina como processo deliberadamente planejado

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Israel tem atacado a Faixa de Gaza em ataques aéreos desde 10 de maio - Ali Jadallah/Agência Anadolu

Israel tem atacado a Faixa de Gaza em ataques aéreos desde 10 de maio, matando pelo menos 181 palestinos, incluindo 31 mulheres e 52 crianças, além de ferir mais 1.225 pessoas.

As tensões se espalharam de Jerusalém Oriental a Gaza depois que grupos de resistência palestinos prometeram retaliar contra os recentes ataques israelenses à mesquita de Al-Aqsa e ao bairro de Sheikh Jarrah se eles não fossem detidos.

Israel ocupou Jerusalém Oriental, onde Al-Aqsa está localizada, durante a guerra árabe-israelense de 1967. Ela anexou toda a cidade em 1980, em um movimento nunca reconhecido pela comunidade internacional.

Neste sábado (15), o Exército de Israel bombardeou e destruiu um prédio de 12 andares localizado em Gaza que abrigava escritórios da emissora catari Al Jazeera, da agência norte-americana Associated Press e outros veículos de comunicação, além de apartamentos residenciais.

Antes do bombardeio contra o edifício, um ataque das forças israelenses havia atingido um campo de refugiados em Gaza que, segundo a AP, foi a ação que deixou o maior número de pessoas mortas de uma só vez desde o início das hostilidades: 10 palestinos morreram, sendo oito crianças e duas mulheres.

O Hamas, por sua vez, voltou a responder as ações com o lançamento de foguetes contra Israel. Neste sábado, um ataque atingiu a cidade de Ramat Gan, próximo a Tel Aviv, que deixou duas pessoas mortas.

Livro contribui para reflexão crítica sobre o conflito


Este foi o primeiro lançamento editorial no Brasil do Monitor do Oriente Médio / Divulgação

No mês de março, foi lançado no Brasil a primeira obra do historiador palestino Nur Masalha em português: “Expulsão dos palestinos. O conceito de ‘transferência’ no pensamento sionista (1882-1948)”. Este foi o primeiro lançamento editorial no Brasil do Monitor do Oriente Médio, em parceria com o Fórum Latino-Palestino e a editora Sundermann.

Nur Masalha tem um currículo significativo. Ele é autor de onze obras e dezenas de escritos sobre a história palestina publicados em inglês, árabe e espanhol. Não por acaso, Nur foi o historiador comentarista do conhecido documentário de 61 minutos “A terra fala árabe”, de Maryse Gargour. Feito em 2007, ele trata do longo processo de limpeza étnica à qual foram submetidos os palestinos pelas mãos do movimento sionista.

Atualmente Nur Masalha é membro do Centro de Estudos Palestinos na Universidade de Londres e do Centro de Filosofia da História da Universidade St. Mary’s. Ele é ainda editor-chefe da Revista de Estudos da Terra Santa e Palestina, publicação semestral da editora da Universidade de Edimburgo, desde 2002.

Outro aspecto relevante sobre a publicação dessa obra é o esforço por parte da Editora Sundermann e do Monitor do Oriente Médio para romper com a hegemonia editorial de publicações de autores sionistas, israelenses ou não, quando se trata da questão palestina, hegemonia esta que revela o encontro da “história” dos vencedores com os preconceitos orientalistas de editores e do establishment em geral.

A questão palestina está atravessada pela Nakba, a palavra em árabe que significa catástrofe e se refere à formação do Estado de Israel em terras palestinas em 1948, efetuada em base à expulsão de 800 mil palestinos, à destruição de mais de 500 vilas e à realização de pelo menos 30 massacres, sendo Deir Yassin, nos arredores de Al Quds (Jerusalém), o mais conhecido deles.

A historiografia israelense tradicionalmente explica essa expulsão maciça ora através de um mito segundo o qual os palestinos deixaram suas terras e propriedades de livre e espontânea vontade, eventualmente atendendo ao chamado de líderes árabes que nunca existiu, ora como um dano colateral da “guerra de independência” contra poderosos exércitos árabes.

Essa versão dos “vencedores” foi derrubada pela abertura dos arquivos das organizações e milícias sionistas, e a consequente publicação de obras como “A limpeza étnica da Palestina” de Ilan Pappé, que confirmaram o que a historiografia palestina já havia revelado desde os anos 1950 através de autores como o historiador palestino Walid Khalidi.

No entanto, essa expulsão dos palestinos foi precedida pela maturação ideológica no interior do movimento sionista ao longo de 66 anos. É desta maturação que trata o historiador Nur Masalha.

O leitor se surpreenderá com as revelações trazidas pelo autor, através do exame dos próprios diários, arquivos e declarações de dirigentes das organizações sionistas que expõem os fundamentos do pensamento desse movimento desde a sua fundação em 1882 até a formação do Estado de Israel em 1948.

Ao examinar essa documentação, o autor encontrou a presença constante do conceito de “transferência”, um eufemismo que esconde uma estratégia política: a expulsão dos palestinos, considerados uma população excedente, para fora de sua terra natal pelos meios que fossem necessários para abrir espaço para a formação do Estado de Israel.

A tradução foi feita a partir do original em inglês por Leo Misleh e Teresa Bosco Ferreira, e o prefácio da obra é do diretor do Monitor do Oriente Médio, Dr. Daud Abdullah.

Além de propiciar acesso ao público brasileiro de uma importante obra sobre a questão palestina e de publicar autores árabes no Brasil, a conhecida jornalista palestino-brasileira Soraya Misleh, idealizadora da edição deste livro em português, escreve sobre a relevância de unir o conhecimento histórico à prática transformadora:

“A perspectiva é que o conhecimento proporcionado nesta obra por Nur Masalha contribua para a transformação da realidade, ampliando a solidariedade internacional para que, ao lado da resistência heroica dos palestinos, se garanta justiça. Contra o apartheid, colonização e ocupação, Palestina livre do rio ao mar!”

Lançamento: “A expulsão dos palestinos”, livro de Nur Masalha – Monitor do Oriente

* Com informações do Monitor do Oriente Médio.


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Edição: Katia Marko