Rio Grande do Sul

Coluna

Resistência ativa

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"Solidariedade não é dar o que sobra. É dar o que se tem, foi a palavra dita por Cedenir de Oliveira, em nome do MST no Largo Glênio Peres, ao chegarem os vários caminhões cheios de alimentos" - Maiara Rauber
Muita luta ativa espera quem continua acreditando no sonho e na utopia de ‘um outro mundo possível'

Foi lindo, em meio à tanta dor, mortes e sofrimento. E foi no Primeiro de Maio de 2021, dando um sentido ainda mais forte e verdadeiro ao Dia das Trabalhadoras e dos Trabalhadores. Mais que celebração, dia de luta e solidariedade. E no ano do Centenário de nascimento Paulo Freire, um dia antes da data da sua morte, que aconteceu em 2 de maio de 1997. Os tempos, apesar de tudo, são de ESPERANÇAR.

No Largo Glênio Peres, centro de Porto Alegre, aconteceu o Ato unitário das Centrais Sindicais, movimentos populares, pastorais sociais de diferentes igrejas, com todos os cuidados sanitários em tempos de pandemia. E exigiu Vacina para todas e todos já, Auxílio emergencial já e Fora Bolsonaro já! Houve recolhimento de alimentos contra a fome, cada vez mais presente entre trabalhadoras e trabalhadores.

Na Lomba do Pinheiro e outras comunidades da periferia de Porto Alegre, Ginásio da parada 10, Paróquia Santa Clara, chegou um caminhão cheio de alimentos do MST, a serem distribuídos pelos Comitês Populares contra a Fome da região, periferia de Porto Alegre, organizados desde o início de 2020. ‘Vacina no Braço, Comida no Prato’ foi a palavra de ordem, proclamada pelos militantes que estavam no Largo Glênio Peres e no ginásio na Lomba do Pinheiro         

Solidariedade não é dar o que sobra. É dar o que se tem, foi a palavra dita por Cedenir de Oliveira, em nome do MST no Largo Glênio Peres, ao chegarem os vários caminhões cheios de alimentos, que se dirigiram a diferentes comunidades das periferias de Porto Alegre: “A crise é deles, mas quem paga são os trabalhadores. É preciso transformar a fome em rebeldia para derrotar esse governo genocida.”

Na Lomba do Pinheiro, as lideranças do MST falaram em resistência ativa, como atitude esperada e necessária nestes tempos e conjuntura por que passam o Brasil e o mundo. Foi ressaltado o papel das mulheres nesta resistência ativa. Resistência contra ditaduras. Resistência sempre que os direitos dos mais pobres estão ameaçados. Mas resistir ativamente, com ações coletivas, com organização. Resistir no esperançar de Paulo Freire, de fazer acontecer.

Em matéria com o título ‘Assentados do Rio Grande do Sul doam 58 toneladas de alimentos para o combate à fome -  Ações fazem parte da Jornada de Lutas e Solidariedade com a Classe Trabalhadora’, falou Lirian Karine Schultz Nachtigall, moradora da Lomba do Pinheiro: “Estamos recebendo na nossa mesa e na nossa comunidade, uma alimentação saudável e orgânica vinda dos assentamentos da Reforma Agrária. Essas doações ajudam a abastecer as cozinhas solidárias da Lomba que alimentam mais de 5 mil pessoas.”

Nas palavras de Loiva Dietrich, Conselheira Tutelar do Bairro Humaitá e Ilhas, Porto Alegre: “Essa ação solidária do MST é muito importante, porque a fome está em um estágio alarmante. Não tem políticas públicas, estamos enfrentando a maior crise de desemprego, são muitas pessoas que vivem na informalidade e vivem de doações. Essa doação é fundamental, porque ajuda a saciar a fome de muitas pessoas.” 

O Brasil voltou ao Mapa da Fome da ONU, do qual tinha saído pela primeira vez na história há alguns anos, fruto de diferentes políticas públicas e programas de enfrentamento à fome, construídos em diálogo com a sociedade e forte participação popular. Entre outros, o PAA, Programa de Aquisição de Alimentos, a consolidação e ampliação do PNAE, Programa Nacional de Alimentação Escolar, a construção da Política e Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, sob coordenação do Consea, Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, e da Política e Programa Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, com a criação da CNAPO, Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica.

Estas políticas e programas, bem como seus conselhos e Comissões correspondentes, foram extintos pelo atual governo federal. Decisões que levaram o Brasil de volta ao Mapa da Fome.

A resistência ativa, expressa no combate à fome, nas ações do MST e de muitas e muitos mais, com unidade e solidariedade, terá que ser acompanhada de um novo projeto de país e nação, construído de baixo para cima, com uma economia efetivamente solidária, e no cuidado com a mãe natureza e a Casa Comum.

Muita luta e muita resistência ativa esperam quem continua acreditando no sonho e na utopia de ‘um outro mundo possível’, urgente e necessário.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko