Em 30 de abril de 2011, um trágico acidente de carro tirou a vida de nossos grandes companheiros Derli Casali e Maria Izabel. Ambos membros da direção nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) na época. Foi um choque imenso. Ambos representavam dois rostos estimados pelo campesinato contemporâneo brasileiro. Isabel, um rosto jovem, feminino, carregava a nobreza da mulher sertaneja. A sua pele refletia a luz quente do semiárido sergipano. Derli, homem distinto. Poeta, intelectual, camponês aguerrido. Um renomado agroecólogo capixaba.
Uma perda terrível em um abril vermelho. Neste que é o mês de memória ao massacre de Eldorado dos Carajás, que transformou o 17 de abril em data internacional de Luta Camponesa. O Brasil viu muitos camponeses e camponesas serem enterrados na luta pela reforma agrária, na luta pelo direito de produzir alimentos saudáveis, na luta por defender o seu chão. Segundo levantamento do Repórter Brasil, desde que Bolsonaro chegou ao poder, 32 assassinatos ocorreram em conflitos agrários em nosso país, sem que os algozes fossem sequer julgados. Tinham nome, família, história e memória.
O MPA tem uma atenção muito especial voltada à memória. Iniciamos este mês de abril encerrando a Escola Camponesa da Memória, que em sua 6ª edição contemplou a luta e resistência dos povos na Amazônia. Escola organizada pela e para a juventude com o objetivo de resgatar a memória do povo que luta. A própria classe camponesa se afirma como tal com base na memória. O que seria do campesinato de hoje sem a experiência recente das Ligas Camponesas? Experiência que fez o próprio Estado brasileiro definir como agricultura familiar a agricultura camponesa, por medo da afirmação destes que alimentam o país.
O plano camponês elaborado pelo MPA, inclusive, tem em sua estrutura um eixo próprio para a História e a Memória. A história do Brasil é a história do povo que luta. Voltemos ao Brasil atual, onde soma mais de 400 mil mortes pelo SARS-COV-2 e pelo descaso do atual governo. Lembraremos deste momento de dor? Este momento ficará marcado na história e na memória de nosso povo. Seguiremos lutando e denunciando esta política de morte do governo Bolsonaro. Só com a organização e luta da classe trabalhadora seremos capazes de transformar esta situação.
Os companheiros Paulinho Boff e a jovem Eltaísa Amorim partiram, infelizmente, de forma abrupta com um aviso dado de forma equivocada: é urgente a mudança desse sistema cruel e perverso. Katson de Souza, jovem liderança do MPA assassinado por lutar pela reforma agrária, teve seu corpo encontrado à beira da estrada em Santa Izabel, no Pará. O companheiro João Bigode, liderança camponesa na Bahia, foi assassinado também em um abril, em 2016. O jovem Junior Mota, assassinado em sua própria roça na luta pela titulação das terras da Comunidade Quilombola de Jibóia, município de Antônio Gonçalves, em 2017, também na Bahia.
No dia de hoje, camponesas e camponeses do MPA somam a dor das perdas à solidariedade. Junto à missa de lembrança aos 10 anos da partida física de Maria Izabel e Derli Casali, nesta manhã, na casa da família de Izabel, na comunidade de Retiro, município de Monte Alegre (SE), ocorrem diversas ações de entrega de alimentos a quem mais precisa. Em Rondônia, município de Jaru, foram entregues 50 cestas de alimentos saudáveis para as famílias do Jardim Europa, onde vivem famílias que não possuem fácil acesso à escola, creche e posto de saúde. No Rio de Janeiro, 400 kg de arroz Velho Chico estão sendo preparados para entrega a famílias que precisam. Arroz que vem da região do Baixo São Francisco, no estado de Maria Izabel.
Neste dia 30 de abril estamos reafirmando para toda a classe trabalhadora: somente o povo salva o povo! Viva a memória do povo que luta!
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Edição: Marcelo Ferreira