Rio Grande do Sul

Coluna

As mulheres palestinas têm sido um espinho para autoridades de ocupação israelenses

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É urgente defender as sanções e o fim de todos os acordos de cooperação entre Brasil e Israel

É comum ouvirmos comparações entre a pandemia e um estado de guerra ou de sítio, mas esta analogia não retrata a realidade que enfrentam povos de territórios sob ocupação ou ataque. Ser mulher em uma sociedade que nos sobrecarrega com o conjunto das tarefas de cuidado, sob um contexto pandêmico, é difícil. Porém, não é comparável ao que vivem mulheres de povos sem direito à soberania.

O caso das mulheres palestinas é um exemplo da crueldade com que o patriarcado opera nestes casos. Elas sempre foram e são a primeira linha de defesa contra a ocupação israelense, que visa expulsá-las, seus filhos e maridos de sua própria terra para que a presença árabe muçulmana e cristã na cidade sejam apagadas sem deixar vestígios. A mais significativa das violações das condições sociais, econômicas e psicológicas a estas mulheres é a política de Israel de demolição de casas e deslocamento forçado, fazendo com que famílias inteiras tenham que deixar sua cidade natal, perdendo seu principal investimento e abrigo.

Durante a pandemia, muitos governos estaduais e municipais, no Brasil, desrespeitaram a decisão de não realização de despejos e isto é horrível. Agora imagina isto se tornar sistemático e tu não ter pra onde correr, ou com quem buscar abrigo, porque todo teu povo está na mesma?

A política colonialista de Israel inclui a revogação de cartões de identificação e autorizações de residência; assim, perdem o direito de residir permanentemente na cidade onde nasceram e foram criadas e o direito de retornar, transformando-as em refugiadas permanentes.

O confisco de terras e propriedades levou a níveis crescentes de pobreza em Jerusalém, agravado pela impossibilidade das mulheres de acessar o mercado de trabalho devido às restrições ao movimento entre cidades.

Por que trazer este tema à tona, em uma coluna de diálogos feministas?

Porque, neste momento, tramitam na Câmara dos Deputados dois acordos de cooperação entre o Estado Brasileiro e o Estado de Israel, a MSC 371/2019 e a MSC 556/2019, que foram assinados pelo desgoverno Bolsonaro em uma visita a Jerusalém, em 31/03/2019. Os acordos firmados entre os genocidas Netanyahu e Bolsonaro, visam fortalecer e beneficiar empresas, tecnologias e técnicas israelenses que estão conectadas à manutenção do regime ilegal de ocupação, apartheid, encarceramento e limpeza étnica do povo palestino. Os acordos também preveem que o Brasil hospede empresas diretamente responsáveis pela prática dessas violações.

Além disso, a aprovação de tais acordos resultaria no aprofundamento da repressão, riscos e ameaças aos movimentos devido ao intercâmbio de armas, dados e tecnologias de monitoramento e militarização com um regime que dispõe desses recursos justamente por utilizar o povo palestino como cobaia.

As mulheres palestinas têm sido um espinho para autoridades de ocupação israelenses, tanto na defesa da liberdade de culto nas mesquitas e igrejas de Jerusalém como de seu território e de sua cultura histórica. Estas mulheres são sujeitas às piores formas de tortura, antes e durante a detenção em prisões israelenses, sem o direito a defesa, são submetidas a espancamentos, interrogatórios demorados, pressão psicológica, revistas invasivas, ameaças de estupro e confinamento solitário.

O Estado de Israel está violando as normas internacionais estabelecidas pelas Nações Unidas com relação às mulheres prisioneiras, sujeitando as prisioneiras políticas palestinas a condições desumanas e degradantes impunemente. As mulheres periféricas brasileiras e palestinas sofrem com o racismo, o encarceramento e o luto pela perda de seus filhos e companheiros pela repressão policial e militar, e firmar tais acordos, irá reforçar e ampliar a opressão das mulheres lá na Palestina e aqui no Brasil.

Por isto escrevemos, porque é fundamental pressionar os deputados para reprovarem tais acordos. A sociedade civil como um todo, movimentos, feministas, sindicatos deveriam atender ao chamado de BDS (Boicote Desenvolvimento e Sanções) feito pelo povo palestino.

Claudia dos Santos - Frente Gaúcha de Solidariedade ao Povo Palestino

Edição: Katia Marko