A fome voltou com força nos lares brasileiros, que já enfrentavam sérias dificuldades nos últimos anos e foram atingidos em cheio pela crise social e econômica resultante da pandemia. Em meio a essa alarmante realidade, a população é desassistida pelo governo federal, que nega-se a pagar um auxílio emergencial de R$ 600,00, dificultando ainda mais que a população tenha comida na mesa.
À sua própria sorte, famílias em vulnerabilidade social lutam para conseguir prover comida numa realidade de inflação dos preços dos alimentos, que dispararam nos últimos anos, principalmente durante a pandemia. Não fosse pela solidariedade de movimentos sociais, instituições, organizações sindicais, coletivos e iniciativas comunitárias que desde o início da pandemia fortaleceram campanhas de doação de alimentos, a situação estaria ainda pior.
O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia Covid-19 no Brasil aponta que 19 milhões de pessoas passaram fome nos últimos meses de 2020. O número é alarmante e representa o dobro do que foi registrado em 2009, com o retorno ao nível observado em 2004.
A pesquisa, realizada em dezembro, pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) estima que 55,2% dos lares brasileiros, o que corresponde a 116,8 milhões de pessoas, conviveram com algum grau de insegurança alimentar no final de 2020.
Não é somente o governo federal que não atende a dura situação das famílias que passam fome. A falta de políticas públicas que garantam o direito à alimentação ocorre também nos níveis estaduais e municipais. No Rio Grande do Sul, por exemplo, povos tradicionais de matriz africana no Rio Grande do Sul lutam na Justiça por cestas básicas desde abril do ano passado. Mesmo com o direito garantido em segunda instância, as famílias seguem esperando pela entrega dos alimentos pelo governo Eduardo Leite (PSDB).
Em Porto Alegre, foi necessária a pressão de vereadores de oposição para que o prefeito Sebastião Melo (PMDB) aderisse à Portaria 618 do Ministério da Cidadania, que dispõe sobre a distribuição de cestas básicas para famílias em situação de insegurança alimentar e nutricional. Com isso, foi firmado o compromisso de requisição ao governo federal de alimentos para atender 52 mil famílias na Capital.
Enquanto a sociedade escuta as desculpas dos governantes em agir com a pressa que a fome exige, muitos se movimentam para suprir essa necessidade. São muitas as iniciativas, a exemplo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que por todo o país distribuem alimentos saudáveis de suas produções nas periferias das grandes cidades.
O responsável pelo setor de Comercialização da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap), Nelson Krupinski, destaca a importância da campanha de solidariedade para o movimento. “Para nós, famílias assentadas, a solidariedade é um valor fundamental. Com essas ações, estamos retribuindo à sociedade todo o apoio que o MST recebeu na luta pela reforma agrária e por uma alimentação sem veneno”, afirmou.
A Central Única dos Trabalhadores do RS (CUT-RS), com seu projeto CUT na Comunidade, criou uma rede de parceiros que distribui alimentos desde o início da pandemia para ajudar trabalhadores que perderam emprego e renda. Já foram distribuídas mais de 10 toneladas de alimentos, com apoio de entidades como Adufrgs Sindical, Sinpro-RS, SindBancários de Porto Alegre, Sindisaúde-RS, Sinttel-RS, Fetrafi-RS, Stimepa, Semapi-RS, Sindiserf-RS, Sindipetro-RS, Sindicato dos Bancários do Vale do Paranhana e Sindipolo. Nesta semana, firmou também um parceria com a Cooperativa de Crédito Rural com Integração Solidária de Tenente Portela (Cresol), que se comprometeu a doar 40 cestas básicas por semana.
“São quase 20 milhões de brasileiros e brasileiras que estão sem ter o que comer. É um número alarmante”, alerta Juliano Sá, presidente do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do Rio Grande do Sul (Consea-RS), referindo-se aos dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. Segundo ele, a superação dos impactos econômicos e sociais da pandemia só será possível com políticas públicas.
O Consea-RS entende que essas políticas públicas devem se dar com compras governamentais através de instrumentos como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e programas de assistência social. E que as compras devem ser feitas dos agricultores familiares e da reforma agrária, para oferecer comida saudável a quem precisa como forma de minimizar os impactos da pandemia.
“Infelizmente, não vemos o poder público executando ações nessa perspectiva e a situação só não está pior graças à solidariedade da sociedade civil”, afirma. Segundo ele, hoje são centenas de iniciativas no estado em que a própria sociedade faz a diferença e ameniza “a situação de desespero dessas famílias que estão em vulnerabilidade social”.
Comitê Gaúcho de Combate à Fome
O Comitê Gaúcho de Combate à Fome, uma iniciativa do Consea-RS junto da Ação Cidadania e da Cáritas RS, já arrecadou e doou mais de 470 toneladas de alimentos em municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre e algumas cidades do Interior. Foram beneficiadas 33.543 famílias, totalizando 134.172 pessoas. Uma nova remessa chegou nesta semana, elevando este número para 500 toneladas.
“Esses nossos números foram muito graças à solidariedade das pessoas que depositaram dinheiro para nossa campanha”, conta Juliano. “Também graças às doações dos movimentos sociais e, em especial o MST e o MPA, que estão sendo grandes parceiros e dando o exemplo daquilo que o Estado deveria estar fazendo.”
Para doações em dinheiro para a campanha do Comitê:
PIX com a chave CNPJ 33654419001007
Para entrega de doações de alimentos:
Contatar pelo WhatsApp (51) 98318 8241
Comitê na Lomba do Pinheiro
Na periferia de Porto Alegre, um grupo de moradores e lideranças comunitárias mobilizou, ainda em abril de 2020, o Comitê Gaúcho de Combate à Fome da Lomba do Pinheiro. Em 2020, a iniciativa chegou a ter em funcionamento nove cozinhas comunitárias.
“No início deste ano, como imaginávamos que a coisa ia apertar, pela continuidade da pandemia e de não ter sido resolvida a questão de vacinar a população, aumentou o número de pessoas desempregadas e o Comitê começou a ter uma demanda maior, mas com menos doações, porque aqueles que tinham anteriormente passam a não ter”, explica Isabel Adriana Klein, integrante do Comitê na Lomba.
Segundo ela, apesar da redução no número de cozinhas comunitárias, que agora ocorre todas as quartas-feiras, o trabalho de doações para moradores da região cadastrados segue funcionando e precisa do apoio e boa vontade de quem puder ajudar.
“Nesse momento que eu falo contigo, uma moradora ligou desesperada, não tem dinheiro, cortaram o Bolsa Família e ela simplesmente não tem de onde tirar. O que ela lembrou? Que existe o Comitê, e ela nem é uma das cadastradas, vai ser agora, mas lembrou do Comitê e o trabalho que realiza dentro da comunidade”, exemplifica.
"O Comitê vem nessa levada de continuar estruturando essas famílias, mas com essa diminuição de doações. E sempre buscando parcerias, além das que já existem, o MST, com a Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), o MAB, todas aquelas instituições de boa vontade que em algum momento se uniram com o Comitê”, afirma Isabel. Ela destaca que além de alimentos, o Comitê está precisando de roupas e de viandas para a distribuição das quentinhas.
Para doações em dinheiro para a campanha do Comitê da Lomba:
Conta na Caixa Econômica Federal em nome da Associação Loteamento Santa Paula
CNPJ 08.925.124/0001-90
Ag 0445
Conta 2086-3
Operação 003
Para doações de alimentos, roupas, viandas e outros produtos:
Contatar através dos números (51) 98554 3004 (Zailde) ou (51) 99817 5041 (Isnar).
Nós por Nós
A situação nas vilas e periferias quando vista de perto é dramática, reforça Ronaldo Souza, liderança comunitária da Vila Cruzeiro, zona Sul de Porto Alegre, e membro do coletivo Nós por Nós. “Passamos nas comunidades do entorno para construir uma relação com os moradores, mapear as necessidades das comunidades e doar as cestas básicas para as pessoas que estão na lista. Não é difícil perceber que o percentual de 50% de fome é geral, senão maior.”
O Nós por Nós participa da União de Vilas da Grande Cruzeiro, que distribui as cestas a partir dos seus diversos núcleos. Além de doações regulares de alimentos e insumos, o coletivo promove duas cozinhas comunitárias na semana, distribuindo cerca de 150 quentinhas por edição nas ruas do bairro. “A gente sai para entregar para os moradores de rua, para carrinheiros e papeleiros e famílias mais pauperizadas. Infelizmente está uma pandemia de gente vivendo nas ruas”, assinala Ronaldo.
“Aposto muito na ideia de cozinha comunitária como processo formativo muito valoroso”, afirma o líder comunitário, destacando o papel da ação como forma de juntar esforços para o fortalecimento do movimento comunitário. “Neste final de semana vamos fazer a cozinha no colégio Alberto Bins, que está abandonado. Vamos limpar a área e cozinhar”, explica.
Ronaldo conta que o projeto enfrentou dificuldades neste ano, mas recomeçou com força total há três semanas, agora em parceria com o movimento Periferia Viva. E destaca a importância de parceiros para manter a solidariedade funcionando. “São pessoas que se solidarizam e instituições como a CUT-RS que fazem doações regulares”, afirma.
Interessados em contribuir com a iniciativa podem fazer doações em dinheiro que serão revertidas em alimentos, ou doar alimentos e insumos para cozinha e cobertores e roupas, em face do inverno que está chegando.
Para doações em dinheiro para a campanha do coletivo Nós por Nós:
Chave PIX CPF 01067381007
Conta no Banco do Brasil em nome de Carolina Teixeira Lima
AG: 185-6
CC: 56513-X
Endereço para entrega de doações:
Bernardino Caetano Fraga, 242. Vila Cruzeiro - Procurar por dona Ana ou Leandro.
Centro de Referência Afro-indígena do RS
Outra iniciativa na Capital tem sua atuação solidária focada em grupos de mulheres indígenas artesãs, comunidades quilombolas e pessoas em vulnerabilidade social da região central da cidade. É o Centro de Referência Afro-indígena do RS, que atua com esses grupos, duramente afetados pela pandemia em seus modos de vida e sobrevivência. O Centro tem duas páginas (@indigenaafrodors e @redeindigenapoa) onde são divulgadas campanhas e ações realizadas.
“A gente atende as comunidades indígenas de Camaquã e Viamão e o quilombo Santa Luzia, no bairro Cascata, que faz parte do Centro de Referência, além de guardadores de carros, recicladores e pessoas em situação de rua”, explica Alice Martins, mulher indígena em contexto urbano e liderança do Centro de Referência. “A gente atende dentro das possibilidades de quem nos procura. São pessoas que a gente já vem apoiando desde o início da pandemia com cestas básicas”, complementa.
Segundo ela, o Centro de Referência precisa de uma série de itens para seguir ajudando essa famílias. São bem-vindas doações de cestas básicas, produtos de higiene pessoal e limpeza, máscara e álcool gel, fraldas nos tamanhos P, M e G, roupas infantis e adultas, calçados e cobertores.
Para doações em dinheiro para a campanha do Centro de Referência Afro-indígena do RS:
Chave PIX 00178715069
Endereço para entrega de doações:
Na sede do Centro de Referência (Travessa Comendador Batista, 26. Bairro Cidade Baixa, Porto Alegre,) de segunda a sexta-feira, das 13h às 17h.
UFRGS Contra a Fome
O Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, Indígenas e Africanos (NEAB) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) chama atenção para a situação das comunidades quilombolas, indígenas e de periferias. Essas populações têm sido especialmente afetadas pelas consequências da pandemia, com o aumento do desemprego e a redução do valor e do número de atendidos pelo auxílio emergencial. “Historicamente colocadas em situação de alta vulnerabilidade social, estão morrendo de fome ou de covid-19”, aponta o NEAB.
Por isso, o NEAB está com a campanha “UFRGS Contra a Fome”, que busca arrecadar alimentos e doações em dinheiro a serem revertidas em cestas básicas para quilombos, comunidades indígenas e periféricas. A fim de recolher donativos, neste sábado (24), vai ser realizado um drive-thru solidário na Faculdade de Educação da UFRGS, no Centro de Porto Alegre.
A campanha conta com apoio da Assufrgs Sindicato, e demais entidades representativas da comunidade acadêmica: Seção Sindical ANDES / UFRGS, DCE UFRGS, APG - UFRGS e Adufrgs-Sindical. Além do apoio da FACED – Faculdade de Educação da UFRGS, do Sindisaúde - RS e do Sindicato dos Agentes da Polícia Civil do RS (Ugeirm Sindicato).
Para doações em dinheiro para a campanha “UFRGS Contra a Fome"
Chave PIX CNPJ 02475386000113
Doações de alimentos no drive-thru solidário:
Data: 24/04/2021
Horário: das 9h às 13h
Local: Faculdade de Educação (entrada pela Rua Sarmento Leite, 426)
Cozinhas Solidárias do MTST RS
O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto no RS (MTST-RS) tem um projeto de cozinhas solidárias que viabiliza o preparo de refeições completas e balanceadas para comunidades da periferia em dez estados e no Distrito Federal. Porto Alegre é uma das cidades que conta com a ação de solidariedade que procura suprir a falta de apoio dos governos.
Como forma de manter o projeto em funcionamento, o MTST convida quem tiver possibilidade de se somar em solidariedade para fazer parte de uma rede de abastecimento. Para participar do grupo no WhatsApp dos apoiadores, basta preencher o formulário de inscrição disponível no link http://bit.ly/formularioabastecimento .
Campanha do MAB em Erechim
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) vem desenvolvendo ações conjuntas de solidariedade em diversos pontos do estado, como o apoio nas ações do Comitê de Combate à Fome do bairro Lomba do Pinheiro. No Alto Uruguai, em Erechim, desde o início da pandemia, ações de solidariedade estão sendo promovidas por um conjunto de entidades, articuladas regionalmente em torno do Movimento em Defesa da Democracia, Educação Pública e Direitos Sociais.
Para seguir ajudando a quem mais precisa, o MAB faz um convite à solidariedade com esta campanha de arrecadação financeira, para a compra de cestas básicas. Os alimentos que farão parte das cestas serão oriundos, principalmente, da agricultura familiar regional, ressalta o Movimento.
“Toda ajuda é bem-vinda, para construirmos a solidariedade do povo para o povo, neste momento crítico em que vivemos no Brasil, com aprofundamento da pandemia e da fome nos lares dos brasileiros/as”, ressalta a campanha do MAB. Colaborando com R$ 100,00, você doa uma cesta básica de 16 itens; com R$ 35,00, doa 5 kg de arroz/feijão; com R$ 25,00, doa 5kg de farinha; e com R$ 20,00, doa 5kg de açúcar, 1kg de café ou 3l de óleo.
Para doações em dinheiro:
Chave PIX CNPJ 03015049000106
Depósito em nome da Associação de Proteção à Vida (APROVI)
CNPJ: 03.015.049/0001-06
Banco Cresol (133)
Ag 5008-3
Conta Corrente 13004-4
Campanha da ASUFPel em Pelotas
Em outra grande cidade gaúcha, Pelotas, a Associação dos Servidores da Universidade Federal de Pelotas (Asufpel) está com a campanha "Menos 1 com fome". A entidade convida quem possa se somar para adotar um kit de alimento no valor de R$ 35,00 para ajudar a quem tem fome.
“Em tempos de uma pandemia que já matou mais de 360 mil pessoas e, frente ao descaso dos governantes, precisamos de unidade para ajudar os que mais sofrem”, destaca o sindicato. Os alimentos serão distribuídos para as entidades sociais que tratam diretamente com os mais necessitados da cidade de Pelotas.
Para doações em dinheiro:
Chave PIX 89.878.284/0001-27
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Edição: Katia Marko