“Nosso carrasco vai falar”, anuncia um dos organizadores da manifestação ao microfone. Ele passa então a palavra para um vulto com capuz e indumentária assemelhada à da Ku Klux Klan, organização racista, antissemita, anticatólica e anticomunista fundada no século 19 no Sul dos Estados Unidos. Perto, um boneco pende enforcado de uma árvore.
Estamos em um ato de bolsonaristas no dia 21 de abril, no Parcão, bairro Moinhos de Vento, região de classe média alta de Porto Alegre. Dali partiram todas as passeatas da direita local desde 2013, primeiramente contra o governo de Dilma Rousseff, depois pelo seu impeachment e atualmente em defesa do mandato de Jair Bolsonaro, da “intervenção militar” e contra ministros do Supremo Tribunal Federal.
“Acabar com o comunismo”
“O que nós viemos fazer aqui hoje, gente?”, pergunta o vulto encapuzado ao seu grupo de apoiadores, vestidos de verde-amarelo. E ele mesmo responde: “Viemos acabar com o comunismo!” Como a resposta foi menos audível do que pretendia, o homem insiste: “Não ouvi. Mais alto!” Satisfeito, retorna: “Viemos acabar com o comunismo! Hoje é o fim do comunismo!” É o que é possível ouvir no trecho do vídeo que circula nas redes sociais.
Bancada negra vai à polícia
Nesta sexta-feira (23), a bancada negra da Câmara de Vereadores da capital gaúcha, o Movimento Negro Unificado, o coletivo Vidas Negras Importam-RS e outras entidades prestarão queixa na Delegacia de Combate à Intolerância, pedindo a identificação e providências contra os organizadores do ato.
“O vídeo é revoltante não só pela apologia ao racismo, mas por vermos que a pessoa que estava com a roupa caracterizada pela Ku Klux Klan recebia o respaldo político e ideológico dos demais presentes”, ressalta o sociólogo Gilvandro Antunes, do coletivo Vidas Negras Importam/RS. “Além do mais - agrega - a KKK é conhecida por seu terrorismo racial com prática de linchamentos, torturas e assassinatos”.
A vereadora Reginete Bispo, do PT, adverte que “racismo é crime inafiançável”. Para ela, o ato é “gravíssimo”, citando a KKK como “macabra organização supremacista”. Ela promete tomar “todas as medidas cabíveis” para que “esses criminosos sejam condenados”. O Ministério Público/RS também acompanha o caso.
“Ele soa como nós”
Não é a primeira vez que a organização supremacista e o bolsonarismo mostram certa identidade. Na campanha eleitoral de 2018, o historiador norte-americano David Duke, tido como porta-voz oficioso da Ku Klux Klan, manifestou sua simpatia pela candidatura de Bolsonaro, dizendo que “ele soa como nós”.
A fala aconteceu no programa de rádio que Duke comanda e foi reproduzida pelo site da BBC. O então candidato do PSL, porém, rejeitou o apoio, argumentando curiosamente que Duke deveria apoiar “a esquerda” que “segrega”.
“Descendente europeu”
“Ele (Bolsonaro) é totalmente um descendente europeu”, elogiou o ex-líder da KKK, conhecido também por respaldar o ex-presidente Donald Trump. “Ele se parece com qualquer homem branco nos EUA, em Portugal, Espanha ou Alemanha e França. E ele está falando sobre o desastre demográfico que existe no Brasil e a enorme criminalidade que existe ali, como por exemplo nos bairros negros do Rio de Janeiro", acrescentou. Duke, reparou a BBC, frequentemente classifica o prêmio Nobel da Paz sul-africano Nelson Mandela como "terrorista”.
Homem vestido de Ku Klux Klan hoje em Porto Alegre falando que "vai acabar com o comunismo" e um boneco enforcado atrás. Esses são os homens de bem do bolsonarismo. Essa corja racista nojenta tem que acabar!!!!! pic.twitter.com/Jd6gV4jKwL
— O correr da vida quer coragem (@OOorrer) April 21, 2021
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Edição: Katia Marko