Mística e política unidas, esperançar freireano, construir uma Nova Primavera, eis o desafio
Os tempos estão muito difíceis, todas e todos concordamos. Mas, felizmente, há sinais de luz no horizonte.
A Campanha da Fraternidade Ecumênica/2021 foi um exemplo de unidade de igrejas cristãs no diálogo e fraternidade proféticos e no compromisso com o amor. A Sexta Semana Social Brasileira, promovida pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), com o tema TERRA, TRABALHO E TETO, UM MUTIRÃO PELA VIDA, está abrindo espaços de reflexão e organização, além das fronteiras da Igreja católica, com movimentos sociais e populares. A ANEPS, Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde, lançou no dia 7 de abril, Dia Mundial da Saúde, uma campanha nacional: ‘ANEPS, A NOSSA BANDEIRA É O SUS’.
Está crescendo a unidade entre Frentes Populares, Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo, os partidos democráticos e populares, o movimento sindical e os movimentos sociais, parcelas importantes de diferentes igrejas e religiões, organizações da sociedade civil. Todas e todos unidos por ‘Vacina para todas e todos já! Auxílio emergencial já! Fora Bolsonaro já!’, na luta por políticas públicas e contra um governo necrófilo e genocida.
São exemplos de energia militante e sonhadora em tempos de fome, miséria, desemprego, e de uma pandemia que está levando a mais de 4 mil mortes por dia no Brasil.
O Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, PT, através de sua Secretaria Nacional de Formação, Escola Nacional de Formação e Fundação Perseu Abramo, está lançando a proposta Nova Primavera, num processo de construção da Conferência Nacional de Formação Paulo Freire, e falando da “necessidade de um processo de reorganização da base partidária, combinado com uma ação conjunta de educação política dos seus filiados e filiadas”.
A palavra de ordem é “CUIDAR DOS FILIADOS E FILIADAS, CUIDAR DA NOSSA BASE SOCIAL”. O cuidar tem o ‘sentido de cultivar, preparar, acompanhar, acolher e ouvir, oferecer alternativas de crescimento pessoal, coletivo e de ação militante e solidária, de ação política e luta”.
A proposta é FREIREAR O PT, no ano do centenário de nascimento do educador popular Paulo Freire, com a criação de NÚCLEOS DE VIVÊNCIA, ESTUDO E LUTAS. O trabalho pedagógico dos Núcleos será ligado a algum tipo de prática e solidariedade, tornando seus participantes “capazes de refletir sobre estas práticas, aprofundar os conhecimentos necessários para fazer avançar esta prática em grau crescente de comprometimento e significado político. Serão Núcleos de vivência, de confraternização e preocupação com o conjunto da pessoa, com espaço para vivenciar os aspectos culturais da vida, com desenvolvimento de capacidade militante e prática de convivência real e solidária com a população das periferias. É preciso que a população veja os nossos militantes como agentes da solidariedade, de mudança de suas vidas, geradores de esperança”.
A concepção e a proposta estão fundamentadas nas teses e prática de Paulo Freire e dos mestres da educação popular. “Estes Núcleos poderão ser organizados por local de moradia, local de trabalho ou por opção de engajamento militante.”
Vendo a proposta em 2021, lembro do Núcleo do PT da Lomba do Pinheiro nos anos 1980, e de tantos outros Núcleos da época, nas comunidades, o dos bancários, metalúrgicos, professores, e assim por diante. Vivência: Reunir os militantes, em geral na casa de alguém (no caso da Lomba, na casa do companheiro Cantilho), conversar sobre a vida, sobre os problemas da comunidade, trocar experiências. Estudo: conhecer e debater os documentos partidários, ler e estudar, entre outros, Paulo Freire, Frei Betto, Leonardo Boff, Marx. Lutas: organizar as Greves Gerais, as mobilizações das Associações de Bairros e da União de Vilas da Lomba do Pinheiro.
Mais movimento, menos instituição, são o sinal e a palavra de ordem. Estar, ou voltar a estar, na base popular, lutando por democracia e soberania, é decisivo neste momento histórico e conjuntura. Assim, enfrentou-se a ditadura militar de 1964, conquistaram-se as Diretas, realizou-se uma Constituinte que produziu a Constituição Cidadã. São educadoras e educadores militantes, que, em 2021, ainda sonham com um ‘outro mundo possível’, têm cuidado com a Casa Comum e, na conscientização e organização popular, constroem a utopia e o Bem Viver.
Mística e política unidas, esperançar freireano, construir uma Nova Primavera, eis o desafio dos Núcleos de Vivência, Estudo e Lutas.
Cabe recuperar uma palavra simbólica e profética de Paulo Freire: “Eu morreria feliz se visse o Brasil, e seu tempo histórico, cheio de Marchas. Marchas dos que não têm escola. Marcha dos reprovados. Marcha dos que querem amar e não podem. Marchas dos que se recusam a uma obediência servil. Marcha dos que se rebelam. Marcha dos que querem ser e estão proibidos de ser. Estas Marchas históricas revelam o ímpeto da vontade amorosa de mudar o mundo.”
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko