No Rio Grande do Sul, a primeira vítima fatal da covid-19 entre profissionais de saúde foi a técnica de enfermagem do Grupo Hospital Conceição (GHC), Mara Rúbia Silva Caceres, 44 anos, no dia 7 de abril de 2020. Coincidência ou não, dia 7 de abril é o Dia Mundial da Saúde, e, um ano após esta primeira morte, o Brasil de Fato RS publica a última parte de uma série de entrevistas exclusivas, produzidas pela jornalista Fabiana Reinholz.
Para registrar esses 12 meses de pandemia no RS, a repórter procurou profissionais da área da saúde que estão trabalhando na linha de frente do combate à covid-19. Fabiana lembra que, "um ano após o primeiro caso confirmado de covid-19, o RS vive seu momento mais crítico, com um número elevado de contaminação e de óbitos, a superlotação dos leitos de UTI dos hospitais, uma parcela da população que segue ignorando a gravidade do momento e um presidente que emprega uma política de morte".
Para fazer o registro histórico desse primeiro ano de pandemia, bem como prestar uma homenagem para essas profissionais, São apresentadas entrevistas com uma médica intensivista, uma técnica de enfermagem, enfermeiras, uma profissional de higienização, médicas socorristas da SAMU, psicólogas, uma fisioterapeuta, e fechando a série, no Dia Mundial da Saúde, uma entrevista com a presidenta do Conselho Regional de Enfermagem.
Confira:
Thais Butteli - médica intensivista
Abrindo a série, foi entrevistada a médica intensivista Thais Butteli, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Ela afirma que toda a equipe está sentindo o impacto da gravidade do momento, com os hospitais trabalhando acima da sua capacidade.
“A gente tem deixado tantas mensagens que eu tenho dificuldade em saber o que realmente chega na população. Eu gostaria que eles entendessem que a gente está aqui tentando dar o nosso melhor e estamos trabalhando além da capacidade física e mental de cada um de nós, para tentar salvar o maior número de pessoas possíveis, porque agora a gente não consegue falar em salvar todos e nem quase todos, é o maior número de pessoas possíveis".
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Josiane e Claudete - Técnicas de enfermagem
A segunda entrevista foi com profissionais técnicas de enfermagem. A reportagem conversou com Josiane Beatriz Carvalho, que atua no Hospital Mãe de Deus, e Claudete Rodrigues Miranda, que trabalha há mais de 20 anos do Grupo Hospitalar Conceição e também é vice-presidente do Sindisaúde-RS.
Elas relatam que acreditam em cenários melhores, mas que agora "o cenário é devastador”. Também relatam o desgaste físico, mental e emocional.
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Angela, Beatriz e Martina - Enfermeiras
A reportagem também conversou com enfermeiras que trabalham atendendo pacientes infectados pela covid-19. Foram entrevistadas Angela Enderle Candaten, do serviço de enfermagem em Terapia Intensiva do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), e Beatriz Antunes, que trabalha em um posto de saúde da zona Sul de Porto Alegre, Unidade de Saúde Guarujá, onde é enfermeira há quatro anos. Também Martina Zucchetti, que na época da entrevista estava trabalhando na UTI do Hospital Moinhos de Vento.
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Cinara de Oliveira Mariano - profissional de higienização
Cinara de Oliveira Mariano é uma profissional que realiza um trabalho muitas vezes invisível, e ainda mais essencial nos dias atuais. Há oito anos ela trabalha no setor de higienização do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), e desde um ano está trabalhando na CTI e emergência covid.
"Ter que lidar diariamente com a perda de muitos pacientes e colegas é extremamente triste e desgastante emocionalmente. Porque vemos de perto todo o sofrimento dos pacientes e seus familiares, que assim como nós, profissionais, se sentem impotentes, por não poder fazer nada", desabafou.
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Fabiane Tiskievicz e Mariana Angelica - médicas socorristas da SAMU
Sendo parte fundamental da engrenagem na saúde no país, a saturação vivida em hospitais, postos de saúde e unidades básicas de saúde, também acabou refletindo no SAMU. Em Porto Alegre, as chamadas para o 192 triplicaram. Conforme relata a Dra Fabiane Tiskievicz, o ritmo de trabalho tem sido muito intenso.
“Houve um aumento expressivo do número de ligações pedindo apoio nas unidades básicas de saúde para pacientes com sintomas respiratórios, assim como no número de pedidos de transporte de pacientes dos pronto atendimentos para os hospitais. Notamos também o aumento da gravidade dos sintomas nas chamadas”, pontua.
Tal pressão também é sentida pela médica socorrista Mariana Angelica Berardi Cioffi. “Trabalhar no SAMU sempre foi uma caixinha de surpresas. Porque o solicitante nem sempre sabe expressar a gravidade da situação. Também tem pessoas que mentem só para ter o atendimento. Isso sempre existiu. Mas agora, o número de chamados dobrou”, aponta.
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Karla Nyland e Elis de Pellegrin - psicólogas
Quando da realização dessas entrevistas, o RS era o quarto estado brasileiro com maior número de vítimas fatais por conta da covid-19. Após um ano do primeiro registro, ocorrido no dia 24 de março de 2020, mais de 17 mil vidas já tinham sido interrompidas.
“Não há lugar na mente para tanta dor, não há palavra que consiga dar conta de significar, de dar algum sentido imediato”, ressalta a psicanalista vincular, Karla Nyland.
Junto dela, foi entrevistada a psicóloga do CTI do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Elis de Pellegrin Rossi, que também falou sobre o papel da dor. “Ser afetado por ela também nos torna humanos. O relevante é termos espaço para lidar com estes sentimentos (dentro e fora do hospital) e transformá-los em ferramentas do nosso trabalho para que eles não nos paralisem”, comentou.
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Vera Lúcia e Fernanda Mariano - fisioterapeutas
A infecção pela covid-19 tem debilitado não somente o sistema respiratório dos pacientes, mas o corpo como um todo. As internações debilitam fisicamente os infectados, fazendo o trabalho pós internação ser essencial.
“O agravamento da doença é o terror da equipe médica, a sensação de impotência e, muitas vezes, o luto. O profissional tem que juntar todas as suas reservas de energia para reabilitar um paciente, reservas físicas e emocionais para suportar a demanda. Mas precisa ainda mais do que isso: precisa também motivá-lo”, afirma fisioterapeuta Vera Lúcia Martins Moraes.
A reportagem também conversou com a fisioterapeuta Fernanda Mariano Leites. “A situação atual que estamos vivendo não se compara a nada do que vivemos no último ano. É caótico. É pesado. É frustrante. Não existem profissionais qualificados que tenham disponibilidade e nem ânimo. Estamos cansados. E a desenfreada 'abertura de leitos' apenas mascara o colapso na saúde, pública e privada”, afirmou Fernanda Mariano Leites.
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Rosangela Gomes - presidenta do Coren/RS
Finalizando a série, foi publicado no Dia Mundial da Saúde a entrevista com a presidenta do Conselho Regional de Psicologia, a enfermeira Rosangela Gomes Schneider.
Enfermeira há 32 anos e ferrenha defensora do Sistema Único de Saúde, Rosangela afirma que o momento é crítico, principalmente em relação ao desmonte do Sistema Único de Saúde (SUS).
“O SUS é uma conquista e um patrimônio do povo brasileiro. Esse tema é caro para mim, pois participei desde o início, fazendo parte, enquanto acadêmica de Enfermagem, da Constituinte que assegurou a saúde como um direito de todas e todos no Brasil”, destaca.
:: Confira a entrevista completa ::
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Edição: Marcelo Ferreira