Uma conversa de umas 20 pessoas em tempos pandêmicos. Cada qual em sua moradia, em pontos diferentes do país. Já avós. Militantes políticos de vida inteira, dos sonhos nascidos nos anos 1960 e que não esquecemos ao despertar nas manhãs de 2020-21. Sílvio Tendler tinha um pré-roteiro: a partir de um fragmento do discurso de Darcy Ribeiro no enterro de Glauber Rocha, construirmos um Manifesto da repulsa ao continuado golpe de Estado de 1964 e suas prisões, mortes, desaparecimentos, torturas, estupros, cassações de direitos, cerceamento da Liberdade.
No velório do cineasta Glauber Rocha, seu amigo Darcy Ribeiro, “o gênio da raça”, lembrou de uma madrugada de dor e choro pelo golpe de Estado que interrompera o sonho dos anos 50-60 “pela pureza da vida democrática, pela emancipação econômica, pela justiça social e pelo progresso do Brasil”, como expressou o presidente João Goulart, às vésperas de ser derrubado e banido. Glauber chorou a madrugada inteira pelo “Brasil que poderia ter sido”. Darcy terminou seu discurso fúnebre com o compromisso, que tem sido de todas nossas gerações: “o Brasil que poderia ter sido, Glauber, o Brasil será. Há de ser”.
Justamente nos dias de nossas conversas à distância, o Brasil voltou a bater recordes mundiais de contaminação por covid-19, sem ações coordenadas de Saúde, sem ministro, com governo negacionista, inimigo do povo.
O Manifesto que produzimos, de repúdio ao golpe de 1º de abril de 1964 e de sua tentativa de reedição, reafirma o compromisso com o projeto de construção do país democrático. Nesta presente tragédia, expresso pelo chamado à luta por vacinas e renda digna.
Manifesto é lançado neste 1º de abril de 2021
O Brasil que poderia ser e será
Abaixo a morte. Viva a vida!
Jair Messias Bolsonaro, o genocida, defende o que de pior aconteceu durante a ditadura que teve início em 1964 e durou 21 anos: sequestros, prisões, tortura, estupros, assassinatos. Sabotou as vacinas, não quis comprá-las, incentivou a população a não usar máscaras e a contaminar-se. Este genocida é o maior responsável por mais de 320 mil mortes, mais de 12 milhões de contaminados, unidades de saúde e UTIs abarrotadas, pessoas morrendo nas filas dos hospitais, profissionais de saúde esgotados, caos no sistema.
Hoje, 31 de março, 57 anos após o golpe de 64, o genocida orquestrou mais uma de suas provocações: convocou para comemoração nos quartéis. Generais apijamados, por falta do que fazer, fizeram coro. Na Ordem do Dia, o ministro da Defesa recém-empossado, celebrou o golpe que impediu as reformas agrária, urbana, tributária e política que modernizariam o Brasil.
O projeto necrófilo do capitão é incendiar o país pelas mãos de seus milicianos, militares insubordinados e paramilitares armados para o caos, associado ao saque das riquezas nacionais e à concentração do resultado do trabalho de todos nas mãos de poucos, bem como o desmantelamento do Estado a serviço do “deus mercado”.
Contra esse projeto de morte, VACINA e RENDA DIGNA para todos.
VIDA ACIMA DE TUDO!
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* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko