Rio Grande do Sul

COVID-19

Com delegacias lotadas no Rio Grande do Sul, policiais alertam para risco de surtos

Quase cinco mil policiais gaúchos, entre civis e militares, já foram contaminados desde o início da pandemia

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Celas superlotadas e presos em viaturas, assim está a situação carcerária do RS durante a pandemia - Reprodução: Ugeirm Sindicato

O inspetor Bruno Mainardi, de Uruguaiana, morreu na última terça-feira (30) depois de uma luta de semanas contra a covid-19. Tinha somente 36 anos, oito na Polícia Civil do Rio Grande do Sul. Foi a oitava vítima fatal na categoria que já registrava, até o dia 25 de março, o afastamento de 1,2 mil policiais em decorrência da contaminação pelo coronavírus. Em campanha pela vacinação maciça, os policiais também avisam que que a manutenção ilegal de presos nas delegacias pode ser uma bomba-relógio para um surto.

“Em um contexto de pandemia, é risco elevadíssimo de contágio”, adverte Fábio Castro, vice-presidente da União dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia do RS (UGEIRM-Sindicato). Aguardando encaminhamento para os presídios, os presos são amontoados em cubículos, com pouca ventilação, más condições gerais de higiene, sem distanciamento, sem máscaras e sem testagem. “Hoje (30), existem 107 presos nas delegacias nessas condições”, informa.

“Risco de rebelião”

Como se não bastasse, quando não há lugar nas celas, os presos são algemados nas viaturas estacionadas no pátio das delegacias. “Há o risco de rebelião pois as condições são as piores possíveis”, enfatiza.

Se as primeiras vítimas da covid-19 serão os presos indevidamente detidos nas delegacias, os policiais, pela proximidade, poderão também ser infectados, levando a doença para suas famílias e o restante da sociedade.

“A retirada dos presos é uma luta que travamos há anos”, registra Castro. A UGEIRM reclama da inação do governo estadual, Legislativo, Judiciário e Ministério Público diante do fato, que já qualificou de “desesperador”.

Com os hospitais lotados, a entidade também reivindica, entre outras questões, o afastamento imediato dos policiais pertencentes a grupos de risco, restrição de circulação nas delegacias e suspensão temporária das operações policiais no momento em que o Rio Grande do Sul aparece sob a bandeira preta, sinalizando o agravamento do quadro sanitário.

Após pedido do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (CONASS), a Câmara Técnica do Ministério da Saúde publicou nota, hoje (31), acrescentando parte das forças de segurança que cumprem funções mais específicas – como ações de fiscalização do distanciamento social – na relação dos grupos prioritários para imunização.

Mais de três mil casos na Brigada

Na Brigada Militar (BM), o panorama também é inquietante, com nove policiais mortos e 3,3 mil casos contabilizados desde o começo da pandemia. Nesta quarta-feira (31), na contagem na Secretaria Estadual de Saúde do RS, o Hospital da BM, em Porto Alegre, tinha 14 pacientes com covid-19 na sua Unidade de Tratamento Intensivo, 70% deles utilizando respirador. Outros 29 com testagem positiva estavam fora da UTI.

O subcomandante geral da BM, Coronel Rodrigo Mohr, nota que, no dia 29 de março, havia 185 casos de contaminação em andamento. Dos positivados, 172 eram praças e 13 oficiais. Estavam hospitalizados 22 soldados e um oficial. Das nove vítimas fatais, três pertenciam à reserva da corporação e haviam voltado ao trabalho através do Programa Mais Efetivo (PME), usado para reforçar o policiamento.


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Edição: Marcelo Ferreira