Com o avanço da pandemia e aumento da vulnerabilidade social da população negra e periférica, a Rede Ubuntu de Cooperação Solidária iniciou uma campanha de arrecadação de alimentos para as famílias que integram a iniciativa. Em dois formatos, a campanha traz um leilão contra a fome e a doação das clientes que recebem entregas dos produtos adquiridos com os empreendedores da rede.
O Leilão contra a Fome ocorre neste sábado, entre 9h e 21h. Já são mais de 60 produtos doados pelos empreendimentos e os lances dos compradores, a serem dados para o empreendimento via WhatsApp, serão feitos em alimentos. A divulgação dos vencedores dos produtos será feita na próxima semana. Já na campanha de doação, quem adquirir produtos dos empreendedores da Rede Ubuntu, ao receber pode doar 1 kg ou mais de alimento não perecível para a empresa entregadora, a Tá Na Mão, que é parceira da iniciativa.
A Rede Ubuntu reúne mais de 140 empreendimentos de povos tradicionais de matriz africana, quilombolas, indígenas, camponeses e grupos da economia solidária da Região Metropolitana de Porto Alegre. Foi constituída em 2018, a partir de um projeto do Centro de Assessoria Multiprofissional (Camp), em parceria com o Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana (Fonsanpotma), conquistado em edital do governo federal.
Itanajara Almeida, da coordenação do Fonsanpotma, destaca que os integrantes da Rede Ubuntu sobrevivem por conta da renda de seu empreendedorismo, que com o agravamento da pandemia passam por grande necessidade. “É uma ajuda muito específica, que é ajuda alimentar. Até porque são muitas mulheres, muitas que são mães de família, mães solo, e que precisam realmente poder produzir para alimentar sua família”, relata.
Com o agravamento da pandemia no mês de março no Rio Grande do Sul, que sofre com o colapso hospitalar e alta taxa de contaminação e mortes por conta da covid-19, a Rede Ubuntu acabou suspendendo a entrega dos produtos, afirma Daniela Tolfo, secretária-executiva do Camp. A Rede tem comercializado itens como artesanato, produtos afros, serviços, brechós, alimentação e produtos orgânicos, com entrega gratuita para Porto Alegre e Região Metropolitana.
Depois de três semanas sem entregas, os empreendimentos e o Fonsanpotma propuseram a campanha, em benefício das famílias da Rede que estão em situação mais vulnerável. “Diante do auxílio emergencial ridículo que foi aprovado, que não dá conta nem de uma cesta básica, e a situação que as famílias já vêm enfrentando, de desemprego com a pandemia, a crise econômica e a ausência total de políticas sociais tanto em nível federal, quanto estadual e municipal, a gente retomou as entregas dos produtos e também abrimos essa campanha”, conta.
Segundo ressalta Itanajara, os empreendedores estão passando por essa dificuldade e o leilão e a campanha de doações são uma forma solidária de enfrentar o problema. “Servem para que as pessoas possam estar ali ao mesmo tempo comprando, adquirindo as mercadorias e os artesanatos e serviços desses empreendimentos. Essa é a forma solidária da gente se colocar dentro desse coletivo e saber que a gente consegue conviver e nos enxergar dentro disso. É o circo que a tradição de matriz africana tanto faz com seu povo.”
“A ideia é sensibilizar as pessoas para essa situação de forte crise e de vulnerabilidade alimentar de muitas famílias de Porto Alegre e Região Metropolitana”, afirma Daniela. “Ao mesmo tempo conseguir arrecadar alguns alimentos, a gente sabe que provavelmente não vai dar conta de toda a necessidade, mas pelo menos a gente consegue criar sensibilização para tudo isso que o pessoal tá passando”, complementa.
Como participar
Para participar do Leilão Contra a Fome ou adquirir produtos da Rede Ubuntu e fazer uma doação na entrega da mercadoria, e assim contribuir na luta antirracista e na geração de renda para os grupos mais atingidos pela crise resultante da pandemia no novo coronavírus, basta acessar o grupo no Facebook e conferir as publicações. Lá estão os contatos dos empreendedores, onde os lances podem ser feitos e as compras podem ser acertadas. Acesse aqui o grupo.
Além de fomentar feiras e organizar o comércio online, a Rede Ubuntu desenvolve processos formativos fundamentados na educação popular e de articulação com outros atores da economia solidária. Com foco no consumo antirracista, visa o fortalecimento das cadeias produtivas, a geração de trabalho e renda, a constituição de arranjos econômicos territoriais de produção, comercialização e consumo solidário.
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Edição: Katia Marko