Rio Grande do Sul

Especial Mulheres

“Sou uma mãe preta lutando para que meus filhos não virem estatística”

Afirmação é da idealizadora do Coletivo Mães da Periferia, Letícia Nascimento, projeto que dá suporte a mulheres

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"O coletivo é a solução de política pública que a gente não tem" - Arquivo Pessoal

As mulheres são as mais atingidas pela pandemia. Impactos que se refletem na questão financeira, na violência e também psicologicamente. Cerca de 75% do trabalho de cuidado não remunerado é realizado pelas mulheres. Diariamente são mais de 12 bilhões de horas gastas por mulheres e meninas em todo o mundo. No Brasil, as mulheres dedicam o dobro do tempo ao trabalho doméstico e de cuidado. Além disso elas representam 80% dos trabalhadores informais do país.

A situação se agrava mais quando atinge as mulheres nas periferias. Muitos desses territórios são esquecidos pelo poder público. Para ajudar as mulheres dessas comunidades a terem uma vida digna surgiu em março do ano passado o Coletivo Mães da Periferia.

“O coletivo surge como uma solução imediata em prol da nossa vida. A solução que nos fez sobreviver esse um ano de pandemia, que nos fez ter acesso à alimentação, à saúde, à educação, nesse um ano onde o poder público nada fez até então, e a vacina nos sendo negada. O coletivo é a solução de política pública que a gente não tem”, afirma Letícia Nascimento. Natural de Porto Alegre, ela é mãe do Italo e da Morgana e idealizadora do Coletivo, que reúne inúmeras mães solo. Fundado na Ocupação Jardim Continental, o movimento atua em diversas outras ocupações e comunidades necessitadas.

Finalizando o curso de delegada popular, cursando o último semestre do curso de técnico em enfermagem no Instituto de Cardiologia, Letícia é também técnica em Transações Imobiliárias pela Ibrep, e está cursando o primeiro semestre de Odontologia na Cesuca Centro Universitário. 

Autônoma, descreve-se como uma mãe preta lutando para que seus filhos não virem estatística no futuro. “Lutando para que eles tenham qualidade de vida, para que as nossas crianças de um modo geral tenham qualidade de vida, tenham acesso à educação e cultura.  Que possam se formar pessoas com caráter, pessoas que saibam seus direitos, que lutem pelos seus espaços de fala, de representatividade. Cuido da minha mãe e do meu pai, dois idosos com inúmeras comorbidades. Vivendo em território periférico é toda uma luta”, afirma. 

Em entrevista ao Brasil de Fato, no Especial das Mulheres, ela fala sobre o coletivo, a realidade enfrentada pelas mulheres periféricas e sobre a importância da união. “A unificação das mulheres é o único meio de sobrevivência, de vitória, de conquistar espaços através da luta. A coletividade sempre foi necessária, porém até isso nos tiraram. Nos tiraram essa união a partir do momento em que a sociedade impõe uma mulher contra a outra e faz uma rivalidade, e monta uma estratégia de nos distanciar”, destaca. 


"Os problemas em territórios periféricos, entre outros são: a falta de saneamento, luz, falta de retirada de lixo (...) fazem pouco caso e a doença está ali e eles não querem saber" / Arquivo Pessoal

Abaixo a entrevista completa

Brasil de Fato RS - Como surgiu o Coletivo Mães da Periferia? Qual sua finalidade?

Letícia Nascimento - O coletivo surgiu em janeiro de 2020, a partir de um trabalho que eu apresentei no Instituto de Cardiologia sobre Saúde Coletiva, onde pontuei as necessidades do lugar e as mudanças que deveriam ser realizadas para qualidade mínima de vida. A partir disso uma professora que é enfermeira, a Juliana, me colocou em contato com um rapaz que fez uma doação de 32 cestas para distribuir na nossa comunidade. 

Chamei amigas e vizinhas da ocupação do Jardim Continental, realizamos de porta em porta o cadastro para entender o contexto de cada família, a quantidade de pessoas e também para ter uma prioridade. A partir disso colocamos como prioridade nas nossas atividades mulheres solos, mulheres com deficiência e mães com maior quantidade de filhos que são para nós os casos mais vulneráveis dentro do nosso território.

A finalidade do coletivo é ter uma vida digna, acesso mínimo aos direitos,  conseguir sobreviver sem subviver. Dentro dos territórios periféricos a gente  se reinventa todos os dias, tentando se articular, resolvendo as demandas que o poder público não consegue ou não quer, talvez, resolver. Fazendo a nossa política, a política de quem precisa melhorar a situação da água, da retirada de lixo, da educação, da saúde, fazendo a política diária. Porque quem faz política partidária, na maioria das vezes, não faz política para o povo periférico. 

O coletivo surge como uma solução imediata em prol da nossa vida. A solução que nos fez sobreviver esse um ano de pandemia, que nos fez ter acesso à alimentação, saúde, educação nesse um ano onde o poder público nada fez até então, e a vacina nos sendo negada. O coletivo é a solução de política pública que a gente não tem. 

BdFRS - Quais são os principais problemas hoje enfrentados pelas mães da periferia?

Letícia - Os problemas enfrentados por nós, enquanto Coletivo é a falta de apoio, porque nós fazemos o trabalho que o poder público não faz, fazemos um trabalho assistencial em muitas comunidades. Um trabalho de fundamento, necessário, que evitou que milhares de famílias morressem de fome,  morressem sem proteção de máscara, ou morressem com a contaminação de covid. Nosso trabalho não é só distribuir alimentos, mas também distribuição de máscaras, produtos de higiene. Assim como a conscientização das pessoas para que elas não se contaminem. Vamos muito além do que o trabalho público deveria fazer. 

As políticas deveriam acontecer dentro desses territórios, e não acontecem, não temos acesso à água, saneamento, luz, educação, saúde. Até nosso posto aqui da Laranjeiras foi tirado, não temos acesso a quase nada. Há ainda problemas com a falta de retirada de lixo, em que é uma briga, tem que protocolar toda a semana na prefeitura para que seja feita.  A  doença está ali e eles não querem saber. 

É uma população abandonada, em que a grande maioria é autônoma, reciclador, é mãe solo que trabalha em três, quatro empregos para tentar manter as crianças, fazendo faxina. É mãe autônoma que perdeu o emprego, mãe que o relacionamento se danificou e que acabou ficando solo no meio da pandemia porque não aguentou as agressões.

Há ainda problemas na educação, na cultura Por exemplo, estamos numa luta enorme para fazer o Centro Cultural, porque queremos cultura, esporte, lazer. Lutamos para que nossos filhos não virem estatística no futuro. Porque se a gente não tiver nada melhor para oferecer, nada melhor do que o Estado oferece, que é a precarização total, o que vai ser do futuro final dessas crianças? O que nós esperamos desses adultos, tanto homens e mulheres? Porque os homens periféricos quando aparecem no jornal tem essa questão “os homens periféricos mataram..., mas não se nota onde essa construção saiu errada. Porque não tinha nada a oferecer naquele território a não ser miséria, pobreza, precariedade. Não tinha nada além disso, não tinha educação, saúde, lazer.

É isso que o poder público faz, ele nos obriga a viver sem ter nenhum direito, e no futuro são os primeiros a botarem o dedo na cara dos nossos filhos dizendo que são bandidos de má índole. As oportunidades não são as mesmas, e se não lutarmos três vezes para conseguir emprego,  formar um filho no ensino médio, não conseguimos.

No currículo eles avaliam a distância da tua casa para o serviço, de que área tu vem, se não é considerado um território perigoso. Tu não mora naquele lugar porque tu quer, tu mora naquele lugar porque foi a única opção que tu teve. E o poder público te mantém nessa precarização porque quer manter o povo periférico em uma imagem marginalizada. 

BdFRS - Na pandemia, as mulheres ficaram ainda mais vulneráveis e são maioria entre os desempregados. Nas comunidades periféricas como ela atinge as mulheres, em especial as mães?

Letícia - As mulheres foram atingidas pela covid de inúmeras maneiras, por não termos nenhum acolhimento. Hoje o coletivo faz um acolhimento de saúde mental, onde direcionamos para a clínica feminista da UFRGS, que é um outro projeto. Mas fora esse auxílio eu não me lembro de ter um programa que traga saúde mental, emocional para o povo periférico, para mulher periférica, não tem porque fica muito tempo esperando, e acaba desistindo. Ou então eles mandam para psiquiatria. Então a pandemia começa nos agredindo psicologicamente. 

Agride financeiramente porque já se vive em um território precário. Então nossa luta é para ter o mínimo do mínimo, e no meio da pandemia tu perde essa possibilidade de manter o teu mínimo 

Nos agride na educação, porque entra essa questão de aula em EAD para quem tem acesso à internet. Algumas das nossas comunidades não têm acesso nem à água, quem dirá internet. Ela nos agride tirando a educação dos nossos filhos. Tirando a nossa educação porque como eu por exemplo, também sou estudante, e é uma luta conseguir manter internet, que é algo que não está nos teus planos. Mas tu te obriga a pagar para garantir o acesso ao ensino. O EAD é exclusão. 

Nos agride em questão de isolamento, porque quando positiva um na família, provavelmente vai positivar toda a família em função de serem casas minúsculas. Nos agride na coleta de lixo porque não tem a coleta, em algumas situações nós fizemos mutirão de limpeza.

Nos agride com os relacionamentos abusivos, com inúmeros tipos de agressões, desde a agressão financeira até a sexual. Nos agride em nos manter sem acesso aos nossos direitos às políticas públicas. Nos agride de muitas maneiras, nos agride principalmente na saúde de modo geral. Porque um paciente com covid obviamente vai precisar desse tratamento, vai precisar de um SUS que não esteja abarrotado,  que não tenha profissionais que estejam saturados, que estejam recebendo, sendo acolhidos também, e não é a realidade. O SUS vive na linha do sufoco, os profissionais pior ainda, sem remuneração, sem reconhecimento, sem respeito. 

A pandemia nos agride de uma maneira mais brutal do que imaginávamos. Nos agride na alimentação básica, com aumento no custo da alimentação, do arroz e feijão, por exemplo, hoje se paga R$ 6,00 o kg do arroz. Nos agride de muitas maneiras. 


A pandemia nos agride na alimentação básica, com aumento no custo da alimentação, do arroz e feijão, por exemplo, hoje se paga R$ 6,00 o kg do arroz. / Arquivo Pessoal

BdFRS - Que impactos a crise econômica trouxe para a sustentação dessas mulheres?

Letícia - O coronavírus chegou na periferia para dar um plus a mais e piorar uma situação que já era difícil, de se manter e ter uma vida muito básica dentro de um território periférico. O coronavírus veio e disse “agora eu vou piorar muito mais essa situação”. Porque agora além da falta das políticas públicas, temos o vírus, que tem uma facilidade monstruosa de se propagar. Basicamente é isso, o coronavírus chegou para ferrar uma situação que já estava muito ruim dentro dos territórios. 

E na maioria dos casos iniciais de coronavírus dentro das periferias se deram por contaminação cruzada dos patrões que viajaram para o exterior e trouxeram o coronavírus e contaminaram os funcionários. Não tiveram sensibilidade com o funcionário periférico. A empregada também tem família, também tem alguém para amar, não tiveram essa consciência. Fato que deveria, no mínimo, gerar uma indenização à família que perdeu essa pessoa em função da contaminação cruzada consciente, porque se tu sabe que tem o vírus e tu não dispensa esse funcionário, tu coloca a vida desse funcionário em risco. 

Mas não foi assim que o poder público, que os governantes encararam essas contaminações, viram como se fosse algo da pandemia.  Como tu vai se manter para fazer isolamento social se não tem o que comer,  não tem um quarto com ar condicionado para ficar. Se a tua realidade é muito mais dura do que a realidade dos teus patrões. 

O coronavírus, além da precarização ter ficado maior, trouxe desumanamente a morte para dentro das casas, é muito triste ver famílias inteiras positivando. 

As mulheres que trabalham em casa, que muitas vezes ouvem 'essa mulher não faz nada em casa’ fica lá 10 horas, limpando, lavando, cozinhando, cuidando de filho, mercado para ver o qual absurdo é esse esforço e essa correria

BdFRS - Como ajudar a tirar essas mulheres da invisibilidade?

Letícia - A primeira ideia, para tentar diminuir o impacto da crise na vida das mulheres, foi realizarmos as oficinas de conhecimento, que ensinavam, por exemplo, como fazer consertos, produzir sabão, entre outras. A partir das oficinas iniciamos o projeto Mulheres Empreendedoras. Temos uma equipe de mulheres que fabricam o sabão e distribui para diversos pontos dentro da periferia. Essa mulher que recebe o sabão o vende e ganha 25% de comissão. 

A ideia  é gerar autonomia para as mulheres e para a comunidade, reduzindo a precarização. A partir do momento que tu está produzindo  e vendendo, tu consegue estar te empoderando, desvinculando de relacionamento abusivo por questão financeira. Também  proporcionando para os filhos uma melhor qualidade de vida. Isso vai fazer com que toda comunidade se desenvolva. Sem falar que no caso do nosso o sabão é feito com óleo usado, o que resulta em um baixo custo de investimento, o que torna mais acessível. Além disso, não compramos embalagens porque fazemos ele em barra e também líquido, onde usamos garrafas pets. Dessa forma acenamos para as pessoas que precisamos estar cuidando do meio ambiente, nos organizando para ter um ar mais puro.

Esse trabalho todo tem uma base muito importante,  de tentar dar um resguardo para essas mulheres e também  apoio ao meio ambiente, manter nossa comunidade limpa. Essa foi a nossa solução para tentar diminuir o impacto da crise.

BdFRS - Como tu vês a romantização do trabalho doméstico, de relacioná-lo a amor e não como trabalho não remunerado?

Letícia - Eu entendo que essa romantização parte dos homens para não ter a sua parcela de compromisso nas atividades, na sua parcela de compromisso na construção e educação dos filhos, e na sua parcela de compromisso em organizar e manter o seu lar. 

Entendo que  foi uma maneira que os homens inventaram de se proteger e de manter a desigualdade de gênero. Algo que sobrecarrega a mulher, onde nós realizamos muito mais que eles. Porque muitas vezes trabalhamos fora, estudamos, somos mães em horário integral, e ainda chegamos em casa e temos toda essa demanda. Eu vejo como algo desumano e um meio de proteção que os homens criaram, de como não arcar com esse compromisso. 

A romantização parte disso, não é nada romântico, é explorador, desumano, desnecessário. Enquanto uma família tem dois adultos na constituição, pai e mãe, obviamente tudo pode ser dividido em 50%. É uma maneira de manter a desigualdade e a nossa precarização de saúde mental também, porque essa sobrecarga desequilibra muito as mulheres.

E há as mulheres que trabalham em casa, que muitas vezes ouvem “essa mulher não faz nada em casa’ fica lá 10 horas, limpando, lavando, cozinhando, cuidando de filho, mercado, isso tudo para ver o quão absurdo é esse esforço e essa correria. E a não remuneração obviamente cabe no sentido de que a própria sociedade coloca isso como nossa obrigação, fazer por nós, por nossa família, enquanto a família de maneira coletiva tem que construir junto,  dividir as vitórias, mas também os problemas.

BdFRS - Na tua opinião, quais as soluções precisam ser adotadas para a crise do cuidado e das mulheres?

Letícia - Eu acredito que precisamos de mais vagas de empregos voltadas para mulheres, mais campo de conhecimento, cursos, oficinas que qualifiquem as nossas mulheres. Ter também a mesma remuneração que os homens nos cargos ocupados. visto que ainda existem diferença salarial,  com justificativas toscas. Precisamos de saúde de qualidade,  políticas públicas para as mulheres que sejam eficazes. Uma lei Maria da Penha com mais força, dinâmica. Diminuir o feminicídio.

Tem tanta coisa a ser modificada que vai dar um impacto enorme na nossa vida, na nossa sobrevivência nesse mundo que é constituído por uma estrutura machista, aonde nós somos constantemente agredidas desde o momento que viemos ao mundo. É a roupa, o cabelo, é nas universidades, no trabalho, em todos os campos possíveis a mulher está sendo agredida de alguma forma. 

E não é vitimismo, é uma realidade. Esses direitos que nos são negados, direitos básicos para a sobrevivência. Acho que todo esse contexto faz com que não tenhamos qualidade de vida. Há ainda o fato da mulher ainda ser muito sexualizada nos empregos, nos poucos espaços que conseguimos conquistar. Essa questão do estereótipo, da sexualização  tem que ser trabalhado, ter leis que punam essas posturas.


"As oportunidades não são as mesmas, e se a gente não lutar três vezes para conseguir emprego, para conseguir formar um filho no ensino médio, a gente não consegue" / Arquivo Pessoal

BdFRS - Um dos eixos da luta do mês das mulheres é "Pela Vida das Mulheres", que são, indiscutivelmente, as que mais estão sendo atingidas nesta pandemia, seja por comandarem a maioria das famílias, seja pela violência em casa ou institucional. Como esses temas se apresentam na vida das mães da periferia? 

Letícia - Eu costumo sempre dizer que o mês de março é um mês de reflexão, articulação, de lutar cada vez mais por essa aproximação entre as mulheres. No contexto da história fomos jogadas umas contra as outras por machismo institucional, o que nos colocou nessa disputa, rivalidade, para nos enfraquecer. 

Março é um mês para refletir tudo que nós construímos juntas até agora, tudo que nós podemos ainda construir. 

BdFRS - Na tua visão, como avançar na consciência coletiva da força feminina e na necessidade da unidade das mulheres para superar a desigualdade?

Letícia - A  unificação das mulheres é o único meio de sobrevivência, de vitória, de conquistar espaços através da luta. A coletividade sempre foi necessária, porém até isso nos tiraram. Nos tiram essa união a partir do momento em que a sociedade impõe uma mulher contra a outra e monta uma estratégia de nos distanciar. E com esse distanciamento nos enfraquece, porque uma mulher distante da outra não tem voz, tu não sabe o que está acontecendo dentro daquelas paredes, não sabe como está aquele coração, como está aquela cabeça. 

A solução é coletiva, e acredito que o Mães da Periferia é uma referência em união e coletividade, porque através dele outras mulheres periféricas entenderam que é o único meio de resolver as situações. O único meio de nos fortalecer e empoderar é estarmos juntas, lutando, nos ouvindo, nos entendendo, nos conhecendo, trocando experiências. Essa afetividade toda que nos empodera é que vai contribuir para uma sociedade melhor no futuro, porque somos nós que estamos à frente da nossas famílias. 

Mulheres unidas conseguem criar seus filhos com mais qualidade, tranquilidade, porque sabem que não estão sozinhas, que tem outras mulheres ali que vão  amparar. 


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Edição: Katia Marko