O Conselho Federal de Farmácia (CFF) divulgou nota na quinta-feira (18), alertando para o risco de faltar medicamentos essenciais para o tratamento e a manutenção da vida de pacientes em estado grave, seja com covid-19 ou outras doenças, como as autoimunes, tratadas com remédios que começam a ficar escassos devido à pandemia do coronavírus. Em diversos estados do país, hospitais públicos e privados, secretários estaduais e municipais de Saúde e a própria indústria farmacêutica alertam para o desabastecimento de bloqueadores neuromusculares, sedativos e outros remédios usados em terapia intensiva. O Conselho Federal de Farmácia cita, por exemplo, o midazolan, essencial para uma intubação “humanizada e segura”.
No Rio Grande do Sul, a perspectiva de faltar medicamentos vitais para cuidar dos pacientes com covid-19 tem assustado gestores de hospitais. Nesta sexta (19), a Secretaria Estadual da Saúde (SES) começou a distribuir 27.225 frascos de medicamentos do chamado kit intubação para 30 hospitais gaúchos que haviam relatado estoque crítico desses insumos. Os medicamentos atracúrio, etomidato e morfina são utilizados para realizar o procedimento de intubação para respiração mecânica de pacientes em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI).
No momento mais dramático da crise sanitária no RS, o aumento da demanda de pacientes em condições graves de covid-19 e a dificuldade de compra no mercado privado têm causado aflição nos gestores da rede de saúde. A SES informou que os remédios distribuídos não fazem parte da rotina de compra da Assistência Farmacêutica do Estado, mas diante das dificuldades relatadas pelas instituições hospitalares, o órgão fez a compra excepcional dos insumos para garantir a assistência aos pacientes de covid-19. Segundo o governo estadual, outros 35 mil medicamentos para essa finalidade foram entregues nesta semana.
Preços abusivos
Nos hospitais da Capital a situação não é muito diferente. O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), referência no tratamento da covid-19, informou ser difícil prever quantos dias o estoque durará. “Os estoques estão sendo monitorados diariamente através de um dashbord de controle onde evidenciamos o consumo dia a dia dos medicamentos, bem como os níveis de estoque. É difícil precisar quanto tempo duram os estoques em função da grande variabilidade, cada produto possui um tempo de estoque diferenciado, sendo que preconizamos pelo mínimo de 10 dias como estoque de segurança”, explicou.
A Santa Casa de Misericórdia diz ter, no momento, a condição mínima suficiente para tratar os pacientes internados na instituição. “Com relação aos estoques de insumos e medicamentos, a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre informa que, assim como todos os hospitais, está atenta à questão e neste momento dispõe de uma condição mínima necessária destes recursos, a fim de garantir o atendimento adequado aos seus pacientes. É uma situação dinâmica, avaliada permanentemente.”
O Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica (PUC) informa ter baixo estoque dos insumos de intubação, principalmente em relação a bloqueadores e sedativos, alguns já nos limites de escassez. O hospital explica que o monitoramento dos medicamentos e demais recursos imprescindíveis à assistência dos pacientes são feitos diariamente, com reuniões do comitê de crise junto com as equipes da linha de frente, suprimentos, compras e outras áreas de apoio.
“O alto consumo dos insumos nos preocupa. Diariamente são realizados estudos técnicos de análise de viabilidade das substituições de protocolos clínicos que, uma vez de acordo com a criticidade do quadro dos pacientes, são aplicadas para manejar os estoques e garantir, ao mesmo tempo, a eficácia do atendimento”, explica o Hospital São Lucas.
O valor dos insumos é outro fator de preocupação neste grave momento da pandemia no RS e no Brasil. O hospital afirma que tem enfrentado a cobrança de preços abusivos do mercado para a aquisição dos insumos, com média de aumento de 372% no mês de março em relação a dezembro de 2020. “No ano passado, em comparação com 2019, os aumentos superaram 3.000%. Além desta questão, as lideranças seguem observando um quadro de intensa exaustão nas equipes, debilitadas física e mentalmente pela pressão da chegada ininterrupta de pacientes”, informa.
Procurados pela reportagem, o Grupo Hospitalar Conceição (GHC) informa estar com o estoque em dia e o Hospital Moinhos de Vento declarou preferir não se pronunciar sobre o assunto.
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) diz que já há movimentos na Justiça em busca de esclarecimentos junto à indústria farmacêutica e distribuidoras sobre a majoração acelerada de preços. A SMS afirma não registrar ainda falta generalizada de medicamentos e destaca que a Prefeitura tem atuado na apuração da elevação dos preços dos insumos necessários para tratar os pacientes com covid-19.
Edição: Sul 21