Conforme a revista Veja, “(…) o Exército vai gastar R$ 730 mil em brindes e materiais para fotografia. (...) Só com bonecos de soldados em miniatura em forma de Rambo, serão gastos R$ 80 mil.”
Em nota enviada ao Metrópoles, o Ministério da Defesa negou a compra dos bonecos e dos outros produtos citados na reportagem. “Foi divulgado apenas o aviso da intenção de uma Ata de Registro de Preços, relacionada à aquisição destes produtos. Este aviso foi revogado menos de 24 horas após o seu lançamento, por iniciativa da própria unidade militar.”
O que nos parece importante ressaltar, vai além dos gastos absurdos do Exército brasileiro, em particular numa situação de pandemia, de necessidade de um auxílio emergencial decente para que a população possa suportar um lockdown para preservar as vidas, e da lentidão para a aplicação das vacinas. Só essa intenção seria suficiente para o bravo Exército nacional se esconder e se demitir em massa!
O fato de haver uma proposta de levantamento de preços, significa que havia intenção da compra, o que já demonstra uma inversão de prioridades entre o bem estar da população e a aquisição escandalosa de mimos aos componentes do Exército. Assim, surge a dúvida: houve algum levantamento de preços para livros didáticos, para jogos educativos, para compra de cestas básicas nas regiões colapsadas? Isso fala do projeto político do governo. O genocídio está em cada decisão que eles tomam. Não interessa ao governo que o povo pense e reflita, mas que consuma armas. Afinal, Bolsonaro se elegeu com o símbolo da arminha. Tudo isto já estava dado.
Esta é uma das questões que o episódio traz à luz. Há, porém, outra questão, que tende a não ser considerada nestes casos e que nos parece fundamental.
É necessário refletir sobre: por que Rambo?
Não é acidental que tenham escolhido esse personagem! O que ele simboliza? O que tem a ver com o que nós mulheres combatemos?
Como todas sabemos, Rambo, que aparentemente está fora de moda, é o símbolo da truculência, do imperialismo e do patriarcado. Rambo, veterano de guerra, é símbolo de um exército que na Guerra do Vietnã considerou o estupro como 'socialmente aceitável' e que encorajava seus jovens soldados a estuprar mulheres vietnamitas ou, como dito na época, revistar as mulheres com o pênis, como nos conta a escritora norte-americana Angela Davis em seu livro "Mulher, raça e classe".
Queria falar contigo, mulher trabalhadora de um país que tem sido tratado como colônia dos EUA, desde que deixou de ser colônia de Portugal: por um acaso já ouviu falar de “Corações e Mentes”, um filme de 1974, que ganhou o Oscar de Melhor Documentário em 1975?
Não? Não desejo para ninguém. Desmaiei ao sair do cinema.
Entre outras coisas, denuncia como o estupro foi utilizado como arma de Guerra, contra um povo que defendia sua soberania. E mais... como bebês foram utilizados como alvo pelos soldados, na busca de aterrorizar aquelas mulheres.
Em seu esforço permanente de recontar a história de um pequeno país que, com um povo gigante, derrotou todo um império, Hollywood nunca deixou de produzir – péssimos – filmes distorcendo o ocorrido. É aí que Rambo se insere.
A escolha de Rambo como ícone do Exército é mais uma agressão explícita às mulheres e representa uma óbvia orientação machista e imperialista embutida nesse símbolo. É uma afirmação da linha ideológica do governo Bolsonaro. Imaginem a reação da imprensa oficial se fizessem levantamento de preços de bonequinhos de Che Guevara, Spartacus, Lampião, Maria Bonita, Dandara, Zumbi?
É uma lógica de produção de mito, de mártir que esse país tem. Homens hetero, brancos e violentos, heróis do feminicídio! Do estímulo e execução de assassinatos das pessoas negras e lgbts. Sempre homens fazendo o papel mais clichê de masculinidade. Isso num país onde o feminicídio e a violência contra as mulheres só faz crescer. No mesmo país que demorou vergonhosas décadas para considerar inaceitável o argumento de um assassinato pela "defesa da honra".
Durante os primeiros meses da pandemia, por exemplo, o número de feminicídios cresceu entre 25 e 50% em capitais como Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro.
Nós mulheres, que lutamos contra o patriarcado, nos sentimos mais uma vez violadas e agredidas por esse governo! Sabíamos que esses criminosos tinham o projeto político de morte, mas parte da população votou neles. Agora, estão nos matando e parte da população continua reivindicando o direito à aglomeração!
Eles vão passo a passo. Testando a capacidade do povo brasileiro suportar o terror. Não vamos nos surpreender se mês que vem o Exército andar por aí com chaveirinhos de Rambo apesar de não terem a intenção de comprar...
O Estado opressor é um macho estuprador já nomeava a manifestação!
Clarisse Chiapinni – 8M-GIM
Maíra Freitas – 8M-GIM
mariam pessah – Sarau das minas | Porto Alegre
Zadi Zaro – Col. Feminista Outras Amélias | Mulheres Mulheres de Resistência e Luta
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko