Rio Grande do Sul

ONDE ISSO VAI PARAR?

Editorial | Faturar é preciso, viver não é preciso

"As charangas do bolsonarismo fazem barulho quando a linha dos óbitos e das infecções escala montanhas nos gráficos"

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Enquanto país passa pelo pior momento da pandemia, negacionistas saem às ruas para pedir o fim do isolamento social e das medidas para travar o desastre da pandemia - Divulgação

Como chegamos a esse ponto? É a pergunta que, diante de uma rajada de horrores, a gente repete a todo momento. O último espanto deu-se no domingo (14) em muitas capitais brasileiras, onde negacionistas da pandemia desfilaram em carreatas exigindo o fim das restrições ao comércio, a destituição dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal e, claro, a intervenção militar, algo que não poderia faltar nesse disco rachado do bolsonarismo.

Em Porto Alegre, o apocalipse zumbi motorizado promoveu um buzinaço ao passar pelo hospital Ernesto Dornelles, na avenida Ipiranga, com taxa de ocupação de 148% de leitos para covid-19. A palhaçada sinistra deu-se ao direito à aglomeração junto à sede do 3º Exército, na rua da Praia. Pediram ditadura também no hospital Centenário, de São Leopoldo, onde a lotação é de 113%. O Rio Grande do Sul está sob bandeira preta mas o que importa, não é mesmo?

Seis grupelhos de ultradireita fizeram pior em Maceió. Com seus carros trancaram o trânsito e impediram a vacinação de idosos. O ato foi concluído com um beija-botinas à frente do 59° Batalhão de Infantaria.

São Paulo, Rio de Janeiro, Belém e Brasília também tiveram manifestações com o mesmo teor, enfatizando a oposição ao isolamento social e as medidas postas em prática para travar a velocidade do desastre causado pelo coronavírus.

Três dias antes, Jair Bolsonaro dera a sinalização para os ataques. Em live, pediu ajuda a sua turba. “Como é que eu posso resolver a situação? Eu tenho que ter o apoio”. O apoio veio, embora com volume inferior ao esperado.

Todos sabemos que a pandemia trouxe ferozes dificuldades econômicas para a sociedade e que muitos pequenos comerciantes estão desesperados. No entanto, eles não saem à rua para pressionar Brasília a conceder um auxílio substancial que salve suas empresas e os ajude a atravessar a tempestade. Preferem atacar governadores e prefeitos instando-os a escancarar as portas do comércio e seja o que Deus quiser. Ou seja, parodiando Fernando Pessoa, “faturar é preciso, viver não é preciso”.

Refugiam-se em fake news e exaltam o embuste do “tratamento precoce” sem perceber que apenas a imunização massiva pode oferecer o retorno de alguma normalidade aos negócios. Em face da ruína, não cobram a inépcia criminosa do governo federal ao deixar de encomendar as vacinas, tornando o Brasil o epicentro mundial da pandemia e um berçário de novas e mais ameaçadoras variantes do vírus. 

A que podemos atribuir a promoção das carreatas da morte? A oposição Esquerda x Direita parece ser insuficiente para abordar o quadro atual de desvario. Pessoas ao centro e mesmo à direita do espectro ideológico condenam também a loucura. Caberia mais, talvez, o confronto entre Racionalidade x Irracionalidade ou entre Empatia x Egoísmo.

As charangas do bolsonarismo fazem barulho quando a linha dos óbitos e das infecções escala montanhas nos gráficos, o Brasil está atingindo 280 mil mortes e todos perguntamos: onde isso vai parar?

Ninguém sabe. Só sabemos que será um número brutal e uma dor eterna. O que sabemos - e sabemos muito bem – é onde tudo começou. Começou em 2016 quando as instituições iniciaram seu processo de depravação ao coonestarem um impeachment tabajara, afastando uma presidenta honesta para saciar a gula de um impostor. Seguiu-se a ruína moral do seu governicho e da velha direita que articulou o golpe. Só então chegamos a 2018. Desde então, empoderados, os esgotos começaram a ditar os rumos do país. O que vivemos agora é o fruto apodrecido daquela semente imunda lançada cinco anos atrás.


:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato RS no seu Whatsapp ::

SEJA UM AMIGO DO BRASIL DE FATO RS

Você já percebeu que o Brasil de Fato RS disponibiliza todas as notícias gratuitamente? Não cobramos nenhum tipo de assinatura de nossos leitores, pois compreendemos que a democratização dos meios de comunicação é fundamental para uma sociedade mais justa.

Precisamos do seu apoio para seguir adiante com o debate de ideias, clique aqui e contribua.

Edição: Ayrton Centeno